30 dezembro 2005

Ponto para o Governo (e para Freitas do Amaral)

Sei que não é a melhor altura para falar bem do Governo, ainda por cima, a propósito de um acontecimento que saiu da agenda mediática tão rapidamente como entrou. Mas tem que ser, pois é justo que o faça. Refiro-me àquelas acusações que Freitas do Amaral fez, há cerca de um mês, à presidência britânica da UE e que, para falar muito francamente, me pareceram na altura bastante inoportunas, excessivas e até injustas.

Inoportunas, devido à fase de impasse negocial em ocorreram; excessivas, pela agressiva tonalidade da afronta; e injustas, porque dirigidas apenas ao Reino Unido quando, como bem salientou
Pacheco Pereira, dois são os responsáveis por tal impasse: "o Reino Unido, que se recusa a abandonar o privilégio do ‘cheque britânico’, e a França, que deseja a continuidade da PAC no centro das políticas europeias, defendendo uma Europa agrícola subsidiada" (*). Pacheco Pereira estava mesmo convencido que as declarações de Freitas do Amaral iriam prejudicar Portugal (**). Devo confessar que eu também.

Felizmente que nos enganámos os dois. E é bem provável que se tenham enganado muitos mais. Por vezes, só quem está por dentro do segredo das coisas tem condições para acertar na melhor decisão. Mas o que verdadeiramente agora interessa é que se o acordo alcançado não significa uma grande vitória para Portugal, tem pelo menos a vantagem de salvaguardar os seus legítimos interesses, que era precisamente o que estava em causa. Logo, justo é reconhecer que Freitas do Amaral não se enganou e o Governo também não. Estão os dois de parabéns. Porque o melhor governo é o que governa bem.


(*) in Público, 24 Novembro 2005
(**) “As declarações de Freitas do Amaral vão pesar nas negociações e estou convicto que prejudicarão Portugal” (Público, 24 Novembro 2005)