06 julho 2008

E por falar em pragmática

"O poder dos políticos é o poder da palavra. A dicotomia palavra "versus" acção não existe, é pura falácia. A palavra é a acção. Um político fala e isso torna-se acção. Se um político quer fazer uma auto-estrada, não tem que pegar num bulldozer e ir desbravar terreno. Tem de decidir: "Faz-se." E, abaixo dele, a administração tratará de transformar a palavra em acção. O silêncio é a inacção, a paralisia."

João Pedro Henriques (JPH)-Gloria Facil...

Estou de acordo com esta ideia de que sem o poder da palavra um político não poderia agir pois o seu fazer é sempre um "decidir" ou um "fazer-dizer", e nunca um "fazer-executar" para o qual, só por mera coincidência estaria tecnicamente preparado. Ainda assim atrevo-me a algumas breves notas:

1) O poder dos políticos é mais *um* poder da palavra do que *o* poder da palavra. E será mais *um* poder da palavra no sentido de que o poder dos políticos não se limita ao poder da palavra, nem o poder da palavra se esgota no poder dos políticos. A palavra tem, como sabemos, uma pluralidade de poderes que não vêm agora ao caso mas que também não se pode ignorar.

2) A palavra é sempre acção. Mas tanto pode ser uma acção meramente locutória, como uma promessa, como uma decisão política concreta de aplicação imediata. Daí que na boca de um político as palavras sejam sempre acções mas nem sempre correspondam a trabalho ou obra efectivamente realizada. E, se como diz o povo, às "palavras leva-as o vento", acções que não passem de meras palavras, por certo, que terão o mesmo destino.

3) O problema não está portanto quando "o político fala e isso torna-se acção" mas sim quando (como tantas vezes sucede) fala e não acontece nada.