Será o opinador um irresponsável?
Corre, no entanto, uma interessante teoria que defende o princípio da inimputabilidade para quem escreve textos de opinião. Ou seja, designa-se um texto ou um comentário numa qualquer estação de rádio ou televisão como opinião, e está automaticamente passada uma espécie de autorização para se dizer tudo o que vem à cabeça. Não há qualquer tipo de limites. Neste espaço, eu posso chamar ladrão a quem me apetecer, posso acusar qualquer cidadão dos mais terríveis e sórdidos crimes, posso pôr em causa a honra ou a probidade de alguém, posso inventar factos ou mentir descaradamente sem que tenha de me preocupar com as consequências das minhas afirmações. É assim como uma espécie de inversão do ónus da prova só ao dispor dos opinadores.
Pedro Marques Lopes, Mártires da opinião, Diário de Notícias, 12 Dez 2009.
Diz o Filipe Nunes Vicente que esta crónica do Pedro Marques Lopes é dirigida ao Pedro Lomba. Será. Mas, do meu ponto de vista, mais importante é ainda colá-la a todos os críticos, comentadores ou analistas que subscrevem o aludido "princípio da inimputabilidade para quem escreve textos de opinião". Porque é um princípio absurdo.
Um cronista não pode começar a sua crónica num registo intencionalmente analítico, lógico, verdadeiro, remetendo o leitor para idênticas instâncias de recepção, e, a páginas tantas, sem aviso prévio, mudar para um estilo literário de pura ficção ou pior ainda, passar a dizer toda a série de disparates que lhe vêm à cabeça.
Um cronista não pode começar a sua crónica com pezinhos de lã e lá mais para diante pôr-se a difamar ou ofender seja quem for e, no final, querer fugir à responsabilidade pelas afirmações que produziu, sob o pretexto de que se limitou a exprimir uma opinião.
Um cronista não pode agir perante os seus leitores como se a opinião fosse tão só uma descarga de subjectividade, porque não é. Se a opinião fosse apenas subjectividade, capricho ou irracionalidade mais ou menos voluntarista, se a opinião fosse algo que só o próprio opinador estivesse em condições de perceber, com que legitimidade alguém opiniaria? Quem se interessaria por uma opinião exclusivamente subjectiva e, portanto, inoponível?
Pedro Marques Lopes, Mártires da opinião, Diário de Notícias, 12 Dez 2009.
Diz o Filipe Nunes Vicente que esta crónica do Pedro Marques Lopes é dirigida ao Pedro Lomba. Será. Mas, do meu ponto de vista, mais importante é ainda colá-la a todos os críticos, comentadores ou analistas que subscrevem o aludido "princípio da inimputabilidade para quem escreve textos de opinião". Porque é um princípio absurdo.
Um cronista não pode começar a sua crónica num registo intencionalmente analítico, lógico, verdadeiro, remetendo o leitor para idênticas instâncias de recepção, e, a páginas tantas, sem aviso prévio, mudar para um estilo literário de pura ficção ou pior ainda, passar a dizer toda a série de disparates que lhe vêm à cabeça.
Um cronista não pode começar a sua crónica com pezinhos de lã e lá mais para diante pôr-se a difamar ou ofender seja quem for e, no final, querer fugir à responsabilidade pelas afirmações que produziu, sob o pretexto de que se limitou a exprimir uma opinião.
Um cronista não pode agir perante os seus leitores como se a opinião fosse tão só uma descarga de subjectividade, porque não é. Se a opinião fosse apenas subjectividade, capricho ou irracionalidade mais ou menos voluntarista, se a opinião fosse algo que só o próprio opinador estivesse em condições de perceber, com que legitimidade alguém opiniaria? Quem se interessaria por uma opinião exclusivamente subjectiva e, portanto, inoponível?
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