24 fevereiro 2006

Parece mesmo

Parece que a bancada parlamentar do PS tem "regras internas" para serem cumpridas por todos os seus deputados e que Manuel Alegre, um desses deputados, não questionou nunca tais regras ou, pelo menos, com elas se conformou ao longo dos tempos.

Parece que Manuel Alegre terá violado as ditas regras com aquela sua intervenção do passado dia 8, onde criticou a posição assumida pelo ministro Freitas do Amaral relativamente às famigeradas caricaturas dinamarquesas e que, por força disso, no dia seguinte foi criticado por alguns dos seus pares numa reunião em que um dos parlamentares socialistas insinuou mesmo a existência de "deputados de primeira e deputados de segunda" na bancada do PS.

Parece que Alberto Martins, “entalado” entre a amizade fraterna que mantém com Alegre e a pertinência do questionamento, preferiu passar ao lado da questão, lembrando apenas que o "O direito constitucional do uso da palavra sobrepõe-se a qualquer outro critério" enquanto o próprio Manuel Alegre lhe seguia as pisadas ao refugiar-se nesta “grandiloquência a martelo”: "Não preciso de pedir autorização para falar no Parlamento".


Parece, enfim, que Alberto Martins e Manuel Alegre confundiram as coisas pois não está em causa qualquer direito à palavra. Por sinal, nunca vi Alegre falar mais livremente do que tem falado. O que está em causa e que entra pelos olhos dentro é, mais exactamente, uma determinada conduta política e não o direito de se expressar. Pelo que, salvo melhor opinião, ou Manuel Alegre se conforma com as regras do partido e da bancada a que pertence e, nesse caso, cumpre-as, ou não as aceita e retira-se do seu actual grupo parlamentar, quiçá, do próprio partido socialista. Quem não quer alienar a mínima parcela da sua liberdade individual, só tem uma saída possível: não se compromete ou desliga-se dos anteriores compromissos. Pertencer a um partido político e ao mesmo tempo dar corda a um “movimento dos cidadãos” que o põe em causa, é que não é política e eticamente sustentável. Estou em crer, por isso, que, se Alegre persistir nesta estratégia de queima, irá sair muito chamuscado. Entretanto, Sócrates - o estratega-mor - sabe-o tão bem que nem lhe dá lume. Já repararam?