A polémica: vencer ou convencer?
1.
Sabe-se como toda a prática retórica começa com uma questão (ou problema) a que se torna imperioso responder. No caso da polémica em curso entre Pedro Mexia (PM), do Dicionário do Diabo e Carlos Vaz Marques (CVM), do Outro, Eu, a questão inicial está perfeitamente isolada: o PM “baptizou” a TSF de “incrivelmente esquerdista” e o CVM, que não está nada de acordo, pede-lhe que se justifique, que apresente exemplos do afirmado.
2.
No que respeita ao desenvolvimento da respectiva argumentação, talvez possa dizer-se que “a procissão ainda vai no adro”. Mas, entretanto, Pedro Mexia já adiantou os nomes de três directores e cinco comentadores da TSF que considera conotados com a esquerda, dando ainda como exemplos da influência esquerdista o programa Forum e a recente cobertura na guerra do Iraque.
3.
CVM, porém, não fica convencido. E além de contestar o esquerdismo do Forum e da cobertura da guerra do Iraque, desafia PM a apresentar um único caso em que a direcção da estação alguma vez tenha dado qualquer directriz de natureza político-ideológica. Faz também notar que apesar de se ter reportado apenas à parte dos comentários (e não à das notícias), PM, ainda assim, terá ignorado todos os comentaristas da TSF pertencentes a quadrantes político-ideológicos que nada têm a ver com a esquerda.
4.
Não pretendo (nem devo) pronunciar-me sobre o mérito dos diferentes argumentos em confronto. Mas a julgar pelo vivo contraditório que já se instalou, talvez valha a pena - lá mais para diante – fazer uma breve análise das diferentes estratégias retóricas a que recorreram ambos os intervenientes e, sobretudo, tentar ilustrar com algumas passagens deste debate, o perigo potencial que paira sobre todo e qualquer processo de argumentação: o de se passar da retórica crítica para a retórica erística.
5.
Mas de onde vem esse perigo? Esse perigo vem, a meu ver, do nosso tão comum esquecimento de que, do ponto de vista retórico, nenhuma afirmação pode ser imposta (ainda que bem fundada). Porque sobre o que é evidente ou axiomático não se discute. Logo, tentar persuadir o interlocutor, convencê-lo das nossas razões é tudo aquilo a que dialecticamente podemos aspirar. Sempre na procura da melhor solução consensual possível (retórica crítica). E nunca com o único objectivo de vergar o adversário ao peso dos nossos argumentos, numa palavra, de o vencer (retórica erística).
Sabe-se como toda a prática retórica começa com uma questão (ou problema) a que se torna imperioso responder. No caso da polémica em curso entre Pedro Mexia (PM), do Dicionário do Diabo e Carlos Vaz Marques (CVM), do Outro, Eu, a questão inicial está perfeitamente isolada: o PM “baptizou” a TSF de “incrivelmente esquerdista” e o CVM, que não está nada de acordo, pede-lhe que se justifique, que apresente exemplos do afirmado.
2.
No que respeita ao desenvolvimento da respectiva argumentação, talvez possa dizer-se que “a procissão ainda vai no adro”. Mas, entretanto, Pedro Mexia já adiantou os nomes de três directores e cinco comentadores da TSF que considera conotados com a esquerda, dando ainda como exemplos da influência esquerdista o programa Forum e a recente cobertura na guerra do Iraque.
3.
CVM, porém, não fica convencido. E além de contestar o esquerdismo do Forum e da cobertura da guerra do Iraque, desafia PM a apresentar um único caso em que a direcção da estação alguma vez tenha dado qualquer directriz de natureza político-ideológica. Faz também notar que apesar de se ter reportado apenas à parte dos comentários (e não à das notícias), PM, ainda assim, terá ignorado todos os comentaristas da TSF pertencentes a quadrantes político-ideológicos que nada têm a ver com a esquerda.
4.
Não pretendo (nem devo) pronunciar-me sobre o mérito dos diferentes argumentos em confronto. Mas a julgar pelo vivo contraditório que já se instalou, talvez valha a pena - lá mais para diante – fazer uma breve análise das diferentes estratégias retóricas a que recorreram ambos os intervenientes e, sobretudo, tentar ilustrar com algumas passagens deste debate, o perigo potencial que paira sobre todo e qualquer processo de argumentação: o de se passar da retórica crítica para a retórica erística.
5.
Mas de onde vem esse perigo? Esse perigo vem, a meu ver, do nosso tão comum esquecimento de que, do ponto de vista retórico, nenhuma afirmação pode ser imposta (ainda que bem fundada). Porque sobre o que é evidente ou axiomático não se discute. Logo, tentar persuadir o interlocutor, convencê-lo das nossas razões é tudo aquilo a que dialecticamente podemos aspirar. Sempre na procura da melhor solução consensual possível (retórica crítica). E nunca com o único objectivo de vergar o adversário ao peso dos nossos argumentos, numa palavra, de o vencer (retórica erística).
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