14 março 2006

O controverso alerta-vermelho

A avaliar pelos motivos de preocupação que aqui expõe (e que os seus posts seguintes só confirmam), Vital Moreira terá reactivado o seu alerta-vermelho contra o novo inquilino de Belém. Nada que verdadeiramente surpreenda, depois dos sucessivos ataques que fez às ideias, mas também à pessoa do agora Presidente da República, durante a recente campanha eleitoral. Que era um homem autoritário, sem convicção, sem sinceridade e disposto a usurpar funções governativas; que, a ser eleito, levaria inevitavelmente à crispação e ao conflito político e institucional com a maioria parlamentar e o Governo; que a sua candidatura assentava numa mistificação política e que, inclusive, possuía uma solução para a justiça, no mínimo, inquietante; que não ultrapassava “os limites de uma cultura economista e tecnocrática”, etc., etc. – eis alguns dos “mimos” com que o comissário Vital – a maioria das vezes, disfarçado de comentador – abnegadamente brindava Cavaco Silva, com a secreta esperança, dir-se-á, de abrir os olhos aos eleitores.

Mas para grande azar do insigne professor de direito, o seu “candidato-maldito” acabou por vir a ser eleito pelos portugueses, por sinal, com maioria absoluta. E para agravar o desaire, mais de 85% do eleitorado ignorou o candidato apoiado por Vital Moreira. Não deve ter sido fácil. Qualquer outro meteria a viola no saco e... fingia-se de morto por uns tempos. Mas o comissário Vital, honra lhe seja feita, é um político (sim, um político) de fibra, que não esmorece na afirmação dos seus mais antigos ideais pelo que, ao menos para ele, “a luta continua”. Se disse tão mal de Cavaco-candidato, é da mais fundamental (ou fundamentalista?) coerência política que continue a dizer, se possível, pior ainda, de Cavaco-Presidente. E o primeiro sinal veio logo
no dia seguinte às eleições quando classificou como vitória fraca… uma vitória por maioria absoluta.

Agora decidiu, pelos vistos, reactivar o seu alerta-vermelho, accionando de novo as sirenes da atoarda política, aparentemente contra tudo o que o novo Presidente da República possa dizer ou decidir. Um bom exemplo desta sua aparente obsessão anti-cavaquista está aqui,
neste post, onde lhe deu para classificar como preocupante que Cavaco Silva tenha opiniões controversas sobre a “constituição europeia” e a “centralização do país”. Mas então não são precisamente esses dois assuntos tão controversos na sociedade portuguesa? Se um assunto é controverso como pode o Presidente da República ter sobre ele uma opinião não controversa? Será que para o digníssimo professor de direito a opinião do Presidente seria menos controversa se coincidisse com a sua? Francamente...