30 maio 2011

As sondagens do Pedro Magalhães: nem veneração acrítica nem rejeição total

Comprei-o num dia e li-o no outro, de uma só vez. Muito acessível, mas sem conceder no rigor do que é essencial. A natureza metonímica das sondagens: "Tomar o todo pela parte"; a errância na matéria por parte do líder do "Partido Azul"; o erro amostral e a curva da distribuição normal (ou curva de Gauss); o cálculo da margem de erro ou intervalo de confiança; a incerteza que pode ser estimada e a suposta influência das sondagens na orientação do voto, são apenas alguns dos tópicos que mais despertaram a minha atenção. Mas o livro está recheado de ensinamentos e questões de grande oportunidade e interesse (*) que permitem melhor interpretar o que cada sondagem nos pode dizer. Significa isto que se o Pedro está de parabéns, fui eu que mais enriquecido fiquei.

(*) Também para a retórica

Entre Deus e o Diabo: o valor do mercado

"O mercado tem uma lógica que faz com que não se ocupe de valores. Tem por ideal a rentabilidade, a eficácia, o lucro. A sua motivação é a concorrência. Não há aí valores éticos. Este mundo, de alguma forma, cria o ideal do dinheiro, do sucesso e pode, de certa maneira, ser niilista, porque, quando se trata de dinheiro, quer sempre mais. Não há um fim. É o dinheiro pelo dinheiro. Ganhar por ganhar. E, se não ganhas, morres. A moral não existe nesse terreno.

Gilles Lipovetsky
Atual, 28 Maio 2011, Expresso

Nada de novo, é certo, mas nunca é demais recordar. O ideal da democracia só agradece.

Vozes da radio

No rádio do meu carro ouvi hoje Mário Soares dizer de José Sócrates que "é preciso pô-lo no sítio". O que é que ainda irei ouvir mais?

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29 maio 2011

Malta autoriza o divórcio

Autorizar o divórcio em 2011? Que arrojo. Ainda bem que que será só para casais já com 4 anos de separação no currículo. É que assim vai dar para tudo. Até para que ao fim de tanto tempo separados, já sintam saudades um do outro. E aí, já se sabe: matar as saudades pode ser o mesmo que matar o divórcio. Não está mal- pensado, não senhor.

Com o Fábio Coentrão correu bem melhor

Leio e não acredito: Siza Vieira, Souto Moura e Alcino Soutinho cancelam pequeno-almoço com Sócrates. O que terá passado pela cabeça de tão prestigiados arquitectos? Que iriam falar de arquitectura em tempo de campanha eleitoral? Valha-me Deus.

24 maio 2011

Tópicos da retórica socrática


"O que o país precisa é de um Governo com uma liderança forte e preparada. O país dispensa as aventuras e os radicalismos ideológicos" ( * )
José Sócrates
(Na TV com Passos Coelho)

Repare-se na eficaz fórmula retórica a que Sócrates aqui recorre:
O que o país precisa é de X. O país dispensa Y.
Esta fórmula é enquadrável na famosa teoria aristotélica dos lugares (topicos) e representa um verdadeiro "lugar de necessidade", já que pressupõe a superioridade do que é necessário (ou preciso) sobre o que se dispensa. Ora os lugares retóricos, segundo Perelman, representaram e continuam a representar importante papel como ponto de partida das argumentações. Sócrates sabe disso como poucos. Neste caso, o lugar retórico a que deitou mão é, digamos assim, uma forma vazia, na medida em que lhe permite substituir tanto a varíavel X como a variável Y por aquilo que mais lhe interessa dizer. Foi o que fez, com a mestria do costume: partindo da persuasiva ideia geral de que o que é preciso é melhor do que o que se dispensa (seja lá o que for), conota o seu principal adversário eleitoral com a pior das desqualificações políticas: a aventura e o radicalismo. Que a afirmação seja verdadeira ou falsa e a desqualificação justa ou injusta, isso agora não interessa nada. O debate já foi.

( * ) Legenda do implícito:
X - "um líder forte e preparado como eu"
Y - "as aventuras e o radicalismo do meu adversário"

22 maio 2011

Retórica da notícia ou opinião camuflada?

O Jornal de Notícias de ontem titulava em primeira página, tendo por fundo a fotografia dos dois principais candidatos:

Sócrates confiante Passos hesitante
E quando o leitor esperaria encontrar neste título um primeiro sinal de notícia sobre como decorreu o debate, viu-se antes confrontado com a veia psicológica do seu autor, que mais importante achou descrever os estados de alma dos dois intervenientes. Nem me vou pronunciar sobre o seu fundamento ou acerto. Não é isso que está em questão. Do ponto de vista jornalístico, o que está em questão é que a notícia foi rebate falso, pois as págs. 2 e 3 para que o título remetia, eram integralmente preenchidas com a opinião de diversos comentadores. Incluindo a dos dois jornalistas que assinaram a peça sem avançar com um único argumento que permita compreender a razão de ser do respectivo título. Não faltará, por isso, quem pense que, neste caso, mais do que dizer o que se passou, o jornal disse apenas o que queria dizer.

21 maio 2011

A manipulação vista de dentro

"Hoje, há vários canais a entrar em casa das pessoas, há jornais, há internet nos telemóveis, há mails nos telemóveis, há redes sociais. Hoje é impossível manipular as pessoas. Só se deixa manipular quem quer."

José Alberto Carvalho
(Notícias TV, 20 a 26 de Maio 2011)

Que o manipulado tem uma parte da responsabilidade na sua própria manipulação, está fora de causa. Mas que um homem de televisão deste gabarito e com tantos anos de tarimba, venha afirmar que é impossível manipular as pessoas e de que só se deixa manipular quem quer, é um claro sinal de que vê mal ao perto. Toca a atualizar essas lentes, sr. diretor de informação da TVI.

17 maio 2011

Intimidade digital


Querido blogue:
Cá estou, de novo. Nem sei como foi isto possível, mas o certo é que há mais de 6 meses (!) que não te oferecia uma só palavra. Outros caminhos, novas responsabilidades, enfim, exigências maiores para dias cada vez mais pequenos, explicam este grande intervalo. Mas nada explicaria uma desistência, porque como já te disse e redisse, não sei desistir e tu, querido blogue, pelos vistos, muito menos, a avaliar pela galhardia com que te aguentaste aqui, a pé firme, quedo e mudo mas sempre receptivo à curiosidade de quem passa e em ti se adentra. Quase sinto remorsos, por isso (ou, no mínimo, uma certa ingratidão), pela distância a que de ti me mantive, meses a fio. Perdoa-me. E até breve, sim?