15 dezembro 2006

O futebol, os negócios e as negociatas

"A corrupção no futebol é, além disso ­a corrupção mais popular. Não a mais grave, não a mais comum, nem sequer, coitada, a mais prejudicial. Os "negócios" fazem coisas com que nunca sonhou o pior aldrabão do futeboL Mas fazem o que fazem discretamente, sem um nome à vista e em operações tão complicadas que ninguém percebe. O futebol não goza desta penumbra. É público, primitivo e também ele indigente. Para começar, Portugal inteiro conhece as personagens que a polícia, a imprensa ou o ocasional denunciante acusam de "imperdoáveis" patifarias. Depois, não há qualquer mistério naquela espécie de delinquência: comprar um árbitro, traficar terrenos, pequenas trapalhadas com dinheiro. Nada que exceda a imaginação ou o intelecto do aficionado comum. De resto o futebol está falido e viver de expedientes (fora da lei ou da decência) é um método familiar ao indígena. (…) As listas de candidatura para a Federação Portuguesa de Futebol atraíram de repente a atenção de meio mundo. O Sr. Ministro da Justiça prometeu um serviço da Judiciária exclusivamente dedicado ao futebol. Só falta uma declaração do dr. Cavaco. (…) Sucede que a corrupção no futebol é uma ínfima parte da corrupção geral do país."

Vasco Pulido Valente, Público, 15 Dez 2006