27 janeiro 2008

Sem explicação

O sr. ministro da saúde continua a parecer mais obcecado com os números do que com a saúde, o que não honra lá muito o próprio nome do seu ministério. Mas se o objectivo é cortar nos custos, é de admitir que, mais tarde ou mais cedo, outros serviços hospitalares, muitos outros, possam também vir a encerrar, quem sabe se até os próprios hospitais (já que acabar com os doentes seria quimérico...). As consequências? Calma, isso logo se verá. Uma coisa de cada vez. Ficamos sem as maternidades e os serviços de urgência mas temos a palavra do ministro. O que é que valerá mais?

Só não percebo uma coisa: como é que o sr. ministro anda há tanto tempo a explicar aos portugueses a sua "reforma da saúde" e ainda teima em vir dizer, como o faz, mais uma vez, na entrevista que deu ao Expresso de ontem, que "Este é um momento de mais difícil explicação"? É caso para perguntar: que raio de reforma o sr. ministro engendrou que é assim tão difícil de compreender pelo cidadão comum?

E mais: porque insiste o sr. ministro em considerar que o problema está na "explicação" das contestadas medidas e não na sua natureza ou alcance? Acaso foi tocado pelo dom da infalibilidade? Serão os outros - aqueles para quem governa ou deve governar - tão ignorantes ou estúpidos que não possam sequer disputar a bondade das suas decisões políticas?

"não respondo perante Arnaut ou Alegre, por muito respeito que lhes tenha, respondo perante os portugueses" diz na referida entrevista quando instado a comentar as críticas dos dois conhecidos socialistas. Mas quem responde perante os portugueses não pode (não deve) tomar uma decisão e seguir em frente, sob o sofístico argumento de que só está contra, quem não a compreende(r). A explicação que falta é, por isso, só uma: porque é que o sr. ministro continua a dar explicações atrás de explicações sem nada conseguir explicar?

A pergunta é retórica, claro, pois adivinho-lhe a resposta. E é precisamente isso o que me preocupa.