20 fevereiro 2007

Em defesa do referendo com que não concordei

Disse o sr. Presidente da República que o referendo "pode ter causado rupturas" na sociedade portuguesa. Daí que, a confirmar-se o mau prenúncio, fosse caso para dizer: amaldiçoado referendo. Mas não. O referendo não tem esse poder. O referendo não causou quaisquer rupturas na sociedade portuguesa. Quando muito, mostrou-as. E se as mostrou é porque já existiam à data da votação. A verdadeira causa de tais rupturas somos nós, não o referendo.

Precisamos de pensar e sentir melhor, de estudar, de reflectir e debater em comunidade, mas sem cair em "campeonatos" ou "fanatismos" morais. Uma boa regra talvez fosse a de nos concentrarmos mais na defesa dos nossos pontos de vista do que no ataque às ideias dos outros, isto é, reanalisando as nossas próprias convicções e as razões e sentimentos que até elas nos conduziram, em vez de dispararmos logo a "artilharia pesada" contra as hostes do "inimigo", aqui representado por todos os que pensam diferente. Ou seja, fazer precisamente o contrário do que vimos na maioria dos debates da recente campanha para o referendo, onde mais do que contribuir para a descoberta da melhor solução, cada uma das partes, regra geral, apenas defendia a sua "matraqueada" proposta.

É difícil? É. Mais dificil do que culpar o referendo. Mas também é "só" isso: difícil.