Astúcia Socrática
Darei instruções para que a partir do dia oficial de início da campanha nenhum membro do governo participe em inaugurações - anuncia Sócrates. O objectivo, acrescenta, é o de acabar com o "carrossel de inaugurações" com que os partidos do governo (PS incluído, lógico) costumam dar um "empurrãozinho" eleitoral aos seus candidatos autárquicos. É uma boa medida. Tão boa que deverá merecer a concordância de todos. E, todavia, há que reconhecer o seguinte:
Esta decisão de nenhum membro do governo participar em inaugurações vai ter um alcance prático diminuto dado que vigorará apenas durante os 11 dias de campanha oficial, quando, como se sabe, as actividades de propaganda eleitoral (comícios, outdoors, jantares-convívio, visitas guiadas, contactos com a população, entrevistas nos media, etc., etc.) já estão no terreno há vários meses.
Poder-se-á argumentar que a medida vale, sobretudo, simbolicamente, como afirmação de um princípio ético-político do actual governo. Seria como se Sócrates estivesse dizendo ao país: "O governo sabe que inaugurações com a presença de ministros ao lado dos autarcas do PS iriam beneficiar eleitoralmente estes últimos mas considera que isso não é eticamente aceitável, logo, não o fará".
Mas se a decisão obedecesse, basicamente, a um imperativo ético, não precisaria de ter sido anunciada por Sócrates com toda a pompa e circunstância. Bastava que, chegado o período oficial da campanha, nenhuma inauguração tivesse lugar na presença de qualquer ministro acompanhado do respectivo autarca. E fim. O bem pratica-se, não se anuncia. Se se anuncia é porque é outro o efeito pretendido.
A verdade é que, ao anunciar previamente que vai acabar com o “carrossel de inaugurações” durante o período oficial da campanha eleitoral, Sócrates está a tomar uma medida não menos eleitoralista do que seria a de manter o dito “carrossel”. Tudo isto porque, muito provavelmente, percebeu, e bem, que poderia obter mais proveitos políticos com a mediatização deste anúncio do que com a continuidade das respectivas inaugurações...
Esta decisão de nenhum membro do governo participar em inaugurações vai ter um alcance prático diminuto dado que vigorará apenas durante os 11 dias de campanha oficial, quando, como se sabe, as actividades de propaganda eleitoral (comícios, outdoors, jantares-convívio, visitas guiadas, contactos com a população, entrevistas nos media, etc., etc.) já estão no terreno há vários meses.
Poder-se-á argumentar que a medida vale, sobretudo, simbolicamente, como afirmação de um princípio ético-político do actual governo. Seria como se Sócrates estivesse dizendo ao país: "O governo sabe que inaugurações com a presença de ministros ao lado dos autarcas do PS iriam beneficiar eleitoralmente estes últimos mas considera que isso não é eticamente aceitável, logo, não o fará".
Mas se a decisão obedecesse, basicamente, a um imperativo ético, não precisaria de ter sido anunciada por Sócrates com toda a pompa e circunstância. Bastava que, chegado o período oficial da campanha, nenhuma inauguração tivesse lugar na presença de qualquer ministro acompanhado do respectivo autarca. E fim. O bem pratica-se, não se anuncia. Se se anuncia é porque é outro o efeito pretendido.
A verdade é que, ao anunciar previamente que vai acabar com o “carrossel de inaugurações” durante o período oficial da campanha eleitoral, Sócrates está a tomar uma medida não menos eleitoralista do que seria a de manter o dito “carrossel”. Tudo isto porque, muito provavelmente, percebeu, e bem, que poderia obter mais proveitos políticos com a mediatização deste anúncio do que com a continuidade das respectivas inaugurações...
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