O princípio da honestidade jornalística
e claro que o jornalismo pode ser manipulador na dupla acepção do termo. aliás é sempre, também, distorção. porque fazer jornalismo é construir uma visão a partir de parcelas. parcelas de observação, directa ou não, parcelas de discurso de outros (e a parcela que se escolhe implica sempre o silenciamento das outras), parcelas de informação pré-existente. é na honestidade colocada na construção dessa visão que reside a distinção entre a distorção 'benigna' e a outra.
Fernanda Câncio, Glória Fácil, 26 Maio 2006
A favor:
Sim, jornalismo não é apenas o relato dos puros factos, é também o “construir de um visão” a partir do que observa e/ou recolhe (sem que daí forçosamente resulte uma conclusão subjectivista-relativista do género do “tudo é subjectivo” ou “tudo vale o mesmo”).
Contra:
Não, não é a honestidade do jornalista que opera ou garante a “distinção entre a distorção ‘benigna’ e a outra”. Um mau jornalista pode perfeitamente ser um jornalista honesto. Um jornalista desonesto nunca seria um bom jornalista. Sendo que, do ponto de vista do interesse do leitor, é muito mais importante a objectividade do jornalista do que a sua honestidade. Já me explico. A falta de objectividade jornalística é, por inerência, do domínio do visível, logo, facilmente denunciável. Basta atentar se aquilo que o jornalista diz é ou não passível de verificação, quer ao nível dos factos, quer ao nível do raciocínio seguido. Já a eventual desonestidade afirma-se como propósito interno e dissimulado. Dependendo, embora, da competência performativa do seu “autor-actor” ela é, regra geral, indetectável, ao menos, naquela primeira leitura que não raras vezes acaba por ser também a única. É por isso que, para o leitor, é tão importante conhecer os factos como ficar a par das circunstâncias e das regras que ditaram o seu jornalístico apuramento. A honestidade do jornalista é uma exigência ética que funciona ou deveria funcionar, digamos assim, como pré-condição do seu exercício profissional. Mas só há jornalismo, propriamente dito, a partir daí. Porque a honestidade jornalística é um princípio. Não um fim.
Fernanda Câncio, Glória Fácil, 26 Maio 2006
A favor:
Sim, jornalismo não é apenas o relato dos puros factos, é também o “construir de um visão” a partir do que observa e/ou recolhe (sem que daí forçosamente resulte uma conclusão subjectivista-relativista do género do “tudo é subjectivo” ou “tudo vale o mesmo”).
Contra:
Não, não é a honestidade do jornalista que opera ou garante a “distinção entre a distorção ‘benigna’ e a outra”. Um mau jornalista pode perfeitamente ser um jornalista honesto. Um jornalista desonesto nunca seria um bom jornalista. Sendo que, do ponto de vista do interesse do leitor, é muito mais importante a objectividade do jornalista do que a sua honestidade. Já me explico. A falta de objectividade jornalística é, por inerência, do domínio do visível, logo, facilmente denunciável. Basta atentar se aquilo que o jornalista diz é ou não passível de verificação, quer ao nível dos factos, quer ao nível do raciocínio seguido. Já a eventual desonestidade afirma-se como propósito interno e dissimulado. Dependendo, embora, da competência performativa do seu “autor-actor” ela é, regra geral, indetectável, ao menos, naquela primeira leitura que não raras vezes acaba por ser também a única. É por isso que, para o leitor, é tão importante conhecer os factos como ficar a par das circunstâncias e das regras que ditaram o seu jornalístico apuramento. A honestidade do jornalista é uma exigência ética que funciona ou deveria funcionar, digamos assim, como pré-condição do seu exercício profissional. Mas só há jornalismo, propriamente dito, a partir daí. Porque a honestidade jornalística é um princípio. Não um fim.
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