31 maio 2004

É esta semana

CONVITE

"O Presidente da Câmara de Gondomar e a editora estratégias criativas têm o prazer de convidar V. Ex.ª para o lançamento do livro O HOMEM COM MEDO DE SI PRÓPRIO, de Américo de Sousa, que terá lugar no próximo dia 3 de Junho, quinta-feira, pelas 21h00, no Auditório Municipal de Gondomar.

O livro será apresentado pelo Prof. Manuel Pinto, da Universidade do Minho e actual Provedor dos Leitores do Jornal de Notícias.

Animação a cargo do grupo de coreografias e ginástica acrobática da Escola EB 2,3 de Fânzeres. No final será servido um Porto D'Honra."

***

Auditório Municipal de Gondomar
Av. 25 de Abril, 103 - S. Cosme - Gondomar

Excertos de um livro não anunciado (186)

(...) No caso dos argumentos quase lógicos, a primeira coisa que salta à vista é a sua falta de rigor e precisão relativamente ao que se observa na demonstração. Mas as razões que o orador invoca e desenvolve para tentar ganhar a adesão do seu auditório são, efectivamente, de outra natureza. Não se trata já de uma demonstração correcta ou incorrecta, falsa ou verdadeira, mas de um encadeamento de argumentos mais ou menos fortes, mais ou menos plausíveis, que visam estabelecer um acordo, uma adesão. Argumentos que são “quase lógicos” precisamente pela aparência demonstrativa que lhes advém do facto de apelarem para estruturas lógicas tais como contradição, identidade e transitividade ou para relações matemáticas como a relação da parte com o todo, do menor com o maior e a relação de frequência. Só que, enquanto num sistema formal o aparecimento de uma contradição o fere de morte, tornando-o incoerente e inútil, o mesmo já não sucede na linguagem corrente, onde a contradição joga um papel completamente diferente. (...)

27 maio 2004

Essa até eu sabia

Que Francisco Louçã não saiba o que é uma sarapitola, vá que não vá. Mas que desconheça quem escreveu o "Amor de Perdição", é imperdoável. Essa até eu sabia...

in "Grande Entrevista" Francisco Louçã - Independente de 21 de Maio de 2004

26 maio 2004

Excertos de um livro não anunciado (185)

(...) É conhecida a classificação dos argumentos elaborada por Perelman, em função do específico tipo de ligação (ou dissociação) para que remetem: argumentos quase lógicos, argumentos fundados na estrutura do real e aqueles que fundam essa estrutura. Da minuciosa caracterização que o autor nos faz de cada um destes três grupos de esquemas argumentativos * interessa-nos, porém, reter apenas aqueles aspectos que nos parecem mais ilustrativos da força persuasiva que determinadas figuras ou procedimentos discursivos podem imprimir, num ou noutro sentido, ao processo global da argumentação. Naturalmente que sempre sem perder de vista, como aliás o próprio Perelman adverte, que a compreensão última do sentido e alcance de um argumento isolado só é possível na sua estreita relação com a totalidade do respectivo discurso, com o contexto e a situação em que se insere.(...)

* Perelman, C. e Olbrechts-Tyteca , L., (1999), Tratado da Argumentação, S. Paulo: Martins Fontes, p. 219

25 maio 2004

Direitos Reservados: fui eu que me enganei (ainda bem)

A vida continua a correr, a passar por nós, numa velocidade cada vez mais difícil de acompanhar. É assim em quase todos os domínios do nosso dia-a-dia. Também na leitura de um livro, revista ou jornal. Vem isto a propósito do meu post anterior sobre Direitos Reservados.

Em mais uma leitura apressada, abri o JN, caí na p. 50, chamou-me a atenção a imagem de capa do livro "A Mesa Voadora" de L. F. Verissimo e mergulhei atentamente na leitura do texto de apresentação da obra. Só no final dei com a expressão "Direitos Reservados", em letra muito pequenina, colocada entre o título e a imagem, ainda que mais próximo desta última.

Considerei então a hipótese de ter sido enganado, no caso de se tratar de um procedimento publicitário ou comercial mais ou menos dissimulado e registei a minha desconfiança que, afinal, não tem qualquer razão de ser. E não tem qualquer razão de ser porque, entretanto, em análise mais atenta e comparada com o que é a prática do mesmo jornal em situações semelhantes de outras edições, pude deduzir que se trata somente de uma forma de protecção autoral e, sobretudo, que a referida expressão se aplicava apenas à imagem do livro (autoralmente protegida) e não ao espaço ou texto do jornal.

Ainda bem que me enganei, porque, por um lado, é sinal de que o JN sai sem mácula; por outro, porque essa foi justamente uma das duas únicas hipóteses que logo admiti. Daí que, com um sorriso abertamente sofístico, possa, talvez, concluir: se me enganei como previra...então acertei na previsão.



24 maio 2004

Direitos Reservados?

Na versão impressa do JN do passado domingo, este texto de apresentação do livro "A Mesa Voadora" de Luis Fernando Verissimo, saiu encimado por duas palavras em tamanho pequeníssimo: "Direitos Reservados".

Mas o que é que essa expressão quer dizer? A página era a da "Cultura", o texto referia-se a um grande nome da Literatura, o seu autor é um conhecido crítico literário do jornal. Li-o, por isso, despreocupadamente, como se correspondesse à apreciação de uma obra cuja divulgação se impunha pelo valor de si mesma. Li-o como uma recomendação de leitura, ainda para mais, qualificada, e não como expressão directa de uma forma de propaganda ou promoção comercial. Li-o com a confiança que, ano após ano, diariamente me habituei a depositar no que "vem escrito" no JN.

Terei sido enganado? Ou, menos gravemente, fui apenas eu que me enganei? O que quer dizer exactamente aquela expressão "Direitos Reservados" em que só reparei depois de ter lido o texto na íntegra? Por aqui me fico, na esperança de que alguém possa esclarecer-me sobre esta prática cujo recorte jornalístico é, no mínimo, difícil de vislumbrar.

O Director imposto

Num país como o nosso, não será estranho ir à banca contratar um novo director-geral dos impostos, pela módica quantia de aproximadamente 25.000 euros (5.000 contos/mês)?

A ministra Manuela Ferreira Leite dá a justificação de ser necessário encontrar quadros qualificados à altura das funções da administração fiscal. Mas não é fácil de engolir a ideia de que o novo director geral irá provar, na prática, que merece ganhar mais do que 5 a 7 vezes o ordenado-base dos restantes directores-gerais.

Logo, ou esta contratação é um desperdício ou os actuais directores estão a ser explorados. Em qualquer caso, a explicação dada pela ministra, ou seja, a "necessidade de encontrar quadros qualificados" parece demasiado genérica para justificar uma medida tão invulgar em Portugal como em qualquer outra parte do mundo.

23 maio 2004

Gaia: cidade e cidadania

Ontem fui assistir ao seminário internacional "Cidade, Cidadania e Desenvolvimento Local", que a Junta de Freguesia de Oliveira do Douro, V. N. Gaia, levou a efeito no auditório da conhecida Escola de Gervide.

Gostei. Muito bem organizado, oradores de qualidade e prestígio, auditório confortável e tecnologicamente bem equipado. A presença de uma ex-governante (Elisa Ferreira) e do actual Vice-Presidente da Câmara de Gaia (Poças Martins) conferiu à sessão da manhã uma tonalidade essencialmente prática. Na parte da tarde, vieram as intervenções de carácter mais teórico-compreensivo. Mudaram os estilos e as perspectivas mas manteve-se o alto nível das comunicações apresentadas. Parabéns à Junta.


Registei as seguintes afirmações ou tópicos.


* Elisa Ferreira (Economista, deputada à Assembleia da República):

É essencial que não se perca o sentido do território.

A minha solução é a das 5 regiões pois são precisos espaços onde se pensem políticas fundamentais.

Acho que essa história do défice é uma história louca. Estamos a perder tempo.

Diz-se muito que Portugal é um país pequenino mas não é nada pequenino. Dentro da Europa a maioria dos países são iguais ou mais pequenos do que nós.



* Poças Martins (Engenheiro, Vice-Presidente da Câmara de Gaia):

Uma cidade é essencialmente complexidade e especialização.

No campo as coisas chegam até nós naturalmente. Nas cidades são planeadas.

Para as pessoas se sentirem bem temos que planear bem.

Entre o ambiente e o urbanismo o liberalismo não chega, tem que haver ordem.

Em Portugal há um poder central forte e um poder autárquico forte. Mas não há nada no meio.

Gaia não pode ser planeada sozinha pois insere-se numa área metropolitana.

No caso de Gaia não é hoje possível planear a mais do que 10 anos e nos concelhos em volta, ainda menos...

Em matéria de ambiente, a cidade tem resolvidos os problemas estruturais do saneamento e do abastecimento de água. Subsistem apenas alguns problemas ao nível do lixo e de espaços verdes.

Nos últimos 5 anos foram efectuadas mais de 100.000 ligações ao saneamento, com a comparticipação dos cidadãos nas respectivas despesas.

Todas as praias do concelho de Gaia têm bandeira azul. E sâo as únicas no Grande Porto (a ciddade do Porto não tem nenhuma).

Nâo há em Gaia oferta de emprego qualificado. O objectivo estratégico é, por isso, fazer do concelho um polo de conhecimento e desenvolvimento empresarial. Serão disponibilizados 500 hectares de parques empresariais.

Há 70.000 pessoas que vão todos os dias para o Porto trabalhar, perdendo o tempo em filas. Logo, a aposta será numa política de empregos mas também de mobilidade, através de novas vias rodoviárias, o "metro" e barcos no rio.



* German Vargas (Docente Universitário-Santiago de Compostela):

A democracia criou-se para a participação dos cidadãos mas o princípio "a cada pessoa um voto" (âmbito individual) fica muito aquem da participação comunitária que tem mais a ver com a ideia de "estar com o outro".

Existe uma globalização de informação e discurso mas não uma globalização dos bens e da sua distribuição.

É preciso voltar à comunidade e à participação (acção social) como princípio e método de desenvolvimento local.



* Rogério Roque (Economista, Docente no ISCTE):

O mundo está hoje sujeito a algumas ameaças que podem levar à sua própria destruição e que correspondem a outros tantos desafios: a competitividade, a desigualdade, a sustentabilidade e a diversidade.

A economia solidária é um novo conceito que pretende dar conta de uma especial articulação entre o "social" e o "económico", em que um e outro são colocados solidariamente ao serviço do bem estar dos cidadãos.

19 maio 2004

Excertos de um livro não anunciado (184)

(...) Tomando por base o mesmo critério que permite a distinção entre figuras de retórica e figuras de ornamento ou de estilo da linguagem, poderemos então afirmar que, em geral, os meios de que se serve o orador só serão considerados como retóricos na medida em que se mostrem interconexionados e idóneos à obtenção da adesão. Estão nesse caso, em primeiro lugar, os próprios argumentos, quer quando servem de ligação para transferir para a conclusão a adesão concedida às premissas, quer quando revestem a forma de dissociação, para separar os elementos que a linguagem ou uma tradição reconhecida tinham anteriormente ligado entre si. (...)

18 maio 2004

Que silêncio para os lados de Aviz

Mesmo imaginando que o Francisco deve andar muito ocupado lá por fora, não deixo de estranhar o seu silêncio quanto ao desfecho da final da Taça. A hipótese de ainda ninguém lhe ter dito o resultado, é inverosímel. Que se passa, afinal?

17 maio 2004

Um blogue de "estimasson"

Feliz aniversário para o Almocreve das Petas, onde o masson, sempre a grande altura, diariamente presenteia a blogosfera com a sua notável participação cultural. Parabéns.

15 maio 2004

Não vi a reportagem

José Magalhães viu numa reportagem da SIC, no domingo passado, que certa empresa americana está a tentar obter autorização legal para poder implantar microchips sob a pele (dos seus clientes). Esses microchips, do tamanho de um grão de arroz, assegurariam (entre outras finalidades), a identificação e até a realização de pagamentos (adeus cartões de crédito!).

Foi este interessante tema que o nosso conhecido deputado trouxe à reflexão no seu "Ciberscópio.pt" no suplemento "Bits" do JN de ontem, onde deixa claramente ditas as suas reservas à aplicação desta nova tecnologia, não só em humanos, como também a produtos comercializáveis, já que, mesmo no que respeita a estes últimos, colocam-se "problemas que as autoridades de protecção de dados estão a estudar, para evitar controlos abusivos de parte dos consumidores".

Fiquei com muita pena de não ter assistido a essa reportagem, até porque, a avaliar pelo excelente artigo de José Magalhães, está em causa analisar as repercussões éticas do futuro tecnológico, tópico principal do meu livro "O homem com medo de si próprio".

Ao ritmo a que o actual desenvolvimento técnico-científico se processa, o presente torna-se cada vez mais fugaz, chegando a ser confundido com mera antecipação de futuros possíveis. Ora um desses futuros pode ser, desde já, antecipado, mesmo sem se recorrer à ficção. Basta que imaginemos que tipo de mundo humano resultaria da junção desta tecnologia de controlo (que José Magalhães jocosamente equipara ao implementar de uma "Via Verde" na testa) a uma outra tecnologia, agora de natureza robótica, e que levou já o investigador brasileiro Miguel Nicolelis a conseguir pôr duas macacas a mover um braço robótico à distância, apenas com o pensamento, isto é, recorrendo só à força do desejo (das macacas). Quem duvida que estes dois simpáticos animais, a "Aurora" e a "Ivy" de seus nomes, irão ficar célebres na história do homem?

Assinale-se que esta última tecnologia é a primeira a permitir a transformação da actividade eléctrica do cérebro em movimento mecânico e, nas palavras do próprio cientista-inventor, representa uma passo gigante na tão sonhada interface entre o homem e a máquina.

Não é fácil desenhar o quadro em toda a sua extensão e pormenor, mas, ainda assim, do que se pode desde já deduzir, repare-se como teríamos um cidadão imediatamente identificado em todo o lugar e circunstâncias (logo, sem vida privada) e com a possibilidade de agir à distância apenas com a força do desejo. Que mundo seria esse? A que novo tipo de relacionamentos daria lugar, no amor e na amizade, no trabalho e no lazer, na família e na sociedade? Será que não vamos ter onde guardar os nossos desejos mais íntimos? É certo que, nesse caso, despareceriam os recalcamentos. Mas como iríamos encontrar uma desculpa tão "científica" para justificar as nossas falhas?

13 maio 2004

Livro & Amizade

O Pedro Caeiro, do Mar Salgado, para além de simpaticamente se referir ao lançamento do meu livro "O homem com medo de si próprio", traz-me hoje a boa nova "Se o vento soprar de feição, lá estarei". Mas o vento só pode soprar a favor, quando se trata de pessoas tão amáveis e generosas, como é o caso do Pedro Caeiro. E será uma honra para mim.

Excertos de um livro não anunciado (183)

(...) E se Perelman critica o reducionismo desta última enquanto definição do que seja a retórica, não deixa, simultaneamente, de reconhecer a operatividade do recurso às figuras, nomeadamente quando o orador visa criar o aludido efeito de presença. Importa, por isso, reconhecer que “(...) o esforço do orador é meritório quando ele consegue, graças ao seu talento de apresentação, que os acontecimentos, que sem a sua intervenção teriam sido negligenciados, venham ocupar o centro da nossa atenção” *. Dividir o todo nas suas partes (amplificação) ou terminar com uma síntese destas últimas (conglomeração), repetir a mesma ideia por outras palavras (sinonímia), descrever as coisas de modo a que pareçam passar-se sob os nossos olhos (hipotipose) insistir em certos tópicos apesar de já entendidos pelo auditório (repetição) ou perguntar sobre algo quando já se conhece a resposta (interrogação), são apenas alguns dos modos pelos quais se pode criar um efeito de presença potenciador da própria argumentatividade. Mas, como destaca Perelman, é somente quando a figura de estilo desempenha também uma função argumentativa que ela se torna uma figura de retórica. De contrário, permanecerá no discurso como mero ornamento de linguagem.(...)

* Perelman, C., (1993), O Império Retórico, Porto: Edições ASA, p. 56

11 maio 2004

Livros & Apresentações

Quem não foi ontem ao lançamento do livro "As religiões e a cultura da paz" de Frei Bento Domingues, ali na Casa dos Dominicanos (ao Pinheiro Manso) perdeu a magnífica apresentação que o "nosso" Manuel Pinto fez da obra e do autor. Nota máxima.

Manuel Pinto que, por sinal, irá apresentar também o meu livro "O homem com medo de si próprio", no próximo dia 03 de Junho, no Auditório Municipal de Gondomar, pelas 21 h.

É claro que estão todos convidados. Apareçam.

09 maio 2004

Excertos de um livro não anunciado (182)

(...) Reconhecendo que a presença actua directamente sobre a nossa sensibilidade, Perelman põe, porém, algumas reservas à apresentação efectiva de um objecto com o intuito de comover ou seduzir o auditório, pois daí poderão decorrer também alguns efeitos perversos, tais como distrair os participantes ou orientá-los numa direcção não desejada pelo orador. Diz, aliás, que as técnicas de apresentação, criadoras da presença, são sobretudo essenciais quando se trata de evocar realidades afastadas no tempo e no espaço. O que está aqui em causa, portanto, não é tanto uma presença efectiva mas antes uma presença para a nossa consciência. Estamos, pois, em sede dos efeitos de linguagem e da sua capacidade de evocação que pode oscilar entre uma retórica concebida como arte de persuadir e uma retórica como técnica de expressão literária. (...)

08 maio 2004

O "sal" da blogosfera

O Mar Salgado é um "um senhor blogue" que, além do mais, consegue a proeza blogosférica de conciliar o vigor argumentativo com os naturais limites das boas maneiras. Parabéns, pois, a toda a equipa, pela passagem do primeiro aniversário e um abraço muito especial para o Pedro Caeiro pela amizade com que me tem distinguido.

Uma referência

Quase no limite dos atrasos ainda toleráveis, ou assim suponho, quero juntar-me à festa de aniversário da maior referência da blogosfera: o Abrupto. Parabéns Pacheco Pereira, por tudo. Pelo desassombro, pela seriedade, pela erudição, mas principalmente, pelo superior modo de reflectir sobre as pessoas, sobre as coisas, sobre a vida.

07 maio 2004

A febre da "investigação publicada"

Há dias manifestei-me contra a ideia de que a publicação em revistas internacionais seja critério único do rigor científico de uma dada investigação. Nem de propósito, leio hoje no Público este autorizado depoimento:

Contar os artigos em revistas "aprovadas" não pode substituir uma avaliação cuidadosa da qualidade e do impacto de uma carreira de investigação. Essa avaliação é difícil e falível, como é sempre a "peer review". Mas não temos nenhum método melhor, como não temos nenhum método melhor para governar sociedades modernas do que a democracia representativa, mesmo com todas as suas falhas e irritações.

Fernando Pereira
Professor Catedrático na Universidade de Pennsylvania, em Philadelphia e "Fellow" da American Association for Artificial Intelligence

Enfim, mais um cientista português a trabalhar no estrangeiro e que, por sinal, desde 1975 até hoje publicou "apenas" um livro e 77 artigos, longe, portanto, de cumprir os "mínimos" estabelecidos pela sr.ª ministra da Ciência. Não obstante, já recebeu várias patentes em linguagens de programação, inteligência artificial, processamento da fala, linguística computacional e pesquisa de texto. Vale a pena ler a sua opinião, na íntegra, aqui.

06 maio 2004

Dúvida cruel ou quase

Por razões várias, tenho ficado alguns dias sem escrever no blogue. Percebo, contudo, que o número de visitas se mantém e por vezes supera até os dias em que aqui escrevo. Será que este espaço se torna mais atractivo quando fico "calado"? Dúvida cruel...

03 maio 2004

UBI et Orbi - Breves notas sobre o VI SOPCOM (4)

O DISCURSO DO CONGRESSO

O discurso que o Prof. António Fidalgo, da UBI, proferiu na sessão de abertura do III SOPCOM não deixou ninguém indiferente. Durante os quatro dias que durou o evento, não se falava de outra coisa nos intervalos das respectivas sessões temáticas. O presidente do congresso fora muito oportuno, frontal e certeiro – dizia-se.

Confesso, por isso, que foi com muita estranheza que tomei conhecimento dos comentários que António Granado fez no seu post de 22 de Abril (que aqui já reproduzi), nomeadamente quando, a propósito do modo como o presidente do Congresso se referiu à recente avaliação dos centros de investigação na área das ciências da comunicação, afirma:

* apesar de respeitar muito o António Fidalgo não posso estar em mais desacordo com ele

* ao salientar que as classificações dadas não foram as esperadas

* Se os investigadores portugueses não conseguem publicar em revistas internacionais, nem atingir os patamares da ciência a sério, não é mudando os critérios de avaliação e escolhendo uns amigos para nos avaliar que alguma vez conseguiremos atingir a excelência

Com a devida vénia pela imitação do estilo, devo também dizer que apesar de respeitar muito o António Granado, não posso estar mais em desacordo com ele. E vejamos porquê:


1) Porque não se percebe onde está afinal o seu desacordo

A verdade é que do confronto do discurso do Prof. António Fidalgo com os comentários críticos de António Granado não transparece a existência de qualquer desacordo entre ambos. Ou seja: não há uma única afirmação contida no discurso do Prof. António Fidalgo que tenha sido contraditada por António Granado. O que, por si só, parece desqualificar a própria crítica ou discordância.


2) põe palavras na boca do presidente do congresso que ele não proferiu

É o caso da passagem em que refere ou insinua que o Prof. António Fidalgo terá salientado que as classificações não foram as esperadas, quando o que o presidente do congresso disse foi, mais exactamente, que, comparando o que se passa na Filosofia ou na Linguística com a situação dos centros de investigação nas Ciências da Comunicação o quadro não é favorável, sobretudo se atendermos à classificação obtida. Ora da afirmação de que o quadro não é favorável, sobretudo, se atendermos à classificação obtida não se segue que as classificações foram inesperadas ou que como tal tenham sido consideradas.


3) a sua crítica errou o alvo

De facto, quando António Granado, adianta que Se os investigadores portugueses não conseguem publicar em revistas internacionais, nem atingir os patamares da ciência a sério, não é mudando os critérios de avaliação e escolhendo uns amigos para nos avaliar que alguma vez conseguiremos atingir a excelência está, em abstracto, a fazer comentários muito pertinentes (sem conceder que a publicação em revistas internacionais seja critério único do rigor científico) mas que, em concreto, se mostram inteiramente desajustados ao alvo da sua crítica e por duas principais razões.

Primeiramente, porque o Prof. António Fidalgo, no seu discurso, não se referiu sequer à (polémica) publicação internacional de artigos científicos, nem à nebulosa concepção de “ciência a sério” (seja lá isso o que for), nem muito menos aos critérios de avaliação a seguir pelo respectivo júri de apreciação dos respectivos centros de investigação. Isso são outros tantos temas, qual deles o mais interessante, mas que não foram objecto do discurso em causa. E nem o livre exercício crítico permite que se responsabilize alguém por aquilo que não afirmou.

Em segundo lugar, porque quando António Granado diz - a propósito do discurso do Prof. António Fidalgo - que não é mudando os critérios de avaliação e escolhendo uns amigos para nos avaliar que alguma vez conseguiremos atingir a excelência deixa no ar, ainda que involuntariamente, a insuportável ideia de que foi isso que o presidente do congresso defendeu no seu discurso (o que é falso) e, consequentemente, a possibilidade do Prof. António Fidalgo alguma vez recorrer a tal expediente, ideia que, como é óbvio, só poderia passar pela mente de quem não o conhecesse. E sei que esse não é o caso do António Granado. Logo, a frontalidade da sua crítica, sendo de saudar, não chega, contudo, para justificar tamanho desacerto e injustiça.