10 março 2006

Tempo de confiar

"Confio-me, portanto, àqueles a quem cabe a grave tarefa de governar os seres humanos, isto é: manter a lei, a ordem, a tranquilidade e a paz entre milhões de seres de uma espécie que é, na esmagadora maioria, desmesuradamente egoísta, injusta, irracional, desonesta, invejosa, malvada, ainda por cima muito limitada e extravagante"

Schopenhauer
in Parerga I, La philosophie universitaire. Trad. francesa, em: Philosophie et philosophies, p. 42

Nesta tomada de posse do novo Presidente da República, a festa foi bonita, ao que me pareceu, nas duas ou três vezes que pude olhar o televisor (é uma chatice a cerimónia decorrer num horário de trabalho). Mas como diria o Gabriel Alves, a "moldura humana" foi impressionante (4.000 almas, é obra). E houve de tudo. Houve quem aguentasse até ao fim da cerimónia (a maioria dos presentes), quem lá voltasse algumas horas depois (Marques Mendes e Ribeiro e Castro) e até quem a certa altura tenha achado que "aquilo não era vida", saindo mesmo sem cumprimentar o novo Presidente da República (caso de Mário Soares). Mas se Cavaco Silva já prometeu desculpar os grosseiros ataques "eleitorais" de alguns dos actuais ministros, mais facilmente irá ignorar a indelicadeza do ex-candidato do PS que, para fazer a figura que acabou por fazer, melhor fora, talvez, que não tivesse aparecido.

Dia cheio para Cavaco Silva. Pelo discurso e pela pose (que tem a sua função), parece que Portugal vai ter um digno Presidente da República. É, contudo, muito cedo para embandeirar em arco pois tudo o que temos, por agora, não passa de um bom punhado de intenções. Falta o melhor: as obras, as decisões e as iniciativas concretas que podem conduzir à recuperação social e económica do país. Mas, por agora, como até o inveterado pessimista Schopenhauer diria, é tempo de confiar.