05 julho 2003

Excertos de um livro não anunciado (1)

O estudo da persuasão pressupõe uma viagem pelos territórios teóricos que a sustentam: a retórica, a argumentação e a sedução. A retórica, porque originariamente concebida como a faculdade de considerar para cada caso o que pode ser mais convincente (1); a argumentação, na medida em que visa provocar ou aumentar a adesão de um auditório às teses que se apresentam ao seu assentimento (2) e, finalmente, a sedução, porque a resposta do auditório pode também nascer dos efeitos de estilo, que produzem sentimentos de prazer ou de adesão (3). É este contexto teórico de solidária vizinhança e interdependência funcional que Roland Barthes alarga ainda mais quando propõe que a retórica deve ser sempre lida no jogo estrutural das suas vizinhas (Gramática, Lógica, Poética, Filosofia). O mesmo se diga de Chaim Perelman ao defender que, para bem situar e definir a retórica, é igualmente necessário precisar as suas relações com a Dialéctica (4). Já se antevê por isso a extrema dificuldade que aguarda quem ouse meter ombros a uma rigorosa delimitação de fronteiras entre os diferentes domínios teóricos presentes num processo de comunicação persuasiva. Mas se, desde Aristóteles, a retórica tem por objectivo produzir em alguém uma crença firme que leve à anuência da vontade e correspondente acção, então, no âmbito deste estudo, fará todo o sentido admitir uma aproximação conceptual entre a retórica e a persuasão. (...)

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(1) Aristóteles, Retórica, Madrid: Alianza Editorial, 1998, p. 52
(2) Perelman, C., O Império Retórico, Porto: Edições ASA, 1993, p. 29
(3) Meyer, M., Questões de Retórica: Linguagem, Razão e Sedução, Lisboa: Edições 70, 1998, p. 20
(4) Cit. in Perelman, C., O Império Retórico, Porto: Edições ASA, 1993, p. 21