02 outubro 2004

Da sanção sem culpa à culpa sem sanção

Tem sido amplamente divulgado que, por proposta da Comissão de Inquérito nomeada pelo PS para apurar as responsabilidades sobre o que se passou na Lota de Matosinhos, nem Manuel Seabra nem Narciso Miranda poderão candidatar-se à presidência da Câmara de Matosinhos nas próximas eleições autárquicas. E a gravidade da anunciada sanção não deixava dúvidas: um e outro teriam que notoriamente ter concorrido, directa ou indirectamente, para a produção de tão lamentáveis incidentes.

Foi, por isso, com a maior surpresa que vi Almeida Santos afirmar na sua entrevista de hoje ao Jornal de Notícias que "A sanção tinha de ser a mesma, porque mesmo sem o que ocorreu na lota não seriam candidatos. Era do interesse do partido não haver divisão de votos". Mas se os dois sempre seriam impedidos de se candidatarem à presidência da Câmara (por não ser esse o interesse do PS) que raio de sanção a Comissão de Inquérito lhes aplicou? Nenhuma, evidentemente. Porque se fez então passar por severa medida disciplinar uma decisão que, pelos vistos, já fora tomada muito antes de ocorrerem os incidentes na lota? Porque se nomeou mais uma Comissão de Inquérito "para inglês ver"?