29 novembro 2005

Excerto de um livro não anunciado (268)

Como assinala Castilla del Pino (*), para que estejamos perante uma mentira é necessário que quem fala, preencha as seguintes condições:

a) Ter consciência do que é o certo
b) Ter consciência de que não é o certo que diz
c) Ter a intenção de enganar
d) Ter a intenção de ser considerado sincero


Como se pode ver, as três primeiras condições configuram uma situação de má-fé perante o interlocutor, na medida em que o sujeito que fala tem consciência de que não diz a verdade e ainda assim, fá-lo, porque deliberadamente pretende enganar aquele a quem se dirige. Note-se que, ao contrário do que pode parecer, as duas primeiras condições são por si só insuficientes para que se possa caracterizar uma situação de má-fé. Basta pensar no caso do professor que enuncia aos seus alunos uma solução falsa (apesar de conhecer a verdadeira) com o único propósito de testar o saber dos seus alunos ou neles estimular o espírito de descoberta, na resolução de um dado problema. Logo, apenas a intenção de enganar torna a acção de dizer o falso, inequivocamente censurável.

(*) Castilla del Pino, "Los discursos de la mentira", in Castilla del Pino, C. (Org.), (1998), El discurso de la mentira, Madrid: Alianza Editorial, p. 164