18 março 2007

O chumbo da "neutralidade" (2)

"No fim, como no princípio, não resisto a um comentário sobre a OPA.
O Estado português fez parte do grupo vencedor: como seria de esperar, votou contra a desblindagem dos estatutos.
Nada a objectar: usou um direito que lhe assistia. Admito, ainda sem reparo, que possa ter celebrado a vitória, em privado. Compreendo que, ainda na hora da vitória, se tenha mostrado discreto, em público: por pudor, por gestão da imagem, e até por uma questão política (ou não fosse, o tratamento a dar aos vencidos, uma das maiores questões políticas de todos os vencedores).
Só não percebo a preocupação de nos vir dizer que não teve nada que ver com o assunto. No que me diz respeito, senti-me um pouco incomodado pelo que me pareceu algum menosprezo pela capacidade de discernimento de quem, pesem embora as suas limitações, apesar de tudo, "vê, ouve e lê" (como dizia a canção, de saudosa memória). Teria sido mesmo necessário?
Não tenho que protestar, sequer que me mostrar indignado. Gostaria, se alguém puder ajudar-me, de compreender a necessidade desta menorização, sobretudo nas suas manifestações mais
compulsivas."


Daniel Bessa, Expresso, 17 Março 2007