17 julho 2004

Estes senhores...

Pacheco Pereira tem toda a razão: pobre país, o nosso, que parece agora viver em permanente clima de novela, como bem o retrata Paula Ribeiro, no Correio do Brasil,  da passada quinta-feira:  

Para quem está chegando a Portu­gal e não está entendendo bem o que está acontecendo, é o seguin­te: há dois anos e meio o primei­ro-ministro socialista foi-se em­bora para casa antes do final do mandato. Há três semanas o pri­meiro-ministro social-democrata foi-se embora para Bruxelas no meio do seu mandato. Há uma semana o Presidente da Re­pública (que até era socialista, mas agora nin­guém sabe), demorou, demorou e resolveu (ele pode) que o melhor para o país era que o novo primeiro-ministro fosse o vice-presidente do Partido Social Democrata (PSD) que no entan­to era presidente da Camara de Lisboa.
Está acompanhando o raciocínio? Óptimo! Porque a história vai se complicar ainda mais...
O Presidente da República entendeu que não era preciso convocar eleições porque o novo primeiro-ministro continuaria a gover­nar com o apoio do partido mais à direita do país, que é bem pequenino e nao teve nem 6% dos votos nas últimas eleições. 
Aí o líder dos socialistas ficou tão chateado que também resolveu ir-se embora.
Entao havia uma esperança: voltaria de Bruxe­las um ex-comissário capaz de deixar todo mundo feliz no Partido Socialista, e até na oposição. 
Mas ele tambem nao quis vir.
O senhor que é o novo primeiro-ministro de Portugal, coitado, não é muito querido pe­los colegas do partido dele. O novo lider dos socialistas ainda ninguém sabe quem é, mas aquele outro senhor, o do partido bem peque­nino, ja tem quatro ministérios e não sei quantas secretarias de estado.
Estes senhores que agora mandam em Portu­gal são muito risonhos, saem em muitas revistas, aparecem sempre na televisão e usam uns ternos (fatos) muito bem feitos. Tambem têm todos um problema com o barbeiro. Mas que importância tem isto se eles são os únicos que querem ficar quando todos os outros se foram embora? 

Paula Ribeiro – in Correio do Brasil, 15.07.2004