13 janeiro 2010

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Ali do lado direito, por agora, só para ver se resulta.

07 janeiro 2010

Síntese pouco poética

Apanhado por aquele inquérito da Pública, criado por Miguel Esteves Cardoso, Pedro Mexia e José Diogo Quintela, o tripeiro poeta Manuel António Pina respondeu assim à pergunta "Qual é a diferença entre um alfacinha e um tripeiro?":

"O tripeiro cospe para o chão, o alfacinha cospe para o ar" (*)

Ainda não percebi se a resposta de Pina é mais favorável ao tripeiro ou ao alfacinha. Mas a síntese, podendo ser pouco poética, é literalmente um achado a que talvez só um grande poeta pudesse aspirar.

(*) in Pública, 03 Jan 2010





01 janeiro 2010

Quem manda na Língua?

Perante o desacordo ortográfico em vigor, sugiro o desempate por penaltis ou, menos cansativamente, por moeda ao ar. Que tal? Não vejo que fosse menos científico do que o processo em curso.

10.000.000.000 - um número difícil de ler

Convenhamos que este é um número difícil de ler. Quase preciso de escrevê-lo por extenso para saber quanto é: dez mil milhões. Ah. É curioso como assim por extenso parece, afinal, mais pequeno do que é. Não parece? Mas não é. É mesmo um número grande, muito grande: 10.000.000.000. Tão grande que convertido em euros, dá qualquer coisa como 10.000 vezes mais do que o capital que o próprio Banco de Portugal dispõe (1.000.000 €)

Pois segundo o insuspeito prof. Daniel Bessa (1), 10.000.000.000 € (dez mil milhões de euros) por ano é precisamente quanto o Estado Português tem de reduzir o seu défice anual (só para o trazer para os 3%). E eu, que não sou economista mas tenho uma ideia do que vale o dinheiro, fico mais do que surpreendido, fico apalermado. Apalermado porque nunca julguei que as contas do meu país andassem assim. Eu sei que estou (estamos todos) nas mãos dos nossos governantes. Mas também sei que não posso nem devo (não podemos nem devemos) confiar cegamente na sua governação. Muito bem. A questão é: como escrutinar um governante? Como avaliar o estado do país que o dito prometeu melhorar e desenvolver?

O cidadão que trabalha, que tem o seu emprego ou empresa para gerir e que, ainda por cima, não é economista, nem gestor financeiro, não tem muito por onde escolher: agarra-se aos jornais, à rádio, à televisão, à internet, ao smartphone, e vai acompanhando as declarações do Presidente da República, do Primeiro-Ministro, dos Ministros, dos Secretários de Estado e dos demais responsáveis governamentais, dos deputados, dos políticos em geral. Bem sei que precisa não só de atentar no que lhe dizem (e querem dizer) como também, e cada vez mais, na atitude, no gesto, no olhar, na expressão facial, no sorriso ou no ar de preocupação (que melhor esclarecem o dito e, principalmente, fazem luz sobre eventuais omissões).

Mas é esse o meu problema: é que nunca vi nos nossos governantes, nem nos políticos em geral, um ar tão preocupado que me permitisse inferir que o nosso atraso em relação aos desejados 3% de défice rondaria, como ronda, o monstruoso número de 10.000.000.000 Euros. Assim como nunca poderia sequer imaginar que a nossa dívida pública estaria, como está, a crescer 2.000.000 € (dois milhões de euros) a cada hora que passa (2). A cada hora que passa? Que se passa, pergunto eu? E agora meus senhores? Ao menos, mostrem-se preocupados, para que o cidadão comum perceba como é ridículo, numa altura destas, pensar em investimentos megalómanos. Caso contrário, terei de subscrever, e com todas as letras, o que diz Nicolau Santos: "Governo e oposição não estão a ver bem o filme no qual vamos ser um dos principais protagonistas em 2010" (3). Ai não estão, não.

1) in Expresso, 19 Dez 2009
(2) e (3) Nicolau Santos, Expresso, 19 Dez 2009