O dito silêncio
O nosso mui erudito Paulo Cunha Porto, de viagem pela antiga Atenas, trouxe-nos uma lembrança deste saboroso episódio em que Zenão, à pergunta sobre o que dele deveria ser contado a estrangeiro Soberano, terá respondido: «Nada, a não ser que encontraste um homem que sabia calar-se».
O dito, que reconheça-se, é digno de figurar em qualquer manual de retórica ou de pragmática da comunicação, terá servido a Zenão para comunicar muito mais do que literalmente disse. É óbvio que o filósofo não quer apenas dar a conhecer a sua particular aptidão ou saber (o saber calar-se). Quererá, sobretudo, distinguir-se da “tagarelice” dos restantes sábios, expressar a opinião de que nada haveria a dizer (o que em muito difere do mero saber calar-se), ou exibir alguma (porventura falsa) humildade. Pode até pretender, muito simplesmente, afrontar o Soberano. Só o exacto conhecimento do pano de fundo contextual nos permitiria aproximar da sua real intenção.
Seja com for – e como o Paulo muito bem desde logo anuncia - trata-se aqui de um silêncio infringido, que, nessa medida, se reconduz a falso silêncio. Porque o silêncio não se anuncia. E o calar-se, todo o calar, é sempre antecedido de alguma fala. O silêncio de Zenão é, por isso, um silêncio depois da fala e não antes. Um silêncio falado ou mal dito. Quando o verdadeiro silêncio, é mudo e mudo tudo diz, nada falando. Saber calar-se, é então outra coisa: é reconhecer o excesso de verbo. E dizê-lo? Ah... dizê-lo é já não querer o que se quis.
O dito, que reconheça-se, é digno de figurar em qualquer manual de retórica ou de pragmática da comunicação, terá servido a Zenão para comunicar muito mais do que literalmente disse. É óbvio que o filósofo não quer apenas dar a conhecer a sua particular aptidão ou saber (o saber calar-se). Quererá, sobretudo, distinguir-se da “tagarelice” dos restantes sábios, expressar a opinião de que nada haveria a dizer (o que em muito difere do mero saber calar-se), ou exibir alguma (porventura falsa) humildade. Pode até pretender, muito simplesmente, afrontar o Soberano. Só o exacto conhecimento do pano de fundo contextual nos permitiria aproximar da sua real intenção.
Seja com for – e como o Paulo muito bem desde logo anuncia - trata-se aqui de um silêncio infringido, que, nessa medida, se reconduz a falso silêncio. Porque o silêncio não se anuncia. E o calar-se, todo o calar, é sempre antecedido de alguma fala. O silêncio de Zenão é, por isso, um silêncio depois da fala e não antes. Um silêncio falado ou mal dito. Quando o verdadeiro silêncio, é mudo e mudo tudo diz, nada falando. Saber calar-se, é então outra coisa: é reconhecer o excesso de verbo. E dizê-lo? Ah... dizê-lo é já não querer o que se quis.
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