Pague a opinião e leve a notícia de graça
A ideia vem de Espanha onde a edição digital do jornal La Razón está já a ser comercializada segundo o regime de informação grátis, opinião paga, ou seja, exactamente o inverso do que sucede no El País, onde a informação tem que ser paga e os artigos de opinião é que são de acesso gratuito.
Em e-periodistas.weblog, Ramón Salaverría, professor de jornalismo, comenta a inovação no seu post El precio de la opinión (27 Janeiro 2005), onde não esconde um vincado desalento: "Poco parecen importar ya los datos; ahora sólo interesan las opiniones. Todo un síntoma de los males que aquejan al periodismo español de hoy". Parece-me, contudo, haver aqui um duplo equívoco.
O primeiro, residirá na implícita ideia de que a notícia (dados, factos, acontecimentos) disfruta de supremacia jornalística sobre a opinião, o que é falso. Se a notícia, por definição, não contém opinião, já na opinião é quase sempre impossível emitir um juízo sem especificar os factos que estão a ser avaliados, que o mesmo é dizer, sem incorporar a notícia. Logo, a existir supremacia jornalística seria na opinião e não na notícia. Quanto à (falsa) questão da "objectividade da notícia" e da "subjectividade da opinião" estamos conversados: nesta matéria, tudo quanto há para dizer é que na notícia, como na opinião, só um idêntico esforço de objectividade favorece a respectiva intercompreensão.
Como segundo equívoco temos que, do facto do La Razón decidir fazer pagar a opinião em vez da informação (ou notícia), não se segue que "Poco parecen importar ya los datos; ahora sólo interesan las opiniones". Para que a decisão do La Razón faça todo o sentido, basta, por exemplo, que publique uma opinião singular e exclusiva, enquanto que as suas notícias possam ser lidas igualmente em muitos outros meios de informação. Como é lógico, pagamos mais pelo que é raro ou único, independentemente do valor intrínseco do próprio bem. Só assim se compreende que ainda não paguemos nada pelo ar que respiramos, apesar da importãncia vital de que se reveste para a nossa própria sobrevivência.
Eis porque não posso deixar de concordar com parte da apreciação que uma leitora deixou na caixa de comentários do Professor Ramón: "a mí me parece que el acceso a la información está al alcance de cualquiera de manera gratuita; si no es en un medio, en otro. Todos no son iguales a la hora de tratarla, está claro, pero más o menos se puede uno enterar de lo que pasa en el mundo sin pagar un duro. En cuanto a las opiniones, es ya otro cantar. Uno puede sintonizar más o menos con un articulista y gustar de leer su opinión, y la visión concreta de ese autor no la va a encontrar en los demás medios". Tão simples como isso. Aliás, num mundo em que o espaço e o tempo se comprimem como nunca e a realidade nos é transmitida, cada vez mais, "em directo", é muito provável que o futuro do jornalismo venha a passar mais pela opinião do que pela notícia, mais pela interpretação do que pelos puros factos, mais pelo significado ou sentido do que pelo dados em bruto. E, como diria Pacheco Pereira, já não faltam os sinais.
Em e-periodistas.weblog, Ramón Salaverría, professor de jornalismo, comenta a inovação no seu post El precio de la opinión (27 Janeiro 2005), onde não esconde um vincado desalento: "Poco parecen importar ya los datos; ahora sólo interesan las opiniones. Todo un síntoma de los males que aquejan al periodismo español de hoy". Parece-me, contudo, haver aqui um duplo equívoco.
O primeiro, residirá na implícita ideia de que a notícia (dados, factos, acontecimentos) disfruta de supremacia jornalística sobre a opinião, o que é falso. Se a notícia, por definição, não contém opinião, já na opinião é quase sempre impossível emitir um juízo sem especificar os factos que estão a ser avaliados, que o mesmo é dizer, sem incorporar a notícia. Logo, a existir supremacia jornalística seria na opinião e não na notícia. Quanto à (falsa) questão da "objectividade da notícia" e da "subjectividade da opinião" estamos conversados: nesta matéria, tudo quanto há para dizer é que na notícia, como na opinião, só um idêntico esforço de objectividade favorece a respectiva intercompreensão.
Como segundo equívoco temos que, do facto do La Razón decidir fazer pagar a opinião em vez da informação (ou notícia), não se segue que "Poco parecen importar ya los datos; ahora sólo interesan las opiniones". Para que a decisão do La Razón faça todo o sentido, basta, por exemplo, que publique uma opinião singular e exclusiva, enquanto que as suas notícias possam ser lidas igualmente em muitos outros meios de informação. Como é lógico, pagamos mais pelo que é raro ou único, independentemente do valor intrínseco do próprio bem. Só assim se compreende que ainda não paguemos nada pelo ar que respiramos, apesar da importãncia vital de que se reveste para a nossa própria sobrevivência.
Eis porque não posso deixar de concordar com parte da apreciação que uma leitora deixou na caixa de comentários do Professor Ramón: "a mí me parece que el acceso a la información está al alcance de cualquiera de manera gratuita; si no es en un medio, en otro. Todos no son iguales a la hora de tratarla, está claro, pero más o menos se puede uno enterar de lo que pasa en el mundo sin pagar un duro. En cuanto a las opiniones, es ya otro cantar. Uno puede sintonizar más o menos con un articulista y gustar de leer su opinión, y la visión concreta de ese autor no la va a encontrar en los demás medios". Tão simples como isso. Aliás, num mundo em que o espaço e o tempo se comprimem como nunca e a realidade nos é transmitida, cada vez mais, "em directo", é muito provável que o futuro do jornalismo venha a passar mais pela opinião do que pela notícia, mais pela interpretação do que pelos puros factos, mais pelo significado ou sentido do que pelo dados em bruto. E, como diria Pacheco Pereira, já não faltam os sinais.
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