23 janeiro 2004

Excertos de um livro não anunciado (168)

(...) A ideia de auditório universal que surge em Perelman algo nebulosamente identificada com a razão, parece assim desprovida de qualquer valor operatório enquanto critério ou método de aproximação à verdade. Surpreende, aliás, que depois de recusar o auditório íntimo como encarnação plena do auditório universal, sob o argumento de que não se pode confiar na sinceridade do sujeito que delibera para consigo mesmo, dado que “a psicologia das profundezas ensinou-nos a desconfiar até do que parece indubitável à nossa própria consciência” (1), Perelman tenha acabado por tão confiadamente fazer depender a racionalidade argumentativa “...de uma universalidade e de uma unanimidade que o orador imagina...” (2) (...)

(1) Perelman, C., (1999), Tratado da Argumentação, S. Paulo: Martins Fontes, p. 46
(2) Ibidem, p. 35