Eu é que sou o Presidente
Sim. Cavaco dramatizou, criou uma exagerada expectativa, intrigou o país, no modo como fez anunciar a sua mais recente comunicação televisiva. E, vale admitir, nada disso lhe terá passado despercebido. Do ponto de vista de uma economia psicológica das comunicações (presidenciais), terá sido um erro. Amanhã, poderá ter algo de muito mais importante e decisivo a dizer ao país e já não ser (tão atentamente) escutado. Foi um risco, portanto. Mas conhecendo-se o Presidente, como se conhece, acredito que foi um risco muito bem calculado. A economia do discurso terá cedido à estratégia política no desempenho do seu alto cargo. Sentiu que precisava dar este sinal com a maior clareza e perante o maior dos auditórios possíveis: o próprio país. Pode-se concordar ou discordar, mas uma coisa é certa: acabou a ambiguidade na matéria. A partir de agora, os líderes políticos e os deputados a quem o Presidente atempadamente avisou da sua discordância não vão mais poder assobiar para o ar. Parafrasendo alguns deles, "cada um que assuma as suas responsabilidades". O Presidente assumiu as suas. E claro que o estatuto administrativo e político dos Açores é muito importante, mas mais importante ainda é não permitir que uma pontual (e mal explicada?) unanimidade dos deputados leve à redução dos constitucionais poderes do Presidente. Também por isso me parece tão certeira esta análise de Mário Ramires, do SOL.
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