O que "diz" a foto?
O Manuel Pinto colocou hoje no seu blogue Jornalismo e Comunicação esta foto do debate Bush-Kerry que, pelas diferentes interpretações possíveis para que remete, vem chamar a atenção para o modo como as imagens influenciam a construção de sentido. Além disso, considera - em jeito de desafio - que seria interessante "analisar as imagens do debate e o modo como elas constroem sentido e veiculam posicionamentos". Deixo aqui uma minha primeira contribuição para essa análise, que, por agora, se ficará pela foto que aparece a ilustrar o referido post.
O que diz a foto, afinal? Excelente questão. Apesar da óbvia polissemia, pode-se talvez isolar, embora sempre probalisticamente, alguns dos seus principais sentidos. Creio que um desses possíveis sentidos, passa por reconhecer que se trata aqui de um caso em que a perspectiva, o ângulo e o enquadramento escolhidos, ainda que favorecendo, aparentemente, um dos intervenientes no debate (Kerry), acabam por apelar mais à difusa superioridade do outro (Bush). E isto na medida em que na situação ou cena retratada, o primeiro surge “colado” a uma atitude de passividade, de conformação, ou até de subordinação (que é para onde reenvia a escuta e o olhar atento que dirige ao seu adversário), enquanto que o segundo, apanhado no uso da palavra e a olhar em frente (como que ignorando a presença do seu adversário), mais facilmente será associado à acção, ao poder de iniciativa e à liderança, atributos que são, como se sabe, dos mais valorizados em altura de eleições. Diria mesmo que, o facto da figura de Bush sair proporcionalmente “prejudicada” face à de Kerry, acaba por funcionar em favor do “apagamento” ou “menorização” deste último, na medida em que só amplifica a sua situação de desvantagem. Basta lembrar aquelas outras fotos de situações de poder e dominação onde, apesar de ser a multidão de ouvintes ou seguidores a aparecer em grande plano, é o poder do líder que sai enaltecido, mesmo se a foto só lhe apanha um pouco mais do que a cabeça. Se este raciocínio está certo, melhor seria para Kerry que a foto não lhe desse a evidência visual que realmente lhe confere.
O que diz a foto, afinal? Excelente questão. Apesar da óbvia polissemia, pode-se talvez isolar, embora sempre probalisticamente, alguns dos seus principais sentidos. Creio que um desses possíveis sentidos, passa por reconhecer que se trata aqui de um caso em que a perspectiva, o ângulo e o enquadramento escolhidos, ainda que favorecendo, aparentemente, um dos intervenientes no debate (Kerry), acabam por apelar mais à difusa superioridade do outro (Bush). E isto na medida em que na situação ou cena retratada, o primeiro surge “colado” a uma atitude de passividade, de conformação, ou até de subordinação (que é para onde reenvia a escuta e o olhar atento que dirige ao seu adversário), enquanto que o segundo, apanhado no uso da palavra e a olhar em frente (como que ignorando a presença do seu adversário), mais facilmente será associado à acção, ao poder de iniciativa e à liderança, atributos que são, como se sabe, dos mais valorizados em altura de eleições. Diria mesmo que, o facto da figura de Bush sair proporcionalmente “prejudicada” face à de Kerry, acaba por funcionar em favor do “apagamento” ou “menorização” deste último, na medida em que só amplifica a sua situação de desvantagem. Basta lembrar aquelas outras fotos de situações de poder e dominação onde, apesar de ser a multidão de ouvintes ou seguidores a aparecer em grande plano, é o poder do líder que sai enaltecido, mesmo se a foto só lhe apanha um pouco mais do que a cabeça. Se este raciocínio está certo, melhor seria para Kerry que a foto não lhe desse a evidência visual que realmente lhe confere.
<< Home