03 agosto 2008

O "Público" tornou a errar


Ao ler esta pequenina nota na edição de 28 Julho 2008 do Público, onde o jornal se limita a corrigir o erro de informação cometido numa notícia de grande destaque, interrogo-me se nestes casos o expediente da confissão do erro será alguma vez suficiente para "apagar" a ofensa pública à reputação e à dignidade das pessoas injustamente visadas. Como seria justo que acontecesse ou que, pelo menos, o jornal tudo fizesse por isso. O que não fez.

Repare-se que
o texto da notícia não é de modas ao referir que a portaria “é por muitos considerada atentatória, uma vez que discrimina pessoas consoante a sua etnia ou condição social” e que “não é, como muitos poderiam supor, uma regra do início do século passado, nem tão-pouco mais uma das célebres determinações da governação de António de Oliveira Salazar” mas antes “um documento legal publicado no Diário da República a 25 de Setembro de 1985.

Que jurista gostaria de ver associado o seu nome (e imagem pessoal) à aprovação de uma tal portaria? Nenhum, claro. Nem mesmo os seus verdadeiros autores, se deles se tratasse. Apesar disso (ou por isso mesmo?) o jornal não hesitou em escarrapachar os nomes dos quatro juristas (Vital Moreira à cabeça) que teriam votado a favor da constitucionalidade da dita norma. É falso, soube-se pouco depois. E à manifesta argolada" jornalística junta-se a grosseira infâmia. Sim, porque não há duas éticas, uma para a acção jornalística e outra para as restantes acções.


No dia seguinte, Vital Moreira reage, fazendo notar:

1) que, pelo contrário, os quatro juízes em causa (incluindo ele, claro) votaram antes pela inconstitucionalidade da dita norma

2) que espera "que o Público corrija a lamentável informação falsa e peça desculpa aos visados (dois dos quais já falecidos) e ao público."

Só então o jornal reconhece publicamente o erro, como se pode ver acima. Mas de dois reparos já não se livra:

1.º
Nesta sua breve nota "O Público errou", o jornal limita-se a desfazer o erro. Repare-se que, ao arrepio do que costuma fazer em situações análogas *, e apesar de Vital Moreira ter escrito que esperava um pedido de desculpas aos visados, o jornal não pede desculpa nem mostra o menor constrangimento com o sucedido. É aí que o Público volta a errar.

2.º
Já agora, como é possível que se dê um erro destes num jornal de referência? Tratando-se de dados objectivos e de acessibilidade garantida, porque não foram previamente confirmados? E estando em causa notícias que possam afectar a imagem pública de alguém não será exigível um nível superior de redundância na validação dos factos? Pior ainda, é a sensação que fica, a de que a todo o momento (já amanhã ou depois) o mesmo erro poderá acontecer e com as mesmas nulas consequências. Convenhamos que não será a melhor das expectativas para se fidelizar um leitor .

* Como, por exemplo, no "Público errou" de 25 Março 2008, que terminava deste modo: "Um evidente lapso pelo qual o Público se penitencia, deixando aos visados e aos leitores o respectivo pedido de desculpas."