31 dezembro 2003

Excertos de um livro não anunciado (162)

(...) Neste sentido, é perfeitamente compreensível a advertência de Perelman: “Em vez de se crer na existência de um auditório universal, análogo ao do espírito divino que tem de dar o seu consentimento à ‘verdade’, poder-se-ia, com mais razão, caracterizar cada orador pela imagem que ele próprio forma do auditório universal que busca conquistar para as suas opiniões. O auditório universal é constituído por cada qual a partir do que sabe de seus semelhantes...” *. Mas daqui não decorre que seja convincente toda a argumentação que obedeça ao que cada uma das pessoas, num dado auditório, entenda como real, verdadeiro e objectivamente válido (de resto, tarefa impossível), e sim, a argumentação em que o orador crê que “todos os que compreenderem suas razões terão de aderir às suas conclusões” ** (...)

* 29 Perelman, C. e Olbrechts-Tyteca , L., (1999), Tratado da Argumentação, S. Paulo: Martins Fontes, p. 37
** Ibidem, p. 35