04 março 2005

Malditos sejam

quem descortine uma estreita ligação entre a escolha de Freitas do Amaral para ministro dos negócios estrangeiros e o apoio político-eleitoral que o escolhido deu a Sócrates. Mas é preciso ser muito maldoso para suspeitar, sequer, de uma coisa dessas. Por mim, que sou a bondade em pessoa, estou convencido que o Prof. Freitas do Amaral manifestou o seu apoio ao Partido Socialista de forma absolutamente desinteressada.

Quem sabe até se com esta "cambalhota ideológica" não quis pôr um ponto final na sua carreira política? Sabe-se como, noutras circunstâncias, entrar em tão frontal contradição com o que foi o ideário de uma vida pode acarretar a total perda de credibilidade. Basta imaginar como passaria a ser encarado Mário Soares se, nestas mesmas eleições, tivesse publicamente declarado o seu apoio à democracia-cristã.

Estou por isso convencido que, quaisquer que tenham sido as suas mais íntimas motivações, Freitas agiu por imperativo de consciência, sem qualquer expectativa de vir a colher dividendos políticos. E muito menos terá representado a menor possibilidade de integrar um governo do PS. Sócrates é que não percebeu a pureza das suas intenções e nomeou-o ministro. Sem jogadas de poder, sem trocas de favor, sem prévia combinação. A escolha do "socialista" Freitas do Amaral não terá passado, pois, de uma infeliz coincidência que só abre a porta à maldosa especulação. Dos jornalistas. Dos comentadores. Dos cidadãos. Do país, afinal. Malditos sejam.