14 agosto 2005

Perguntar por perguntar

***
-Olha, e gajos?
Perguntei por perguntar. Como quem diz que tal o tempo. Ou os mergulhos. De repente, uma pessoa está no meio de uma conversa e não se lhe ocorre nada. Foi o que aconteceu. Foi por isso, juro. E porque a Vanessa sempre foi dada aos "amores de Verão", à olhadela ao mergulhador mais próximo, à conversa tola com o banheiro, ao sorriso amorfo ao "barman" e, inclusive, ao piscar de olhos ao disc-jockey.
Nestes vinte anos de relacionamento comum, sempre houve que dissecar, entre Junho e Setembro, uns comuns relacionamentos da Vanessa. Ao "grupo da praia", essa instituição, a Vanessa sempre prestou a devida homenagem. E, só começados por V, estou a lembrar-me do Vitor, do Viriato, do Valentim e do Vasco, que vagueavam por grandes Verões. Portanto, não é estranho que, a meio de um telefonema, eu faça uma pergunta destas. Uma pergunta sem estilo nenhum, mas verosímel dentro do contexto.
-Gajos, nem pensar!!!
***


(Excerto da crónica de Ana Sá Lopes, no Público de hoje)

Claro que não é nada estranho que, a meio de um telefonema, Ana Sá Lopes tenha perguntado a Vanessa pelos gajos. Estranho foi ter levado quase metade do texto da crónica a justificar a pergunta, no melhor estilo hipertextual. Jurou e tudo, imagine-se. Quis garantir que não seria mal interpretada? Ou nem ela própria crê na explicação que deu? Seja como for, isso agora não interessa. Não sendo a (des)codificação do implícito exclusivo de psicanalistas, cada um tenderá a interpretar à sua maneira. O problema é que Ana Sá Lopes não fez qualquer pergunta a Vanessa. Limitou-se a escrever a crónica. E a escrevê-la muito bem, como sempre.