26 maio 2007

A Ota, a política e o conhecimento

Há um poder instituído nesta democracia partidária que está a deformar a cabeça das pessoas, fazendo-as acreditar que, ao serem eleitas, têm capacidade para decidir tudo. Efectivamente, foram legitimadas para decidir, mas têm de o fazer com base num conhecimento.

João Afonso
Secretário do Conselho Directivo Nacional da Ordem dos Arquitectos
(à revista Cubo, 26 de Maio 2007)


Será precisamente isto que o Governo está a esquecer no caso Ota, na medida em que continua a "fechar-se" numa decisão política (com o empenhamento "pessoal" do ministro Mário Lino), decisão essa que passa ao lado do conhecimento disponível e, muito concretamente, das razões já avançadas que levam a classificá-la como má opção. A verdade é que o Governo não deve mostrar-se intransigente quando não consegue fazer suportar a sua decisão numa argumentação clara, consistente e plausível. Tem por isso apenas duas saídas airosas: ou convence os portugueses da bondade da sua escolha ou aceita apreciar as alternativas que lhe têm sido propostas. O que em democracia não pode é pôr em prática um método de decisão ditatorial ou reivindicar para si a certeza divina. Isso era dantes.

À parte: faz algum sentido querer erguer uma obra de tal dimensão e custo, contra a vontade de larga fatia da população portuguesa?