18 outubro 2005

Blastocisto: do trofectoderme às celulas estaminais

Desculpas por este título tão pouco "amigável" para o comum dos mortais, de que aliás sou lídimo representante. Mas não me ocorreu melhor maneira de chamar a atenção (por contraste) para a simplicidade e clareza com que Teresa Firmino escreve, na edição de ontem do Público, sobre uma das mais promissoras áreas da investigação científica, a das células estaminais. Leitura indispensável para quem, além do mais, goste de saber o que o futuro nos reserva:

É na fase em que o em­brião é uma bolinha oca, um blastocisto, que desperta muito interesse aos cientis­tas que trabalham em células estaminais. Tem então uma cama­da externa de células, chamada trofectoder­me, que dá origem à placenta e a todos os tecidos destinados a sustentar e a proteger a gravidez. Lá dentro está outra bolinha, que não tem mais de uma centena de células, encostadas umas às outras: são essas célu­las, as estaminais ou indiferenciadas, que vão dar origem a todos os tipos de células diferenciadas que constituem o corpo, desde as do fígado, da pele, do sangue até às do coração, do cérebro ou dos rins. Como têm a potencialidade de originar todos os tipos de células, a ideia é que tal­vez se possam usar para regenerar o fíga­do, o cérebro ou o coração, por exemplo. Os fetos, o cordão umbilical e os adultos também têm células estaminais, mas já não possuem tantas potencialidades. Têm já algum grau de especialização: por exemplo, as células estaminais do sangue dos adultos só já dão origem aos vários tipos de células do sangue, mas não a neurónios ou a células da pele. É por isso que os cientistas cobiçam tanto as células esta­minais embrionárias e, se aprenderem a manipulá-las de forma a originarem o tipo de células desejadas, os doentes terão à disposição toda uma nova variedade de tratamentos. Não só se resolverá o problema da escassez de órgãos para doação, como se evitarão os problemas da rejeição pelo sistema imunitário. Mais ainda: haverá soluções para doenças in­curáveis e sem possibilidade de recorrer ao transplante, como são as doenças de­generativas do cérebro. (Teresa Firmino, in Publico, p. 24 - 17 Outubro 2005)