15 setembro 2006

Será possível um jornalismo sem persuasão?

DOUG McGILL, repórter e professor de Jornalismo, afirma no seu LOCAL MAN:

A.
journalism needs the reporting of facts to be called journalism.

B.

A report is fundamentally distinct from both 1) an entertainment, which uses fictional techniques to attract audience, and which doesn’t limit its subject to present conditions of society; and 2) editorials and opinions, which aim not to report current facts but rather to persuade the audience to adopt certain beliefs and points of view.

Perfeitamente de acordo com o que é dito em A: não há jornalismo sem factos. O que resta saber é se nos dias de hoje ainda seria possível um jornalismo sem opinião. Creio que não. Mas esse é um bom tópico para outra ocasião. Por agora apenas assinalo como muito pacífica a distinção B 1) mas já não a de B 2) que, implicitamente, nos remete para a insustentável crença a que já aqui me referi e que é a de que os factos estariam para a objectividade assim como as opiniões estariam para a subjectividade.

Ora quem tenha o hábito de ler/escutar/ver a cada dia vários órgãos de informação pode com alguma frequência constatar que os ditos chegam a divergir mais na descrição e contextualização dos mesmos factos do que quanto às ideias-base das respectivas colunas de opinião. É aliás no relato dos factos (cobertura de guerras, de acidentes de viação, de crimes, etc.) que a persuasão mais assiduamente é convocada, seja por uma apresentação feérica, repetitiva ou caleidoscópica, seja pelo recurso a fotografias, sonoridades e vídeos chocantes, seja pela recolha nua e crua de depoimentos presenciais, para já não falar de "interessadas" selecções dos factos e obscuras opções editoriais.

Mas mais importante do que situar a persuasão no relato dos factos, nos editoriais ou na opinião, seria atender àquilo de que querem persuadir-nos e ao grau de transparência com que intentam fazê-lo. É até bem possível que, do ponto de vista do leitor, o perigo venha muito mais da persuasão oculta na mais seca descrição dos factos, do que da manifesta intenção de persuadir da opinião. Claro que isto não passa de mais uma opinião. Mas o que é facto, é que só uma opinião pode substituir outra.