09 julho 2006

Ministério da vaidade

Esta (*) notícia surpreendeu-me. Primeiro, porque, se não me engano, em mais de 30 anos democráticos, é a primeira vez que alguém confessa ter ido para ministro por vaidade e sedução de poder. Depois, porque quando está em jogo o interesse nacional, a decisão de aceitar um importante cargo político não pode nem deve ficar à mercê de motivação tão egoísta. Merecida é, por isso, a ironia cortante do rótulo: “Contributo para aumentar a credibilidade dos políticos”.

O ex-ministro era (é) vaidoso? Sentia (sente) uma particular atracção pelo exercício do poder? Tinha (tem) uma especial necessidade de reconhecimento público? Que fosse, que sentisse, que tivesse. Não viria daí algum mal ao mundo. Até um certo grau de afirmação, cada uma dessas características pessoais podem não só influenciar positivamente o desempenho político do indigitado ministro como realçar até a sua “humanidade”. O problema é outro e dá-se a ver quando percebemos que tais características pessoais terão sido o centro motivacional do ex-ministro ou, dito de outro modo, as principais razões porque aceitou o cargo de Ministro das Finanças. É isso que me parece intolerável. E é também isso que, a meu ver, justifica plenamente a ironia do Pedro Fonseca.

Quanto à confissão/revelação de Bagão Félix é, naturalmente, de aplaudir. E mais de aplaudir seria, ainda, se tivesse sido feita há muito mais tempo. Mas aí, claro, teria sido necessário juntar ao desejo de contar toda a verdade, também a coragem de arriscar o lugar. E nos tempos que correm, sou o primeiro a reconhecer que já ninguém espera tanto de ninguém.


(*) dica do ContraFactos & Argumentos