29 março 2007
25 março 2007
O que não cabe aos tribunais
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 24 Março 2007
O que me espanta é que, passados todos estes anos de vida democrática, ainda seja preciso vir a um jornal lembrar uma coisa destas, principalmente, a (alguns) senhores juízes.
B_OTA abaixo
"Não podemos passar a vida a discutir localizações" *
O argumento é retórico mas muito fraco, já que, no estado actual das nossas finanças, ainda é preferível perder tempo do que perder dinheiro, muito dinheiro, que é o que irá suceder se o local não for bem escolhido. Que diabo, se o mérito e a oportunidade do projecto OTA são assim tão evidentes como o Ministro das Obras Públicas nos quer fazer crer e se nenhuma das alternativas lhe chega aos calcanhares, porque razão não nos apresenta de uma vez por todas as superiores razões do seu convencimento? A minha dúvida é se ainda irá a tempo de evitar o B_OTA abaixo a que a sobranceria do Governo se fartou de dar corda.
* in Expresso, 24 Março 2007
O estatuto das diferenças culturais
José Manuel Fernandes, Público, 23 Março 2007
Nem mais. Sem um mínimo de universalidade, a própria axiologia se esvai.
24 março 2007
Não generalizemos...
Numa reportagem da China, a que cheguei já quase no final, surgem imagens de um bonito jardim público: relva bem tratada, apelativos caminhos e, claro, os bancos do costume, feitos janelas da vida para os mais idosos. A certa altura, o Presidente da Câmara local (assim o apresentou a voz-off) vira-se para o operador de câmara (jornalista?) e com um ar de evidente satisfação, atira-lhe:
"Vê aqui algum jovem? nâo vê. Aqui só vê idosos. Porquê? Porque os jovens estão todos a trabalhar. Aqui quem quiser ter regalias sociais tem que trabalhar. Não tem escolha. Na europa, não. Na França, por exemplo, criaram um sistema tao acessível e com tantos benefícios que as pessoas preferem não trabalhar".
Mas não é bem assim. No nosso país, por exemplo, já quase não existe segurança social (e SNS) e, mesmo assim, são mais do que muitos os que preferem não trabalhar. Portanto, não generalizemos...
22 março 2007
Excerto de um livro não anunciado (370)
(*) N. Bertoni, "La métaphore en hypnothérapie des maladies psychosomatiques", in Didier Michaux, (Org.), (1998), Hypnose, Langage et Communication, Paris: Editions Imago, p. 156
(**) Daniel Innerarity, (1996), A Filosofia como uma das Belas Artes, Lisboa: Editorial Teorema, Lda., p. 78
21 março 2007
O que diz o Millôr humorista do Brasil
Millôr Fernandes, "Tabu", Sol, 17 Março 2007
A sensação que fica é a de que Millôr nunca produziu uma máxima tão aportuguesada...
19 março 2007
Claramente menos
Saída fora de tempo
18 março 2007
Excerto de um livro não anunciado (369)
(*) Y. Halfon, "Le langage figuratif en hypnose", in Didier Michaux, (Org.), (1998), Hypnose, Langage et Communication, Paris: Editions Imago, p. 68
O chumbo da "neutralidade" (2)
O Estado português fez parte do grupo vencedor: como seria de esperar, votou contra a desblindagem dos estatutos.
Nada a objectar: usou um direito que lhe assistia. Admito, ainda sem reparo, que possa ter celebrado a vitória, em privado. Compreendo que, ainda na hora da vitória, se tenha mostrado discreto, em público: por pudor, por gestão da imagem, e até por uma questão política (ou não fosse, o tratamento a dar aos vencidos, uma das maiores questões políticas de todos os vencedores).
Só não percebo a preocupação de nos vir dizer que não teve nada que ver com o assunto. No que me diz respeito, senti-me um pouco incomodado pelo que me pareceu algum menosprezo pela capacidade de discernimento de quem, pesem embora as suas limitações, apesar de tudo, "vê, ouve e lê" (como dizia a canção, de saudosa memória). Teria sido mesmo necessário?
Não tenho que protestar, sequer que me mostrar indignado. Gostaria, se alguém puder ajudar-me, de compreender a necessidade desta menorização, sobretudo nas suas manifestações mais compulsivas."
Daniel Bessa, Expresso, 17 Março 2007
17 março 2007
O espaço artístico

Museu de Arte Contemporânea, da Fundação Serralves. Fiz ontem à noite uma primeira visita à exposição “Anos 80: uma topologia” que por lá decorre até ao próximo dia 27 e à qual forçosamente terei de voltar. A tanto obrigam os 250 melhores trabalhos de 73 artistas de todo o mundo, incluindo 5 portugueses, que, sem a menor dúvida, requerem mais demorado e atento olhar. Para além da provocação estética de cada autor (melhor diria, de cada obra) a exposição reflecte uma muito contemporânea incerteza sobre o lugar da arte na sociedade que não é, por certo, alheia às indefinições culturais e políticas do nosso tempo. Se tenciona dar lá uma saltada, vá preparado(a) para um encontro imediato entre as múltiplas e contraditórias propostas estéticas que o(a) esperam e a necessidade de uma reavaliação da obra de arte como lugar de transformações e diferentes modos de apropriação do espaço. Porque por muito que o objecto artístico se autonomize, carecerá sempre de um fundo que o determine. E é justamente nessa medida que, também artisticamente, o espaço se define.
15 março 2007
Armadilha na cidade

Os afazeres da vida levaram-me a passar a tarde de hoje metido num dos anfiteatros do Hotel Meliá-Ria, em Aveiro. Não pude, por isso, à chegada, ficar indiferente ao meio envolvente desta unidade hoteleira de luxo: um oásis em pleno coração urbano, com as límpidas águas da ria abraçadas por espaços verdes sem fim. A visão, de tão soberba, mais parecia retirada de algum quadro. Quer dizer, pareceria se aquela espécie de ponte metálica, tosca até dizer "chega" e incrivelmente degradada que vemos ali no canto inferior direito da foto acima não estivesse lá a borrar a pintura toda. Primeira reacção: como é que quem tem voto na matéria pode conviver impávido e sereno com tão manifesta e desleixada agressão estética?

À medida que me fui aproximando, porém, o desagrado deu lugar ao espanto, pois dei-me conta de que, para além de se encontrar perigosamente carcomida pela ferrugem, a dita ponte metálica tem ainda, mais ou menos a meio, dois grandes buracos cuja existência não lembraria nem ao diabo.

Aqui estão os inacreditáveis buracos, verdadeira armadilha quer para as crianças quer para os adultos que passem pelo local. Conviria pois que as digníssimas autoridades da segurança urbana se dessem conta do perigo público que esta "ponte" representa, muito antes de surgir a primeira vítima ou tragédia. Será que Pedro Santos Cardoso, distinto aveirense, pode fazer chegar este alerta a quem de direito?
13 março 2007
A cultura no palco do consumo

Foi hoje ao cair da tarde, no Corte Inglés, de Gaia. João Pereira Coutinho na apresentação do mais recente livro de Luis Carmelo, "E Deus pegou-me pela cintura". Uma coisa bonita de se ver. Ainda não li o livro mas a apresentação de Coutinho foi, em si mesma, uma verdadeira peça literária. Com o brilho de sempre, falou bem, muito bem. Primeiro porque fala sempre bem, mesmo quando diz mal. Depois, porque admira o autor, de quem é, aliás, amigo. E por último, porque a dizer bem o levou o livro de Carmelo, que não se cansou de elogiar. O autor - que falou a seguir - não fugiu à circunstancial humildade de considerar que Coutinho fora excessivamente generoso. Saí de lá, porém, com a impressão de que Coutinho teve foi a perfeita noção de que não estava ali para criticar o livro de Carmelo mas sim para apresentá-lo. Não cometeu, por isso, o grosseiro erro de certos apresentadores de livros que em vez de enaltecerem os pontos fortes da obra ficam escrutinando página a página, frase a frase, à procura de um ponto que poderia ter sido mais desenvolvido mas não foi, de um sentido que o texto poderia ter mas não tem, enfim, de uma outra obra que o autor poderia ter escrito mas não escreveu. Ao invés, recorreu a preciosas citações para deixar clara a mestria literária com que Carmelo combinou memória e invenção neste seu décimo livro. Um livro que, anunciou Coutinho e confirmou o autor, se oferece a diferentes leituras que vão muito para além dele. Vim de lá com a ideia de que este novo romance de Carmelo acompanha o inquieto vaivém dos nossos dias feito de incursões mais ou menos efémeras, ora na ficção ora no real, e se possível, em ambos. Certo, certo, porém, é que fiquei com uma vontade enorme de me atirar à sua leitura. Não é a isto que se chama uma apresentação de livro bem sucedida?
12 março 2007
O chumbo da "neutralidade"
Faço 5 registos. A justeza da CMVM, que enquadrou a operação. A mestria da equipa de Granadeiro, que defendeu as acções da PT. A vitória de certos accionistas privados, que votaram contra. O desamparo de pequenos accionistas, que não se fizeram ouvir. O rasgo de Paulo e Belmiro Azevedo, que lançaram a memorável OPA.
E um 6.º registo. No dia do chumbo da OPA, veio um ministro dizer que o Governo tinha sido "neutral".
Vejamos. O Governo tinha acções da PT, umas privilegiadas, que usou às claras para se abster, e outras ordinárias, por via de um ente público, que usou, mas às ocultas, para votar contra. Como quem atira a pedra e esconde a mão.
Em matérias politicamente tão relevantes, das duas uma, ou aquele ente público vota como o Governo quer (querer tácito ou explícito), ou a sua administração se demite. Falar em 'neutralidade' não é eufemismo, é disfarce.
Em causa está o nome das coisas. Porque, definitivamente, o chumbo da OPA também foi político. Foi-o, dizendo-se que o não foi, em estilo pinoquiano, que não chega a ser furtivo nem elegante.
Quem assim faz na OPA, como fará na OTA, cujas dúvidas são mais do que muitas?"
Miguel Cadilhe, Expresso, 10 Março 2007
O Pipa
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O Sérgio realizou finalmente o seu grande sonho: ter um restaurante. Conheci-o há alguns anos atrás no Cantinho do Cabrito, em V. N. Gaia. Depois foi inaugurar o Guarany, no Porto. Sempre inexcedível no atendimento e no serviço. Era impossível não ficar seu amigo. Reencontrei-o há poucas horas atrás, no Festival do Sável e da Lampreia, em Gondomar, que encerrou hoje. Não mudou nada: o mesmo sorriso de sempre, a mesma preocupação em bem receber. Um olho na cozinha e outro nas mesas, para que nada nos falte. Conheci-o como empregado e agora tenho na minha frente o patrão. Admiro gente que luta e que vence. Só soube hoje mas foi já há mais de um ano que o Sérgio abriu o seu "O Pipa", um restaurante típico especializado em bacalhau com broa e cabrito assado de Armamar. Fica na conhecida Estrada D. Miguel, n.º 1917, em Gondomar e o pedido de reservas pode ser feito através do 224 833 192. Quem sabe nos vemos por lá, um dia destes.
11 março 2007
Claramente...
Será que nunca se deu conta disso? Será que nunca o avisaram? Será que não consegue corrigir-se? Bom, será o que tiver que ser. Mas que o tique é irritante é. E é, sobretudo, "claramente" imperdoável.
08 março 2007
Excerto de um livro não anunciado (368)
06 março 2007
Ir lá... e sair tosquiado
05 março 2007
Um contra (todos)

"A RAI é uma empresa de serviço público de televisão de que país?"
E logo a seguir, as três respostas opcionais:
Hipótese A: "Francesa"
Hipótese B: "Italiana"
Hipótese C: "Espanhola"
Aí, o concorrente escolheu o país "Italiana". E acertou. Quem diria...
Excerto de um livro não anunciado (367)
(*) Para a classificação dos diferentes estados intermediários entre a plena vigília e o transe profundo, a generalidade dos autores [Chertock, 1989; Liguori, 1979; Eysenck,1956; Rhodes, 1950, etc.] recorre à conhecida Escala de Davis e Husband que estabelece quatro graus de hipnose por ordem crescente: estado hipnoidal, transe ligeiro, transe médio e transe profundo. Segundo esta mesma escala, o transe médio e o transe profundo são os únicos estádios da hipnose em que já se registam alterações de personalidade no paciente.