29 fevereiro 2004

Em destaque (5)

Dois excelentes posts que li e ainda releio:


Em 17.2.04, no Abrupto: SOBRE A BLOGOSFERA

Em 27.02.04, no Aviz: O FIM DO CARNAVAL LUSITANO, FINALMENTE

25 fevereiro 2004

Excertos de um livro não anunciado (173)

(...) A argumentação, como o seu próprio nome sugere, corresponde a um encadear de argumentos intimamente solidários entre si, com o fim de mostrar a plausibilidade das conclusões. Se uma das premissas do raciocínio argumentativo for contestada, quebra-se essa cadeia de solidariedade, independentemente do valor intrínseco da tese apresentada pelo orador. É que uma coisa é a verdade da tese, outra é a adesão que ela suscita, pois "mesmo que a tese fosse verdadeira, supô-la admitida, quando é controversa, constitui uma petição de princípio característica” * (...)

* Perelman, C., (1993), O Império Retórico, Porto: Edições ASA, p. 42

Marretas em festa

Se o riso é indissociável do Blogue dos Marretas (e vice-versa) é de toda a propriedade dizer-se que está a comemorar a sua primeira "risonha primavera". O Retórica dá-lhe os parabéns e... reclama, no mínimo, mais 10 anos de (a)crescida irreverência.

23 fevereiro 2004

Com música

Regressei da Capital, aonde fui de carro. Primeira constatação: o limite de 120 Kms na auto-estrada voltou a deixar o Porto mais longe de Lisboa. Num automóvel razoável, circular na A1 a 120 kms torna-se um quase martírio de rotina e perigosa sonolência para o condutor. A verdade é que nunca irei perceber a razão porque é que carros que oferecem níveis de segurança tão diferentes, como no caso de um Peugeot 106 e de um BMW da série 5 (ou 7), estão sujeitos ao mesmo limite máximo de velocidade.

Do programa "turístico" só pude cumprir o primeiro ponto: ida à FNAC do Chiado. Deixei o carro no parque Império, ali mesmo a escassos 80 metros. Muito prático. Entrei no estabelecimento e não vi o jpp mas dei logo de caras com o Fernando Girão e com um advogado que vai muitas vezes falar à TV. O sítio é mesmo "in".

Trouxe três lembranças, dois livros e um CD. Os livros? "O que é o Conhecimento", de Ortega y Gasset, e "Um Mundo Infestado de Demónios", de Carl Sagan. Quanto ao CD, esse veio já a animar o próprio regresso: "Kind of Blue" de Miles Davis, acompanhado por Julian "Cannonball" Adderley (sax-alto), John Coltrane (sax-tenor), Wynton Kelly e Bill Evans piano), Paul Chambers (baixo) e James Cobb (bateria). Com passageiros deste calibre, já se vê que a viagem só poderia ter sido excelente. E foi.

20 fevereiro 2004

Joaninha voa voa que o teu pai vai a Lisboa

Nao sei o que se passa com o Blogger que, desde ontem, nao consigo colocar acentos. Mas nem isso me impede de deixar esta breve "info": estou de partida para Lisboa onde espero, tal como jpp, visitar a FANC do Chiado e a Ler devagar. Falharei apenas o Magnolia, portanto. E em Lisboa, nao blogo, existo.

17 fevereiro 2004

Parabéns a você

Parabéns Francisco José Viegas.


"17 de Fevereiro de 2004
Viegas, Francisco José
Hoje festejamos o aniversário do escritor e jornalista português Francisco José Viegas (1962*) que se destacou como autor de policiais"


in site da Livraria Buchholz -International Bookshop

Aditamento:
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Soube, entretanto, que, afinal, não foi o Francisco Viegas quem fez anos nesta data mas sim o seu filho Manuel. Menos mal que não omiti a fonte. Ainda assim, as minhas desculpas.

16 fevereiro 2004

Notícias & Interesse

De há uns tempos a esta parte, dou-me conta de que já não consigo acompanhar a par e passo as mil e uma novidades de cada dia. São telejornais que falho ou a que chego atrasado; são jornais olhados mas nunca devidamente lidos, são programas de rádio que me apanham fora do carro (único sítio onde vou conseguindo ouvir rádio). E agora, claro, são também inúmeros blogues feitos por "gente tão confiável" que em vão tento consultar diariamente.

No início, ainda fiz um (grande) esforço para não descolar da vertiginosa marcha de factos novos ou recriados que vão ocorrendo pelo país e pelo mundo. Quem não gosta de saber das últimas? Sabe-se lá porquê, a novidade é um não-valor que inebria. A novidade, atrai, emociona, seduz. Mas será sempre tão vantajosa como regra geral se apresenta?


Pus-me a meditar:

1) A novidade implica rapidez. E a rapidez conduz à pressa, por vezes, mesmo, à precipitação.

2) As notícias são produzidas para todos e eu, desses "todos" sou apenas um. Logo, uma grande fatia dessas notícias só por milagre me poderiam interessar.

3) A recorrência noticiosa é hoje uma instituição: na rádio e na televisão, instalou-se o hábito de repetir até à exaustão as mesmas notícias, em todos os noticiários do dia (e por vezes até dos dias seguintes).

4) Uma parte muito considerável das notícias são mais voláteis que o éter: fazem algum estrondo quando surgem, mas passados uns dias desaparecem da memória mediática e social.


E mudei de estratégia: hoje dou muito mais valor ao que foi (mas já não é) notícia. E estou a gostar. O meu "ratio" de leituras/notícias com interesse subiu espectacularmente. E fico com mais tempo para vir aqui escrever patetices como esta...

Excertos de um livro não anunciado (172)

(...) O principal objectivo de um orador é conseguir a adesão às suas propostas. Logo, como observa Perelman, deve antes de mais saber adaptar-se ao seu auditório, sob pena de ver seriamente afectada a eficácia do seu discurso. Essa adaptação consiste, essencialmente, no reconhecimento de que só pode escolher como ponto de partida do seu raciocínio, teses já admitidas por aqueles a quem se dirige, mesmo que lhe pareçam inverosímeis. Já vimos que a finalidade da argumentação - ao contrário da demonstração - não é provar a verdade da conclusão a partir da verdade das premissas, mas sim, como lembra Perelman, "transferir para as conclusões a adesão concedida às premissas" *. Não se preocupar com a adesão do auditório às premissas do seu discurso, levaria o orador a cometer a mais grave das faltas - a petição de princípio - ou seja, apresentar uma tese como já aceite pelo auditório, sem cuidar primeiramente de confirmar se ela beneficia previamente de uma suficiente adesão. (...)

* Perelman, C., (1993), O Império Retórico, Porto: Edições ASA, p. 41

15 fevereiro 2004

Emoção & Teatralidade

(...) ter razão emocionado, esgrimir razões aos gritos, trocar argumentos com exaltação. A teatralidade que colocamos no que fazemos pode enganar um ou dois, dois ou três segundos, não engana todos o todo tempo (...)

jmf, in "Aquele VLX é um brincalhão" - Terras do Nunca - 11.02.2004

***

Esta curiosa passagem pressupõe duas evidências que nem sempre nos surgirão como tal:

1) Pode-se discutir "a falta de boas maneiras" de alguém que fala aos gritos ou recorre a qualquer outra forma exaltada de comunicar os seus pontos de vista. Mas nem a sua eventual "má-educação" lhe retira a razão... se a tiver.

2) Pode-se inferir que a emoção, uma vez excedidos certos limites, perturba o próprio raciocínio do emocionado. Mas nem o próprio descontrolo emocional lhe retira a razão... se a tiver.

No plano da interlocução, haverá, contudo, alguma vantagem em distinguir duas situações igualmente possíveis:

a) A exaltação genuína de quem (sem querer) se emociona ao falar de certas coisas ou a esgrimir certos argumentos.

b) A exaltação fingida, meramente instrumental (a da teatralidade) de quem, com isso, pretende apenas "parecer" mais "convincente" ao seu interlocutor.

Claro que, por vezes, não será fácil descortinar se se trata de uma ou de outra exaltação e, em muitos casos, surgirão até misturadas. Mas do lado da recepção, do lado de quem tem que interpretar o que lhe está a ser dito, diria que talvez seja de boa prudência considerar sempre essas duas possibilidades, especialmente quando se trate de interlocutor mal conhecido ou pouco credível.

Seja feita a sua vontade

Na entrevista de Santana Lopes ao "Expresso" de ontem:

JORNALISTA - O Parque Mayer é que não descola.
SANTANA LOPES- Nem me fale do Parque Mayer. É um caso complicadíssimo.

E o jornalista não falou mesmo.... (até final da entrevista).

Isto há-de querer significar alguma coisa...

14 fevereiro 2004

Excertos de um livro não anunciado (171)

Uma coisa é a convicção com que o orador argumenta, outra, que pode ser bem diferente, é a convicção com que o auditório cimenta as suas crenças, os seus valores ou a que nele se forma sobre a pertinência e adequação dos argumentos que lhe são apresentados. Ora esta última terá sido praticamente ignorada por Perelman, facto tanto estranho quanto se tenha presente a sua própria recomendação de que o orador deve adaptar-se ao auditório (como veremos no capítulo seguinte). É que implicando tal adaptação uma prévia selecção das premissas já aceites para a partir delas se justificar uma proposta ou conclusão, bem como a constante atenção do orador às sucessivas reacções daqueles a quem se dirige, como permanecer alheio à convicção com que o auditório perfilha tais crenças e valores ou até mesmo ao convencimento que nele se produz durante o desenvolvimento da argumentação? Cremos, por isso, que, ao nível do respectivo processo de comunicação, Perelman deu o maior relevo à convicção do emissor, mas descurou sistematicamente o papel que a convicção do receptor exerce na orientação e sentido do próprio acto de adesão.

Record batido

Dez dias (10) sem cá vir... foi o meu maior "intervalo" de sempre. Primeira impressão: parece que vou ter, de novo, que aprender a andar por aqui. O que tem sido dito pelos blogues de referência? Que assuntos têm merecido mais atenção? Há alguma polemicazinha "apetitosa" para seguir? Continua a predominância dos chamados "blogues-políticos"? Estou mesmo totalmente a leste. Lá vou eu voltar às minhas tão informativas visitas, blogue a blogue. Até porque, contrariamente à ideia (desfavorável) que por aí corre, uma das coisas que mais aprecio na blogosfera é precisamente o facto de, em grande parte, "nos lermos uns aos outros". Um dia ainda direi porquê.

03 fevereiro 2004

Excertos de um livro não anunciado (170)

(...) Quem decide, em última análise, se o discurso é ou não convincente é o auditório, de acordo com a maior ou menor intensidade da sua adesão. E ainda que se admita que um discurso convincente é aquele cujas premissas e argumentos são universalizáveis, no sentido de aceitáveis, em princípio, por todos os membros do auditório universal (como o faz Perelman), não se pode retirar ao auditório o seu direito de sancionar ou não tal generalização ou universalidade. No seio da retórica crítica, tão reiteradamente defendida pelo próprio Perelman, faria algum sentido intrometer um orador “iluminado” com a transcendente função de estabelecer à partida o que é válido para todo o ser racional? (1) (...)