15 dezembro 2009

Será o opinador um irresponsável?

Corre, no entanto, uma interessante teoria que defende o princípio da inimputabilidade para quem escreve textos de opinião. Ou seja, designa-se um texto ou um comentário numa qualquer estação de rádio ou televisão como opinião, e está automaticamente passada uma espécie de autorização para se dizer tudo o que vem à cabeça. Não há qualquer tipo de limites. Neste espaço, eu posso chamar ladrão a quem me apetecer, posso acusar qualquer cidadão dos mais terríveis e sórdidos crimes, posso pôr em causa a honra ou a probidade de alguém, posso inventar factos ou mentir descaradamente sem que tenha de me preocupar com as consequências das minhas afirmações. É assim como uma espécie de inversão do ónus da prova só ao dispor dos opinadores.

Pedro Marques Lopes,
Mártires da opinião, Diário de Notícias, 12 Dez 2009.

Diz o
Filipe Nunes Vicente que esta crónica do Pedro Marques Lopes é dirigida ao Pedro Lomba. Será. Mas, do meu ponto de vista, mais importante é ainda colá-la a todos os críticos, comentadores ou analistas que subscrevem o aludido "princípio da inimputabilidade para quem escreve textos de opinião". Porque é um princípio absurdo.

Um cronista não pode começar a sua crónica num registo intencionalmente analítico, lógico, verdadeiro, remetendo o leitor para idênticas instâncias de recepção, e, a páginas tantas, sem aviso prévio, mudar para um estilo literário de pura ficção ou pior ainda, passar a dizer toda a série de disparates que lhe vêm à cabeça.

Um cronista não pode começar a sua crónica com pezinhos de lã e lá mais para diante pôr-se a difamar ou ofender seja quem for e, no final, querer fugir à responsabilidade pelas afirmações que produziu, sob o pretexto de que se limitou a exprimir uma opinião.

Um cronista não pode agir perante os seus leitores como se a opinião fosse tão só uma descarga de subjectividade, porque não é. Se a opinião fosse apenas subjectividade, capricho ou irracionalidade mais ou menos voluntarista, se a opinião fosse algo que só o próprio opinador estivesse em condições de perceber, com que legitimidade alguém opiniaria? Quem se interessaria por uma opinião exclusivamente subjectiva e, portanto, inoponível?