29 junho 2003

Confiança política?

A propósito do Governo ter anunciado o início de uma reforma da administração pública, António Barreto traz ao seu "Retrato da Semana", no Público de hoje, o caso muito especial da confiança política em nome da qual, sempre que um partido ganha as eleições desata a nomear "centenas e centenas de directores gerais, presidentes, gestores e outros" e, naturalmente, a demitir outros tantos. Trata-se, sem dúvida, de um verdadeiro problema, ao qual talvez nenhum de nós deva ficar alheio. Por mim, percebo sem dificuldade que os novos governantes precisam de ter nos mais altos cargos da administração gente da maior confiança pessoal e profissional. Quer dizer, gente de carácter e competência tão inquestionáveis, que por si só, permitam fundadamente antever e esperar a melhor execução possível dos projectos, medidas ou meras orientações políticas traçadas pelo governo. Mas já tenho sérias reservas quanto à necessidade da aludida confiança política num director-geral quando, como se sabe, os próprios governos dos dois maiores partidos portugueses têm contado com vários ministros "independentes". Pode ser que este invocado conceito de confiança política seja mais nebuloso do que estou a pensar, mas ainda assim, ou até precisamente por isso, o alerta de António Barreto parece fazer todo o sentido e reclamar a nossa atenção urgente. Principalmente porque "essa regra serve, entre nós, para tornar o Estado refém dos partidos vencedores. É por causa dessa malfadada regra que (...) se dá para toda a administração o exemplo do arbitrário e do favoritivismo (...). Que se tolhe, cada vez mais, a competência da administração, que assim vive sob a tutela dos gabinetes políticos e nem sequer assume as suas responsabilidades. Que nao se conseguem estabelecer as fundações de uma razoável autonomia administrativa. E que a administração vive e vegeta cativa do governo e não responde perante a sociedade ou outras instituições (como o Parlamento, por exemplo). Se esta reforma da administração pública não atacar, com energia, a questão da confiança política, podemos rezar-lhe pela alma". Aguardemos...

28 junho 2003

Esquerda, Obsessão e Marretas

Mais três "links" para outros tantos "blogs" que estou a ler diariamente, com o maior agrado.

(Um abraço especial para o meu amigo João Canavilhas, do Blogue dos Marretas)

27 junho 2003

"A opinião deve vir sempre depois da informação" (Pedro Mexia)

Aqui está uma frase de grande efeito retórico. A gente lê-a e percebe a sua incontornável força persuasiva. Apetece tudo menos discordar. De facto, quem teria coragem de duvidar que "A opinião deve vir sempre depois da informação"? E no entanto... a afirmação pode ser falsa, ou pouco rigorosa, nomeadamente se a "informação" a que na frase se alude respeitar a um facto ou acontecimento sobre o qual há que opinar. Será o caso, por exemplo, sempre que a opinião deva incidir sobre um acontecimento futuro, isto é, quando o comentário tem por base uma mera previsão. Aí­, não sendo possível estar informado sobre algo que ainda nao se realizou, dá-se exactamente o inverso do que a frase anuncia: a opinião... deve vir sempre antes da informação. Posição que, contudo, já não se poderá manter se essa informação tiver a ver apenas com os conhecimentos necessários a quem se proponha emitir uma opinião sobre qualquer assunto. E parece óbvio que é neste segundo sentido que Pedro Mexia usa o termo informação. Veja-se aqui o contexto em que a afirmação em tí­tulo foi produzida (post de Pedro Mexia em 23.06.03). Em qualquer dos casos, a frase é eminentemente retórica. Não apenas pela sua literalidade convincente mas também pela ambiguidade a que o locutor recorre para tirar o benefí­cio de comunicar o que pensa sem precisar, afinal, de o dizer. Como seria o caso de, com tal frase, Pedro Mexia ter chamado de ignorantes aos que falam de reacção corporativa por parte dos "bloggers". O que manifestamente não chamou... nem deixou de chamar.

Devagar se vai ao longe

É o que me apetece dizer sempre que surge uma nova dificuldade técnica nesta minha fase de iniciação à arte de "bloguear". Mas o que interessa é que estou optimista. Depois de ter descoberto como se "linka" estou agora a estudar o "Template" com paciência criptográfica. Nos intervalos, continuo a inteirar-me do que se passa na "blogosfera", em geral.

25 junho 2003

Os blogs que eu leio

Descobri como se "linka". Para começar, coloquei o Abrupto e o Dicionário do Diabo. Por uma razão simples: são os que mais me chamaram a atenção e que estou a ler diariamente. Mas, naturalmente, outros se irão seguir. É só dar tempo à pesquisa e correspondente leitura. O critério para "linkar" já o título o anuncia: serão os blogs que eu leio. Só isso. E tudo isso.

24 junho 2003

Vinte e quatro horas depois

Já tenho algumas ideias sobre o que devem ser os meus primeiros passos neste blog. E a primeira é a de que, ao entrar numa comunidade (para mim) ainda desconhecida, convém dar uma vista de olhos pelos vizinhos, seleccionar aqueles que mais se adequam ao meu núcleo de valores e interesses. Comecei, por isso, a ler atentamente alguns "blogs" que me parecem servir de referência para quem agora se inicia. É o caso dos seguintes: Abrupto, Dicionário do Diabo, Flor de Obsessão, Blog de Esquerda e Portugal dos Pequeninos, entre outros (ainda não aprendi a colocar os links). Em breve farei o respectivo balanço. E depois... calmamente, começarei a definir o meu próprio caminho.

Bloguices

Parece que o reducionismo "esquerda-direita" está para ficar. Que pena, porque, além do mais, ser de esquerda ou de direita é algo que nem sempre depende da vontade do próprio. Em certos casos, nao depende mesmo nada. Trate-se de situar o alinhamento partidário de alguém ou de prefigurar apenas o seu pensamento ideológico-filosófico, a verdade é que nesta dicotómica classificação de "esquerda-direita", decisivo é o "lugar" dos outros. Se o outro está politicamente à minha direita, é óbvio que não tenho como fugir da esquerda. E vice versa. Oh pobreza conceptual! Mas vale pelo relato (e pelo exagero):

Luta de 'blogs'Os «blogs» - espaços privilegiados de opinião e polémica - começam a ser de visita obrigatória para quem não quer perder o fio à  actualidade. Mas na multo politizada «blogoesfera» nacional, onde personalidades conhecidas de Esquerda e de Direita se digladiam com galhardia, a Direita ia levando vantagem, graças ao «blog» «A Coluna Infame», criado por Joao Pereira Coutinho (colunista de «0 Independente»), Pedro Mexia e Pedro Lomba. Mas eis que, num dramático «volte face», um dirigente do Bloco de Esquerda conseguiu silenciar «A Coluna Infame». Tudo começou quando Daniel Oliveira, escriba residente do «Blog de Esquerda», catalogou Pereira Coutinho «de extrema-direita». Este, irritado, baixou o nivel da conversa, abrindo uma dissensão com os seus colegas de «blog» que acabou por levar ao encerramento do «site». Seguramente satisfeito com a proeza, Daniel Oliveira (que tambem é assessor de imprensa do Bloco) parece já ter escoIhido novo e mais ambicioso alvo... a abater: o «Abrupto», «blog» pessoal do social-democrata José Pacheco Pereira, agora o «blog» mais brilhante da Direita portuguesa.
in EXPRESSO 21 Junho 2003 / (ÚNICA)

23 junho 2003

Estratégia, precisa-se

Ainda mal comecei a pensar em termos bloguerianos e já concluí­ que isto de ficar aqui a palavrear seja lá sobre o que for, há-de ter muito pouca piada se não saltar aos olhos de mais ninguém. Preciso, por isso, antes de mais, de uma estratégia para chegar a um auditório selecto, quer dizer, um auditório que só repare no que tem um certo valor. Um auditório que, basicamente, não repare em tudo. Porque em termos de notí­cia ou destaque, como se sabe, o tudo é o nada. E do nada venho eu. Preciso antes de tudo, que alguém repare urgentemente ou neste espaço ou em mim, já nem faço questão. Vital é que alguém vire a cabeça e lance um olhar quando passar por perto. Para que não me fique esta estranha sensação de ver a banda a passar. É isso: estratégia, precisa-se... alguém pode ajudar?

Tomo a palavra para dizer que

Sou do Porto. É véspera de S. João. Segundo a tradição, deveria lançar um balão. Como sou mais pro-moderno, resolvi lançar um blog. Este. Um blog retórico. Perdão: um blog sobre retórica. Que o mesmo é dizer: sobre argumentação, sobre persuasão, sobre convencimento e até sobre sedução... pela palavra, é claro. Logo veremos o que vai sair daqui.