11 janeiro 2004

Destaque (4)

Para o clarividente alerta de Guilherme Valente, ontem, no "Mil Folhas-Público":

(...) Julgo que grande parte da melhor literatura portuguesa estará hoje nas páginas de ensaios e textos não catalogados como literários, designadamente, mas não só, em obras de cultura científica.

Não se trata, como C. P. Snow diagnosticou na Inglaterra dos anos 50, de uma falta de diálogo entre os cientistas e os intelectuais literários, mas da quase inexistência de uma cultura crítica, assente no conhecimento, indutora da irreverência face ao saber sabido, do inconformismo, da confiança.

O binómio de Newton é, de facto, tão belo como a Vénus de Milo. Como poderemos aprender a descobrir isso? Como poderemos chegar a essa cultura nova, condição para a respiração, modernização e progresso do país? A resposta aponta para muitas sedes. A comunicação social é, seguramente, uma dessas sedes (com astrólogas a zumbirem em todos os canais de televisão poderemos surpreender-nos que 30 por cento dos portugueses atribuam ao destino a causa dos acidentes de viação?). Mas a sede nuclear, estruturante, é a escola. Não é na escola que se aprende a ler e a gostar de ler, a escrever, a contar e a pensar? Aprende?



* Foi o Cidadão Livre que me chamou a atenção para esta crónica de Guilherme Valente.