17 junho 2007

Pedimos desculpa por esta interrupção?

Quanto tempo, quantas palavras (e quantas declarações infelizes) se teriam poupado se Sócrates e Cavaco tivessem falado a sério sobre o assunto há mais tempo?

José António Saraiva, SOL, 16 Junho 2007

Também acho. E digo mais: se Sócrates ainda tinha dúvidas sobre se o Presidente da Republica poria ou não os interesses do país à frente da própria cooperação estratégica com o Governo, deve tê-las perdido para sempre, agora que foi forçado, é o termo, a requerer o estudo sobre Alcochete. Mas desiluda-se quem pensar que Sócrates é menos estratega, menos inteligente ou menos teimoso do que Cavaco. A Ota é a sua convicção, o seu projecto, o seu caminho. Não irá assim desistir de pôr todo o seu empenho e criatividade (que a tem) na luta por esta ideia em que não está menos obstinado do que Mário Lino.

Propaga-se por aí a ideia de que a pausa de seis meses agora concedida para efeitos do requerido estudo - e que foi, objectivamente, uma cedência do Governo - pode ter sido pensada como mera estratégia para não afrontar o Presidente e que, no mais, uma vez expirado o prazo, tudo continuará na mesma, rumo à Ota. Miguel Sousa Tavares, por exemplo, confessa no Expresso de ontem que tem enormes desconfianças sobre o fundamento sério desta súbita decisão governamental de ir estudar agora a alternativa Alcochete e termina mesmo a sua crónica com um avisado conselho: que ninguém se deixe iludir por esta possível manobra de pedimos desculpa por esta interrupção, a Ota segue dentro de momentos. É claro que ninguém se deixaria iludir. Mas por muito que o principal defeito de um homem inteligente seja o de subestimar a inteligência dos outros, ainda não estou a ver o nosso Primeiro a ir por aí.