06 outubro 2004

O professor fechou o livro

"Na sequência da conversa da iniciativa do presidente da Media Capital, Miguel Paes do Amaral, decidi cessar, de imediato, a colaboração na TVI, a qual pude sempre livremente conceber e executar durante quatro anos e meio» (TSF Online)

Graças à sua exímia retórica, Marcelo Rebelo de Sousa já disse tudo. Disse, por exemplo, que a conversa que manteve com o presidente da Media Capital não foi de sua iniciativa. Disse também que, de sua iniciativa foi apenas a decisão de "cessar, de imediato, a colaboração na TVI". E se não disse que foi pressionado ou que quiseram restringir a sua liberdade de opinião nas futuras intervenções, que outra ideia poderia ele ter em mente ao salientar o facto de até aqui sempre ter podido "livremente conceber e executar" a sua colaboração?

Encostado à parede pela própria direcçao da TVI, o professor resolveu bater com a porta, dando assim maior visibilidade ainda à ridícula interferência do governo em matéria de liberdade de opinião. Mas é ou não é muito curioso que o mesmo ministro do PSD (Gomes da Silva) se apresse a dizer que Marcelo Rebelo de Sousa não será alvo de processo disciplinar, ao mesmo tempo que o acusa de mentir e, sem contraditório, destilar ódio sobre o governo liderado pelo actual presidente do seu partido?


Nota:
Tenho para mim que as reservas que se podem colocar aos sistemáticos ataques de Marcelo Rebelo de Sousa (e outros comentadores) ao seu próprio partido, são compreensivelmente dirigidas à sua qualidade de militante e não à de comentador político. Aliás, é certamente por se reconhecer a necessidade de independência e isenção nesta segunda função que, por vezes, se suspende, temporariamente, a primeira.