O excesso de crença
(...) o ressurgimento da religião não suscitaria nenhuma preocupação política, não fosse ele acompanhado de um fenómeno de radicalização e de fundamentalismo (...) (V. M.)
Este trecho do oportuníssimo post Pos-Secularismo, de Vital Moreira, traz-me à memória a forma como Gustave Le Bon descreve o sentimento religioso (que, segundo ele, estará na base das convicções das massas):
Este sentimento [religioso] tem características muito simples: adoração de um ser supostamente superior, crença no poder que se lhe atribui, submissão cega aos seus mandamentos, impossibilidade de discutir os seus dogmas, desejo de os difundir, tendência para considerar como inimigos todos aqueles que recusem aceitá-los. A aplicação de um tal sentimento a um Deus invisível, a um ídolo de pedra, a um herói ou a uma ideia política nunca deixa de ter essência religiosa. O sobrenatural e o miraculoso também aí se encontram. Para as massas, a fórmula política ou o chefe vitorioso que os fanatiza assumem momentaneamente um mesmo poder misterioso.
Mas nada de leituras apressadas pois, ao contrário do que parece, Le Bon não está aqui a atacar as religiões, nem a religiosidade, mas antes, a chamar a atenção para o perigo a que o "excesso de crença" numa particular maneira de encarar o mundo e vida nos pode conduzir. É que, para Gustave le Bon (*),
"não se é religioso somente quando se adora uma divindade, mas também quando se colocam todos os recursos da mente, todas as submissões da vontade, todos os ardores do fanatismo ao serviço de uma causa ou de um ser que se tornou objectivo e o guia dos sentimentos e das acções.
Nenhuma dúvida subsiste, portanto, de que Le Bon tem em mente tanto os abusos que se praticam em nome da fé, como os que se praticam em nome da razão. Por isso afirma que a intolerância e o fanatismo "são inevitáveis junto daqueles que crêem possuir o segredo da felicidade terrestre ou eterna". Quem ousa discordar? Eu, passo...
(*) Le Bon, Gustave, (2005), Psicologia das Massas, Lisboa: Ésquilo, pp. 79-80
Este trecho do oportuníssimo post Pos-Secularismo, de Vital Moreira, traz-me à memória a forma como Gustave Le Bon descreve o sentimento religioso (que, segundo ele, estará na base das convicções das massas):
Este sentimento [religioso] tem características muito simples: adoração de um ser supostamente superior, crença no poder que se lhe atribui, submissão cega aos seus mandamentos, impossibilidade de discutir os seus dogmas, desejo de os difundir, tendência para considerar como inimigos todos aqueles que recusem aceitá-los. A aplicação de um tal sentimento a um Deus invisível, a um ídolo de pedra, a um herói ou a uma ideia política nunca deixa de ter essência religiosa. O sobrenatural e o miraculoso também aí se encontram. Para as massas, a fórmula política ou o chefe vitorioso que os fanatiza assumem momentaneamente um mesmo poder misterioso.
Mas nada de leituras apressadas pois, ao contrário do que parece, Le Bon não está aqui a atacar as religiões, nem a religiosidade, mas antes, a chamar a atenção para o perigo a que o "excesso de crença" numa particular maneira de encarar o mundo e vida nos pode conduzir. É que, para Gustave le Bon (*),
"não se é religioso somente quando se adora uma divindade, mas também quando se colocam todos os recursos da mente, todas as submissões da vontade, todos os ardores do fanatismo ao serviço de uma causa ou de um ser que se tornou objectivo e o guia dos sentimentos e das acções.
Nenhuma dúvida subsiste, portanto, de que Le Bon tem em mente tanto os abusos que se praticam em nome da fé, como os que se praticam em nome da razão. Por isso afirma que a intolerância e o fanatismo "são inevitáveis junto daqueles que crêem possuir o segredo da felicidade terrestre ou eterna". Quem ousa discordar? Eu, passo...
(*) Le Bon, Gustave, (2005), Psicologia das Massas, Lisboa: Ésquilo, pp. 79-80
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