25 maio 2008
Golpe retórico
Já no período das perguntas, acabava o Prof. Adriano Moreira de fazer a afirmação em título, a paz nasce no coração dos homens, quando lá bem do fundo da sala irrompe o "cromático" Tino de Rans que o interpela naquele seu tom meio atrevido, meio desafiante: "Com o coração ou com a cabeça?" Adriano Moreira, encaixa a provocação com um sorriso e, sem pestanejar, aplica-lhe o golpe retórico da noite: "Sim, claro que poderia dizer cabeça mas digo coração porque fica mais poético". Foi a gargalhada geral. Até o interpelante se riu (sabe-se lá de quê).
21 maio 2008
A paz nasce no coração dos homens
* A incapacidade da ONU em fazer aprovar as suas propostas de resolução.
* A população que está neste momento em Israel já é uma nação, não é uma configuração social dispersa.
* A ordem política nos últimos 50 anos não foi a da ONU, foi a dos pactos militares. Quando o "muro" caiu cairam também os pactos militares e é por isso que hoje não temos nem uma coisa nem outra.
* É de criticar o unilateralismo americano que não pode continuar.
* O lugar de Israel é na Europa mas o largamento da Europa, por exemplo, tem tido um grande defeito: não há plano de governabilidade. De cada vez que alarga, primeiro alarga e depois, logo se vê.
* Para a conquista da paz, há que assegurar três circulos de entendimento:
1.º círculo: entre os que professam a mesma religião
2.º círculo: entre os que professam diferentes religiões
3.º círculo: entre as diferentes culturas
* Sobre a "fusão" do religioso com o político: não é de estranhar que outros ponham os valores religiosos no conceito estratégico que proclamam, oferecendo a salvação em troca da vitória armada. Já nas nossas descobertas o fazíamos, quando as subordinávamos a um projecto de evangelização.
* O direito de veto dos 5 países que o possuem nas Nações Unidas é um direito de veto no interesse próprio, não é um direito de veto no interesse global, como deveria ser. E o que o mundo precisa é de um direito de veto em favor dos países pobres ou menos desenvolvidos.
* Como chegar à paz? A paz nasce no coração dos homens, pois há muito que são conhecidas as causas das guerras. É necessário que a interdependência assegure a paz, não é com o unilateralismo que lá chegamos. Nós sabemos mais do que somos capazes de fazer. Sabemos que tem de acabar a venda de armas, de países ocidentais a países pobres de outras regiões. O que é que falta?
* Falta um ética para a sociedade global, rematou o Prof. Adriano Moreira que ao longo da conferência não se cansara de nos avisar: vocês vão ver, no final, que não temos motivos para ficar descansados. E é que não temos mesmo.
18 maio 2008
Impressão de liberdade
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 17 Maio 2008
Liberdade de expressão ou impressão de liberdade? Não me parece que "o tipo que escreve na net as maiores calúnias e falsidades" o faça ao abrigo da liberdade de expressão ou que por tal motivo seja tolerado. Pelo contrário, será por ter consciência de que não pode caluniar livremente que ele se refugia no anonimato. O problema não está, porém, em recorrer ao anonimato. Mesmo fora do computador, todos os dias falamos com imensas pessoas que ignoram completamente a nossa identidade e daí não vem mal algum ao mundo. Cumprimentamos, metemos dois dedos de conversa e, por vezes, até, fazemos amizades de anos e anos, sem que do outro saibamos mais do que um primeiro nome. Se é António ou Verónica, pouco importa. O que importa é o "histórico" da respectiva relação. E não há crise. Porque haveria de haver no chamado virtual? Não, o problema não está no anonimato mas sim na pessoa que a ele recorre com a deliberada intenção de ofender ou difamar. É aqui que Miguel Sousa Tavares tem toda a razão. A blogosfera e a net em geral são hoje verdadeiros territórios de impunidade, instâncias privilegiadas para levar a cabo os chamados assassínios de carácter. E o que me espanta é que, a este nível, tudo continue igual ao que sempre foi. Até porque, segundo julgo saber, em boa verdade não existe absoluto anonimato em nenhum lugar da net. Por onde quer que "andemos" deixamos sempre rasto e a todo o momento a nossa "máquina" pode ser identificada. Há-de haver, por isso, uma solução técnica para o problema e estou certo que mais dia menos dia surgirá. Mas até lá, vigiemos de perto esta impressão de liberdade que tantas vezes se faz passar por liberdade de expressão.
Que espectáculo
Aliás, o que entenderá a candidata por ser "verdadeira e directa"? Se a mais recente entrevista que deu ao Expresso servir de exemplo, estamos conversados. Comentando-a, João Pereira Coutinho (*) não foi de modas: "Ferreira Leite não responde, responde vagamente ou simplesmente não sabe". Mas o ponto mais gritante da entrevista foi mesmo aquele "Obviamente não lhe respondo" que, como refere Eduardo Pitta, "não fica nada bem a quem promete falar sempre a verdade". O enigma, esse está decifrado: para ser verdadeira e directa, basta-lhe dizer apenas o que quer dizer. Que espectáculo.
(*) in Única, Expresso, 10 Maio 2008
Imagem defumada
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 17 Maio 2008
Sabe-se que, do ponto de vista político, é tão irrelevante a imagem de Sócrates a fumar no avião, como a imagem de Sócrates a fazer o seu "jogging" num visita oficial. A diferença é que, desta vez, a primeira também foi divulgada. Mas não é a notícia do cigarro fumado que acaba por defumar a imagem de Sócrates, é a própria realidade que a notícia reporta. Realmente a exibição pública e teatral do seu "jogging" não liga nada bem com o escondido consumo de tabaco. Sócrates sabe-o melhor do que ninguém. E com o brilho do costume (honra lhe seja feita), brinda o seu estimado público com mais um número de belo efeito: anuncia que vai deixar de fumar logo agora que nada o impediria de passar a correr de cigarro na boca. E é isto. Como diria um velho amigo meu: só não chora quem não tem coração.
11 maio 2008
Isso não convém dizer
Que motivos seriam esses? Não diz. Está-se mesmo a ver que os motivos pelos quais se pode criticar o Governo nunca serão os motivos invocados pela Oposição. E sendo assim, Sócrates tem toda a razão: isso não convém dizer.
10 maio 2008
04 maio 2008
"Só amigos"
Só amigos
A genuína amizade entre homens e mulheres é há muito encarada com desconfiança. Julgo que erradamente, mas entendo. A aproximação sexual é mais forte e sabemos que o sexo destrói qualquer possibilidade de relacionamento desinteressado como a amizade deve ser. Não sei em que momento a curiosidade é ultrapassada mas quando tal acontece, é como se descobríssemos um novo mundo, pacífico, alegre e carinhoso. A amizade entre homens e mulheres é benéfica para ambos porque apazigua a turbulência natural entre os sexos. A mistura é saudável e benéfica, porque implica a aceitação mútua das diferenças óbvias e bem-vindas entre homens e mulheres. Somos diferentes desde que pusemos o pé na Terra. E depois? O tempo tem provado que as nossas diferenças estão longe de chegar ao ponto da incompatibilidade, e apenas isso interessa. A amizade séria e duradoura só acontece se houver respeito profundo pela liberdade do próximo. Se tal não acontecer, então não há amizade, mas apenas relações interesseiras, de dependência emocional, ou ligações superficiais. Independentemente da designação, todas são perdas de tempo, absolutamente a evitar. E isto vale para todos.
* Edição de 25 Abril 2008
03 maio 2008
Retórica, Media e Publicidade
UBI - 6 de Maio
Sala dos Conselhos
9h00 Abertura das Jornadas
9h30 Conferência
------Prof. Doutor Albaladejo Mayordomo (Univ. Autón. de Madrid)
------"Retórica como sistema"
10h30 Intervalo
10h45 Sessão temática Retórica e Media
--------Moderador: André Barata
--------Américo de Sousa (UBI)
--------Ivone Ferreira (FCT)
--------Carmen Sánchez Manzanares (Univ. de Múrcia)
12h15 Pausa para Almoço
14h30 Sessão Temática Retórica e Publicidade
--------Moderador: Eduardo Camilo
--------Elena Fernández Blanco (Univ. Pontifícia de Salamanca)
--------Raúl Urbina Fonturbel (Univ. de Navarra)
--------Carmen Alonso González (Univ. Pontifícia de Salamanca)
15h45 Pausa para Café
16h00 Sessão Temática Retórica e Comunicação na Empresa
--------Moderador: Tito Cardoso e Cunha
--------Maria del Mar Gómez Cervantes (Univ. de Múrcia)
--------Gisela Gonçalves (UBI)
--------Paulo Serra (UBI)
17h30 Conferência
--------Prof. Doutor Stefano Arduini (Univ. degli Studi di Urbino)
--------"Retorica e modelos cognitivos"
18h30 Encerramento
02 maio 2008
Solidariedade e Retórica
Registando e agradecendo, desde já, o interesse com que a minha intervenção foi escutada, mais o vivo debate que se lhe seguiu, transcrevo aqui a parte onde comecei por mostrar a estreita ligação que existe entre solidariedade, comunicação e retórica:
Não se fazendo por decreto nem podendo ser imposta em nome de nenhum credo ou convicção alheia, a solidariedade brota do interior de cada um, enquanto sentimento genuíno de atenção ao outro que faz elevar um “eu” à condição de um “nós”. Mas solidariedade é também uma arte, a arte de criar e de manter uma relação de complementaridade, sem aquele egoísmo e aquela agressividade que tantas vezes estão presentes nas relações de concorrência ou de antagonismo. É, por isso, uma arte difícil, complexa, que requer apurada observação e experiência, sensibilidade e lucidez e, em qualquer caso, algum estudo. Porque ser solidário é, cada vez mais, não apenas uma intenção ou vontade, não apenas uma missão ou projecto, mas também uma competência: a competência de ser solidário. E é nessa competência para ser solidário que se inscreve a necessidade de uma boa comunicação ou, para ser mais exacto, de uma boa retórica. Porque agora já não basta comunicar informação, é preciso comunicar também opinião: a opinião com que estruturamos as propostas ou pedidos que queremos ver aprovados pelo interlocutor. Já não se trata então de apenas comunicar mas, também, de persuadir, de levar alguém a compreender a nossa ideia, a simpatizar connosco, a aceitar o nosso pedido. Precisamos agora de descobrir as melhores razões, os melhores argumentos, os melhores exemplos, as melhores estratégias argumentativas. Precisamos, direi, de convocar a retórica que é, desde Aristóteles, a arte de descobrir o meio mais adequado em cada caso para persuadir.