26 julho 2005

Declarações de desagravo

Nunca sei o que pensar quando leio em diferentes jornais este tipo de declarações mais ou menos solenes e com grande destaque:

O indivíduo X declara que quando acusou o indivíduo Y de corrupção, não teve a intenção de ferir a sua honra pelo que pede desculpas se com as suas palavras deu azo a erradas interpretações.

Percebe-se a lógica do ofensor: opta pela "cambalhota declarativa" para não ter que responder em tribunal. Mas do lado do ofendido, o que o fará contentar-se com uma declaração destas quando, como se sabe, a retirada de uma acusação pública nunca dissipa, por si só, toda a carga de insinuação que lhe está associada? Há, pelo menos, duas hipóteses:

Numa primeira hipótese, a aceitação da declaração sugere algum comprometimento do ofendido. Temendo que venha a lume qualquer facto da sua vida que o incrime, não apresenta queixa formal contra o ofensor e contenta-se com a declaraçãozita que é assim como que uma forma expedita de "salvar a face" sem levantar muita "poeira". Há a tal questao da insinuação que permanece, isso é verdade, mas também não é a poeira da insinuação que preocupa quem já estiver enlameado .

Numa segunda hipótese, o ofendido é a generosidade em pessoa e a sua capacidade de perdoar não tem limites. Nesse caso, teria sido melhor opção dispensar a respectiva declaração. Assim, livra-se da acusação mas não se livra da fama.