25 agosto 2006

Viajar de carro

É ir por onde quero, é ver por onde vou. É parar, acelerar, seguir em frente ou fazer desvio. É ditar as horas ao relógio. É ir sem deixar de ser quem sou. Esperam-me, por isso, mais 1.000 km de prazer quando partir daqui a algumas horas para a Costa Blanca da minha eleição. Volto quarta ou quinta-feira. Fiquem bem.

O homem de palha (espantalho)

A falácia do homem de palha é um dos pecadilhos mais frequentes no domínio da interacção comunicativa e consiste, basicamente, em deturpar as idéias do oponente (enfraquecendo-as) para, de seguida, passar a atacá-las de forma demolidora. É uma técnica de argumentar para o "show" e para a confusão, fazendo erradamente crer que os verdadeiros argumentos do oponente foram rebatidos. Um artifício, ao fim e ao cabo, para ocultar ou fazer distrair da realidade e que, muito provavelmente, deve o seu nome a uma certa analogia funcional que mantém com os famosos espantalhos - bonecos de palha (e trapos) imitando pessoas reais - que eram colocados nos campos para afugentar as aves, das sementeiras, das árvores e das vinhas. Como tantas vezes terá acontecido em Macinhata de Seixo, pequena localidade de Oliveira de Azeméis outrora muito ligada ao cultivo da cereja e onde anualmente se repete a exposição “Macinhata Espanta”. Foi uma parte desta exposição, que valeu à freguesia a "entrada para o Livro Guinness World Records no ano de 2000, pelo total de 1113 espantalhos patentes em exposição" que, por mero acaso, encontrei há dias nas galerias do Centro Comercial Carrefour, em Gaia. Divertidíssima. Por sorte, levava a “digital” comigo. Digam lá se estes espantalhos não são um espanto? Cheios de palha mas sem falácias…

24 agosto 2006

Excerto de um livro não anunciado (333)

A persuadibilidade da fonte, porém, não se joga apenas ao nível das características estritamente pessoais do persuasor, antes vai depender também das estratégias a que este recorra. Uma dessas estratégias - de resto, muito estudada experimentalmente - é a da administração de recompensas ou punições. E, porque aqui nos ocupamos tão somente da persuasão discursiva, ficar-nos-emos pela investigação que mais directamente lhe diz respeito, ou seja, a que se subordina ao condicionamento verbal das atitudes. Segundo Petty e Cacioppo, um grande interesse teórico por este tipo de condicionamento operatório surgiu a partir do momento em que Greenspoon (1955) levou a efeito uma experiencia na qual usou recompensas verbais para mudar aquilo que as pessoas deveriam dizer. Ele foi assim capaz de aumentar a frequência com que a pessoa usava um substantivo plural pronunciando simplesmente um “mm-hmmm” cada vez que o sujeito usava um. Hildum e Brown (*) formularam então a hipótese da assunção de atitudes poder ser condicionada da mesma maneira e resolveram testá-la junto dos estudantes de Harvard aos quais foi perguntado, telefonicamente, que atitudes tinham perante o sistema educacional de Harvard. O inquérito processou-se da seguinte forma: a metade dos estudantes inquiridos, o experimentador dizia “good” ou “mm-hmmm” cada vez que um estudante elogiava o respectivo sistema; à outra metade dos estudantes o experimentador dizia “good” ou “mm-hmmm” cada vez que um estudante criticava o dito sistema educacional. Os dois investigadores concluiram assim que os estudantes que tinham sido recompensados por dizerem bem do sistema fizeram mais comentários positivos acerca do mesmo que os estudantes que tinham sido recompensados por dizerem mal.

(*) Cit. in Richard E. Petty e John T. Cacioppo, (1996), Attitudes and Persuasion: Classic and Contemporary Approaches, Oxford: Westview Press, p. 47

Calinada poética

Gosto muito de poesia. O pior são os poemas...

10 dias depois

A quem possa interessar:

de novo, com o Internet Explorer. Texto e fotos. O "sistema" deu sinal de si, aliás, muito educadamente.

Hello,
Your blog has been reviewed, verified, and cleared for regular use so thatit will no longer appear as potential spam. If you sign out of Blogger andsign back in again, you should be able to post as normal. Thanks for yourpatience, and we apologize for any inconvenience this has caused.
Sincerely,The Blogger Team

23 agosto 2006

A suspeita mistura de factos com opinião

Fiquei com algumas dúvidas sobre o que Pacheco Pereira quer dizer quando escreve:

O estatuto de colunas de crítica como a que [Eduardo Cintra Torres] mantém no Público é ambíguo, como aliás acontece com muito do que hoje se escreve nos jornais em peças assinadas que misturam factos com opinião.

É que, a meu ver, não há volta a dar: toda a coluna ou "peça assinada" mistura factos com opinião. E até é bom que assim seja. Porque os factos são uma excelente referência para a validação (ou não) das respectivas opiniões. O problema só nasce quando o colunista apresenta a sua opinião como de factos se tratasse em vez de a adequar à realidade dos factos, o que não me parece ter sido o caso. Diz Pacheco Pereira, e muito bem, que um comentário crítico "em principio não é uma notícia". Mas nem isso retira ao analista ou comentador o direito de trabalhar com toda a informação de que dispõe. Muito menos estou a ver que, no caso em apreço, recaísse sobre o responsável pela crónica o ónus de primeiramente se certificar se o Público a iria publicar ou não.

22 agosto 2006

Promessa retórica

A partir de hoje este blogue será muito mais claro. No template, lógico.

Excerto de um livro não anunciado (332)

A atractividade é um outro factor de influência na modificação das atitudes. Como dizem Petty e Cacciopo, dois comunicadores podem ambos ser reconhecidos especialistas numa dada questão, mas o facto de um ser mais simpático, mais apreciado ou fisicamente mais atractivo que o outro, confere-lhes diferentes graus de persuadibilidade. Foi isso mesmo que Chaiken (1979) procurou comprovar quando pediu a um grupo de estudantes - previamente seleccionado em função das suas características físicas e da aptidão para comunicar - que efectuassem uma comunicação persuasiva aos seus colegas. A tarefa consistia em obter destes a resposta a um questionário de opinião e a assinatura de uma petição. No final, Chaiken constatou que os estudantes fisicamente mais atractivos foram mais persuasivos do que os comunicadores fisicamente menos atractivos. Subsiste, porém, a dificuldade de estabelecer quais as características do persuasor que podem ser tomadas como índices de atractividade, quer no plano da sua aparência física quer no da simpatia pessoal. Em que medida a atracção entre as pessoas deriva do respectivo aspecto físico? O que é uma pessoa atraente? É dificil, se não impossível, encontrar as respostas certas, além do mais, porque não se pode ignorar que tanto a atracção que tem por base o aspecto físico como a que se fica a dever à irradiação de uma particular simpatia manifestam-se sempre numa concreta dimensão relacional, através da adequação ou ajustamento das respectivas subjectividades, o que, só por si, afastaria toda e qualquer tentativa de apressada generalização. No mesmo sentido crítico vão Bitti e Zani quando, depois de acolherem a ideia de que a atracção entre as pessoas e, portanto, entre a fonte e o receptor, conduz a semelhanças de atitude, vêm, porém, dizer que, apesar da evidência de tal fenómeno, a verdade é que ainda “não se conseguiu definir com exactidão qual o tipo de semelhança que deve existir (no plano ideológico, ou social, ou mesmo simplesmente superficial) para influenciar as atitudes de um sujeito” (*).

(*) Pio Ricci Bitti e Bruna Zani (1997), A comunicação como processo social, Lisboa: Editorial Estampa, (2ª. ed.), p. 248

21 agosto 2006

Opiniões bem argumentadas

Hoje é dia de "DIA D", no Público. Não pude ainda deitar os olhos à edição desta segunda-feira mas tenho na minha frente o exemplar da semana passada de que aliás recortei dois artigos. Sou muito assim. Não gosto de me desfazer de textos que apresentam uma opinião bem argumentada e que, além do mais, abrem novos caminhos à compreensão crítica do mundo e da vida. Se o tempo é escasso, como tantas vezes sucede, recorto para ler mais tarde. E é tarde e a más horas que folheio o anterior DIA D para me deter sobre os dois textos que mais atenção e interesse me despertaram: "A lista dos devedores" de João Caetano Dias, do Blasfémias e "O mito dos custos de transição" de André Azevedo Alves, do Insurgente. Bom, só tenho a dizer que quem perde textos destes, nos blogues ou na revista "DIA D", não sabe o que perde.

20 agosto 2006

O Blogger e a blogosfera

Concerteza que não passou pela cabeça de ninguém, muito menos pela minha, que o Retórica e Persuasão estivesse a ser alvo de um específico ou propositado ataque por parte do Blogger. Haja dó. A questão é bem outra e passa pelo fundado receio de que procedimentos deste tipo se generalizem na blogosfera, privando os editores de publicarem com a liberdade temática, funcional e temporal de que têm desfrutado até aqui.

Não me agarro a uma leitura contratualista mas também não concedo que a gratuitidade do Blogger lhe confira um poder fáctico ilimitado. Os blogues (e seus editores) são a essência do Blogger no sentido de que sem eles o sistema não existiria ou, no mínimo, não seria necessário. Só por isso já é recomendável, se não exigível, o respeito (mútuo) pelas justas expectativas e legítimos interesses de cada uma das partes. Se não tenho vocação de guerrilheiro (e não tenho) seja-me permitido, ao menos, bater-me pelas melhores razões.

No post anterior "Informação-Aviso" creio ter deixado suficientemente claro que, no âmbito da minha estrita esfera pessoal, não atribuo qualquer importância ao assunto. O que me preocupa, e aquilo para que quis chamar a atenção, escrevi-o na parte final:

Mas a ideia de uma detecção automática de spam ou seja lá do que for na blogosfera, não augura nada de bom. Pelo que conheço de outros ambientes virtuais, regra geral, os sistemas automáticos de detecção e sanção de comportamentos menos éticos "disparam" cegamente em todas as direcções e penalizam, assim, quem não devem penalizar. Terá começado o "fogo amigo" na blogosfera?

Muito bem anda, por isso, o Pedro Cardoso, do Dolo Eventual, quando faz a pergunta fundamental:

"Por que critérios automáticos se orienta o Blogger na detecção anti-spam, a ponto de concluir que um blogue (...) possui características de spam-blog?"

Nem mais.

Jornalismo mais cuidado

Há 15 dias atrás critiquei aqui o facto de uma jornalista ter aberto consultório de beleza nas páginas da Notícias Magazine, imediatamente a seguir a uma peça onde perorava sobre os diferentes métodos de depilação. Na altura, chamou-me igualmente a atenção que, depois de assinar a peça propriamente dita apenas com o seu nome, tenha optado por se intitular de Jornalista no espaço reservado ao "Consultório". Era evidente que, do ponto de vista jornalístico, algo não batia certo.

A boa notícia é que a Notícias Magazine já corrigiu o erro e aboliu, pura e simplesmente, o malfadado consultório (ver edição de hoje, p. 64). A má notícia é que Vera Saldanha volta a assinar um texto "de beleza", agora sobre "Cuidados a ter com o peito", como se de uma verdadeira especialista se tratasse, não mencionado a menor fonte de tanta e tão variada sabedoria prática. É pena, além do mais, porque tem um bom exemplo muito perto de si (4 páginas adiante na mesma revista) quando a jornalista Sofia Barbosa termina o seu texto sobre "mais saúde para todos" com a bem visível indicação: "Dados recolhidos no livro Viver em Forma Todo o Ano. Proteste". Faz alguma diferença.

Teste...fotográfico

19 agosto 2006

A retórica da "verbosidade mínima"

Estaremos de acordo: entre um interlocutor tão lacónico que nada de seguro nos permite concluir e um picareta-falante que se repete até à (nossa) exaustão, venha o diabo e que escolha. Mas também não é fácil decidir a priori as exactas palavras que exactamente diriam o que se quer dizer. Parece defensável, por isso, que a sensibilidade a tão humana dificuldade comunicacional nos deva imbuir de alguma tolerância receptora, ao invés de nos atirar para o exagero da deliciosa história que o Paulo Cunha Porto hoje nos conta no seu cada vez mais necessário Misantropo Enjaulado. Destaco aqui apenas as palavras que o "magistrado" dirigiu ao "diplomata", mas todo o post é, em si mesmo, imperdível:

«era supérfluo dizer que o saco estava vazio, por ser coisa que todos viam, bem como a exortação a que o enchessem, porque não podia ser outro o sentido da apresentação de tal objecto naquela reunião».«Para a próxima vez, menos palavreado!».

Esta história remete-nos para um certo tipo de discurso retórico muito frequente, ainda hoje, na nossa vida pública. Repare-se na quantidade de palavras a que o magistrado teve de recorrer para censurar a tão despojada expressão do diplomata «Está vazio. Enchei-o!». E tudo isso somente para declarar que era tão supérfluo dizer que o saco estava vazio, "por ser coisa que todos viam" como exortar a que o enchessem "porque não podia ser outro o sentido" da sua apresentação. Ou seja, o diplomata deveria apenas ter mostrado o saco e ficar de bico calado.


Só que se tudo era assim tão evidente, de bico calado deveria ter ficado igualmente o juiz, pois, como se sabe, o que é evidente não carece de ser argumentado. Repito: a história é óptima. Mas, concluindo, diria que o seu principal protagonista - o magistrado - não figura bom exemplo para os nossos deputados. Se há coisa que estes já fazem e com o maior sucesso, é condenar os vícios... dos outros. Não lhe parece, caríssimo Paulo?

Blogomania

Já posso escrever mas ainda não consigo editar fotos. As últimas foram colocadas por pessoa amiga que está fora de Portugal e que me tem tentado ajudar. Continua por isso a valer o que aqui escrevi relativamente aos sistemas de detecção automática (e cega) de spam na blogosfera adoptados pelo Blogger.

16 agosto 2006

Jóias da Coroa


Palace Hotel do Bussaco
e

Convento de Santa Cruz do Bussaco

Luso - Portugal
(13 de Agosto de 2006, 17 h)

14 agosto 2006

Quem me vale?

Post provisório:
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De repente, vi-me sem poder editar (texto ou imagens) neste blogue. Aparecem apenas as seguintes indicações:

Erro na página.

Problemas com esta página Web podem impedir a visualização ou funcionamento adequados.

Linha: 404
Car: 5
Erro: Permissão negada
Código: 0
URL:
http://.blogger.com/post-create.g?blogID=5505015

Por especial favor alguém me diz como sair deste buraco negro técnico?

Obrigado.


Cozinhados na mesa

Hermínio Loureiro, segundo o Público de ontem:

"É à mesa de refeições que traça estratégias, cultiva conhecimentos, aprofunda relações, faz novos amigos. Foi à mesa que decidiu avançar para a presidência da Liga, e foi à mesa, rabiscando num guardanapo de papel, que traçou a estratégia para lá chegar".

Fatal como o destino: onde há futebol há cozinhados.

13 agosto 2006

Deputado a tratar da bola

Segundo afirma o Público de hoje, Hermínio Loureiro, o recém-eleito presidente da Liga, vai manter-se como deputado, pelo menos, até que a profissionalização da respectiva Direcção lhe assegure um salário. Mas será que o exercício da Presidência da Liga (bem como a persistente campanha eleitoral em que Hermínio se envolveu), ainda pode ser classificado como "trabalho político"?

Simetria promíscua

Falava-se de promiscuidade entre o futebol e a política quando um dirigente desportivo entrava na política. O que se deve dizer agora quando um político e ex-governante corre o país em campanha eleitoral para chegar a um cargo... no futebol?

11 agosto 2006

Burla jornalística


No título:

Jesualdo Ferreira é o novo treinador

No corpo da notícia:

Jesualdo Ferreira deverá ser o novo treinador do FC Porto.

08 agosto 2006

Excerto de um livro não anunciado (331)

Assim, do ponto de vista da fonte, os investigadores têm procurado determinar quais são os principais factores ligados à figura do persuasor que concorrem para a modificação de atitude do auditório, que o mesmo é dizer, para o sucesso da respectiva argumentação. Em lugar de grande destaque surge desde logo, a credibilidade, que, na linha de Carl Hovland e seus seguidores, é geralmente associada à perícia ou competência na matéria em questão, mas também à posição de prestígio social do persuasor e a outras características pessoais, nomeadamente de cariz ético, reconhecidas pelos respectivos interlocutores. A experiência-tipo consiste em apresentar aos sujeitos experimentais determinadas declarações sobre um certo tema, quer insertas em artigos de jornais ou revistas quer em gravações de discursos e atribuí-las a pessoas com alto ou baixo grau de credibilidade. O exemplo de que nos falam Bitti e Zani, é o de um caso de uma palestra sobre a desvalorização da moeda cuja autoria, ora era associada a um prestigiado e imparcial professor de economia ora a um empresário que iria ficar muito prejudicado nos seus negócios com tal desvalorização. O que se verificou foi que o auditório era nitidamente mais influenciado no primeiro caso do que no segundo, ou seja, confirmou-se que “uma comunicação é julgada de um modo mais favorável quando apresentada por um sujeito de maior credibilidade que quando apresentada por outro de credibilidade menor” (*). Bitti e Zani assinalam porém três reservas a esta conclusão que afastam a possibilidade da sua aceitação incondicional. Em primeiro lugar, dizem, há modificações quando um perito produz comunicações de carácter instrumental mas não quando ele fala de valores. Em segundo lugar, situações existem em que, mesmo nas questões de foro técnico, é mais influente um líder de opinião local do que um perito de fora. Finalmente, apesar de ser de esperar que um auditório se deixe influenciar mais facilmente por uma fonte tida por imparcial, há contudo provas empíricas que indicam o contrário.

(*) Bitti, P. e Zani, B., (1997), A comunicação como processo social, Lisboa: Editorial Estampa, (2ª. ed.), p. 247

06 agosto 2006

Jornalismo depilado



Notícias Magazine, de hoje, página 68, secção de "beleza corpo":

O texto intitula-se "Guia da depilação em casa" e é uma sucessão de conselhos quanto às diferentes maneiras de "acabar com os pêlos em casa, pelas suas próprias mãos". A prosa tem tudo a ver com o assunto. "A tradicional cera quente já não atinge as altas temperaturas de outrora, por isso hoje chama-se 'cera morna' ou de 'baixa temperatura'. Arranca os pêlos com mais suavidade do que a cera fria, sem os partir, e os resultados duram várias semanas. Aquece-se no microondas mas, mesmo assim, é preciso ter muito cuidado para evitar queimaduras (...)".

Segue-se um conjunto de "informações técnicas", de avisos e sugestões sobre os restantes métodos de depilação caseira:

"Cera fria
também conhecida por cera descartável, é a mais higiénica porque não pode ser reaproveitada. Tem as vantagens de não provocar queimaduras, de poder ser utilizada em pernas com má circulação e de remover pêlos muito curtos (aos quais a cera aquecida não adere)".

"Lâmina
é o método caseiro mais barato, prático e indolor. E tem uma vantagem extra: faz uma pequena exfoliação que deixa a pele macia e evita que os pêlos se encravem (...)"

"Cremes depilatórios
são produtos químicos que eliminam os pêlos apenas à superfície. Por isso, tal como no caso da lâmina os pêlos voltam a aparecer em dois ou três dias. São práticos e fáceis de utilizar (...)"

"Máquinas eléctricas
as actuais são bem mais confortáveis do que as primeiras, que eram autênticos instrumentos de tortura, mas mesmo assim, não são recomendadas para quem é muito sensível à dor(...)"

Evidentemente que nesta altura estou à espera que um texto destes, manifestamente assertivo e sem referência a qualquer fonte da especialidade, seja assinado por uma profissional de estética, uma consultora de beleza ou por aí. Mas para minha surpresa é subscrito por uma jornalista. E por uma jornalista que imediatamente a seguir ao texto da depilação, resolve "abrir consultório" agora para responder à pergunta da leitora MÓNICA BERNARDINO, do Porto, sobre desmaquilhantes. Vale a pena deixar aqui só um respigo:

Leitora: "Devo limpar o rosto com desmaquilhante todas as noites, mesmo nos dias em que não usei maquilhagem?"

Jornalista: "É aconselhável limpar o rosto todos os dias, de manhã e à noite, com um sabonete dermatológico ou com um leite de limpeza, antes de aplicar os restantes cremes e produtos de tratamento" (e continua...)

Haja dó: será assim tão difícil reconhecer que com peças destas quem mais depilado fica é o Jornalismo?

05 agosto 2006

O Público não tem cuidado com a língua

Num jornal como o Público é imperdoável que não haja mais cuidado com a língua. Confesso que até já estava a embirrar um pouco com a insistência do Provedor Rui Araújo em tratar na sua coluna tantas e tantas reclamações de gralhas ou erros ortográficos. Isto porque me parece que a função de um provedor dos leitores pode e deve, sobretudo, exercer-se mais ao nível dos princípios, valores e conceitos jornalísticos do que no plano da mais ou menos (in)feliz redacção das notícias (pese embora a legítima expectativa de resposta por parte dos queixosos leitores). Mas depois de ler o título abaixo na 2.ª página da edição da passada terça-feira, sou obrigado a mudar totalmente de opinião. Veja-se só esta "obra-prima":


Indefenidamente? Agora percebo porque Rui Araújo tem dado tanto relevo a este tipo de queixas. É que a coisa começa a tornar-se ridícula. A ideia que fica é que o jornal não liga nenhuma ao assunto. Porque se o erro na edição impressa sempre pode ser fruto de uma pontual falha, já mantê-lo (pelo menos, até hoje) na edição on-line indicia uma completa desvalorização deste tipo de deslizes. E isso é que é mais preocupante.

Act. em 11.08.2006

Lula e a arte de tornear (perguntas)

Quando a jornalista lhe pergunta se o facto de no ano passado o seu governo ter sido muito afectado pelo escândalo conhecido como o "mensalão" influenciou a sua decisão de se recandidatar, Lula responde:

A existência do "mensalão", propalada pela oposição e difundida pela imprensa, não foi comprovada.

Quando a jornalista (insistindo no "mensalão") lembra que o seu partido, o PT, teve sempre a bandeira da ética e lhe pergunta se não existe nisso uma contradição, Lula responde:

Uns poucos dirigentes do Partido dos Trabalhadores, à revelia das instâncias partidárias, realizaram operações ilegais para financiar a actividade partidária. Foram sancionados, ainda que não se tenha conhecimento de nenhum caso de enriquecimento pessoal.

Quando a jornalista o confronta com o facto de sempre se ter declarado contra uma reeleição porque um segundo mandato é sempre pior do que o primeiro, Lula responde:

Não sou partidário do instituto da reeleição. Penso que é melhor um mandato mais longo, sem direito à reeleição.

É caso para dizer: que grande torneiro (*) que Lula nos saiu.

* Quando eu era um líder sindical, certa vez me perguntaram se eu era comunista. Respondi: "Não. Sou torneiro-mecânico" (Lula).

Uma entrevista por escrito

Uma entrevista por escrito é o que é - uma ocasião para o entrevistado falar sem contradita. Afirma-o Luísa Meireles, na revista "Única", do Expresso desta semana, antes de nos dar a conhecer o modo como o Presidente Lula respondeu às suas (excelentes) perguntas. Aqui está um bom exemplo de ética jornalística. Tendo tudo para criar a ilusão de uma entrevista "pessoal, em directo e ao vivo", a entrevistadora optou pela preservação da verdade. E não só avisa o leitor de que a entrevista foi por escrito como o alerta para o facto do presidente Lula ter podido responder o que quis e como quis, com a certeza antecipada de que a jornalista estava impedida de o questionar. O leitor só pode agradecer e fixar o nome de quem tão escrupulosamente respeitou o seu direito à informação: Luísa Meireles.

04 agosto 2006

Governo "administra" a PT

Pelo menos, é o que se infere deste título no Público de hoje:

PT seduz accionistas com dividendos e satisfaz Sócrates com saída do cabo

Só falta que a administração da PT passe a governar o país. Mas já faltou mais...

01 agosto 2006

O bébé de Viseu na TSF

João Paulo Meneses e Manuel Pinto têm sido intrépidos defensores da não publicação do nome da bébé de Viseu. Nos seus blogues (e adivinho que também fora deles) desdobram-se em avisos, interpretações, protestos e um sem número de argumentos contra a imoral prática de identificar pelo nome crianças que são vítimas de crimes sexuais. Quero dizer que comungo da sua estranheza perante a insensibilidade que a maioria da comunicação social tem revelado, ao escarrapachar, por tudo e por nada, no jornal, na rádio ou na televisão, o nome da inocente criatura. Como ainda agora acabou de acontecer. Desta vez, na rádio. Eram 23,30 h. Sinal horário, publicidade e notícia em destaque: o Tribunal de Família de Coimbra decidiu entregar a bebé fulana de tal aos avós... mais publicidade, logo após, o desenvolvimento e de novo, o caso da bebé de Viseu, uma vez mais nomeada com todas as letras. E outra vez. E mais uma vez. E mais outra. Por cinco vezes o jornalista-locutor pronunciou o nome da bebé. Posso imaginar como se teria sentido João Paulo Meneses ao escutar o que escutei há minutos atrás. Tanto mais que o noticiário que estava no ar era o da TSF. Agora compreendo melhor a desistência.

Excerto de um livro não anunciado (330)

A compreensão dos mecanismos da persuasão passa, por isso, pelo reconhecimento da importância que a modificação das atitudes assume na mudança do comportamento. Essa tem sido, pelo menos, a ideia base que tem presidido à generalidade das pesquisas experimentais sobre a persuasão. Mas como dar conta de um tão heterogéneo conjunto de investigações em que sobressaem diferentes e por vezes contraditórias opções em termos de perspectivas teóricas, planos e variáveis do acto persuasivo? Dentro da linha de raciocínio que temos vindo a desenvolver e reconhecendo a centralidade do triângulo argumentativo, de que nos fala Breton (*), no processo de persuasão discursiva, recorreremos ao critério de análise já seguido por Bitti e Zani que é o de considerar o contributo das diferentes pesquisas em função dos três parâmetros presentes em todos os modelos de comunicação na modificação de atitudes: a fonte, a mensagem e o receptor.

(*) Philippe Breton, (1998), A argumentação na comunicação, Lisboa: Publicações D. Quixote, p. 24