Um banco dependente de mim
Será insólito mas nem por isso menos verdadeiro: há mais de 24 horas que tenho um banco na minha mão. Ou, mais exactamente, que tenho em meu poder as chaves de um banco. Não é, afinal, quase a mesma coisa? Estou a olhar para elas, para as chaves entrelaçadas, de onde sobressaem duas em cruz, ambas sofisticadamente recortadas: uma é a da porta exterior, a outra é a da porta interior, a chamada porta de segurança. De segurança, repito, por muito que o termo me faça sorrir, já que estando a chave comigo, a dita segurança de mim quase inteiramente depende. Há mais de 24 horas. E assim vai continuar, até amanhã de manhã, altura em que me apresentarei no balcão do respectivo banco para devolver o insólito achado: as chaves que um funcionário do banco deixou, por esquecimento, penduradas na fechadura da porta que dá para a garagem colectiva do prédio. Desconhecendo o nome, a morada ou n.º de telefone do funcionário, outro remédio não tive senão o de me "oferecer" como fiel depositário. E foi assim que, contra o costume e pela primeira vez na minha vida, senti que foi o banco a ficar dependente de mim.
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