10 novembro 2005

Atentado ao bom nome

"A suspeita que na sociedade portuguesa foi lançada contra mim essa já ninguém ma tira" (*), diz Jorge Coelho e diz muito bem. Porque a imperdoável fuga de informação e consequente divulgação mediática da busca que a PJ efectuou em sua casa e do presumido motivo da mesma, fez com que, pelo menos durante um certo período, Jorge Coelho fosse o nome mais rapidamente associado a um jogo de xadrez. Ora isto é muito grave porque o bom nome é, seguramente, a maior riqueza que cada um tem.

A imaginação fértil, e sem o menor escrúpulo, voltou a fazer das suas. Jorge Coelho fala de suspeita sob o seu bom nome. Mas o problema é que, como regra geral acontece nestes casos, não falta quem avance por uma miríade de possíveis incriminações que logo passam a outros tantos rumores. A suspeita aproxima-se então perigosamente da "verdade", e como tal passa a ser encarada, na sua ulterior propagação. É, por isso, neste registo final de "facto certo e verdadeiro" que o atentado ao bom nome e à imagem acaba por se consumar e não já no de mera suspeita.

A partir daqui, pode-se dizer que tudo a que o visado ainda pode aspirar é que cada um dos futuros receptores de tão ignóbil "verdade" esboce, ao menos, uma inicial reacçao de surpresa: "Quem? Aquele que... ah... oh... não, esse não pode ser, eu não acredito!". Mesmo já acreditando. E isto, sendo absolutamente intolerável, tem que encontrar a resposta adequada ao nível do sistema jurídico-legal, mas deve igualmente (e sobretudo) suscitar uma frontal e pública reprovação ético-cultural. A nossa passividade (e resignação) perante tão insuportáveis abusos só pode encorajar a sua multiplicação.

É preciso evitar que cidadãos sérios fiquem expostos ao vexame de passarem por corruptos, nem que seja por um segundo apenas das suas vidas, só porque são políticos ou figuras públicas. E não me venham com partidarices ou cores políticas. Na defesa do bom nome de uma pessoa, seja ela quem for, não pode haver adversários. Porque são estes momentos que põe à prova a nossa condição humana. Estou certo que a Jorge Coelho nenhum testemunho de solidariedade desagravará inteiramente a ofensa recebida. Mas ainda assim, aqui fica o meu.

(*) Quadratura do Círculo, Sic Notícias