12 agosto 2008

Metáfora de pernas para o ar

Castanheira Barros, ex-candidato (derrotado) a líder do PSD, disse no passado fim-de-semana, para quem o quis ouvir, que Manuela Ferreira Leite não compreende o povo e que, por isso, o PSD tem um presidente mas não tem um líder.

Esta coisa de o PSD ter um presidente mas não ter um líder não está mal apanhada, não senhor, mas o que mais me chamou a atenção nas declarações de Castanheira Barros foi a expressão popular a que recorreu para numa frase sintetizar o que, segundo ele, é preciso fazer no PSD: "é preciso virar o bico ao prego".

Ora "virar o bico ao prego" quer fundamentalmente dizer "dar o dito por não dito", que é o que já não falta no PSD (como em qualquer outro Partido). Mas ainda que faltasse, "dar o dito por não dito" não seria coisa que um político arriscasse admitir em público, muito menos recomendar. Daí o enigma: o que quis realmente dizer Castanheira Barros? Ainda não sei o que quis dizer mas creio que já descobri porque disse o que disse: em vez de conferir à expressão "virar o bico ao prego" o sentido corrente de uma mudança negativa ("dar o dito por não dito", "não manter o que disse", "voltar com a palavra atrás", etc.) associou-a a uma mudança positiva ("dar uma volta a isto", "alterar este estado de coisas", "corrigir", etc.). Aliás,
já aqui dela teria um idêntico entendimento. Veja-se a afirmação com que termina o seu post: "Está na hora de virar o bico ao prego" . Concerteza que não queria incitar ao "dar o dito pelo não dito". O problema foi que inverteu a metáfora, pô-la de pernas para o ar. E para o ar assim foi, por certo, todo o efeito que do seu uso esperaria. Não é grave, acontece aos melhores e até ficou engraçado. Mas não serei eu a virar o bico ao prego: do ponto de vista persuasivo, uma metáfora desajustada é sempre muito mais nociva do que uma metáfora que simplesmente não funcione.