10 fevereiro 2010

Do princípio da incerteza ao fim da escuta

O falatório sobre as socráticas escutas do Face Oculta virou acontecimento nacional e o caso não é para menos: haverá ou não indícios da prática de crime de atentado contra o Estado de Direito? A pergunta pode não ser retórica, mas é desta que a resposta já não pode fugir. E ao ritmo a que a polémica segue, cada dia parece trazer uma nova achega ou opinião.

Hoje, por exemplo, o manda-chuva da Portugal Telecom, Henrique Granadeiro, diz ao Diário Económico que não vê razão para envolver o Dr. Rui Pedro Soares (Administrador da Portugal Telecom) na questão da TVI. E que ele é que é o presidente da coisa ou, nas suas humildes palavras, "O responsável pela relação com o Estado - que é o detentor da ‘golden share' - sou eu", e a ele, garante-nos, o accionista Estado não lhe deu instruções para comprar a TVI. E disse.

Mas não foi a defesa de um "homem da casa" que mais me impressionou nas declarações de Henrique Granadeiro ao Diário Económico. O que achei verdadeiramente tocante foi a confissão desta dúvida que, até à data, não me lembro de que mais alguém a tivesse invocado:

"Não me posso pronunciar sobre a novela das escutas, porque não sei, nem tenho de saber, se são verdadeiras (...)"

Não sei, nem tenho de saber, se são verdadeiras - atira Granadeiro. Como o compreendo. Tanto compreendo que, se a mesma dúvida me assaltasse, ao "Não sei, nem tenho de saber se são verdadeiras" haveria de acrescentar: "e ainda que soubesse sempre poderia ter-me enganado". Não fosse o diabo tecê-las. O diabo do Governo, por exemplo.