Viajar de carro
É ir por onde quero, é ver por onde vou. É parar, acelerar, seguir em frente ou fazer desvio. É ditar as horas ao relógio. É ir sem deixar de ser quem sou. Esperam-me, por isso, mais
É ir por onde quero, é ver por onde vou. É parar, acelerar, seguir em frente ou fazer desvio. É ditar as horas ao relógio. É ir sem deixar de ser quem sou. Esperam-me, por isso, mais
A falácia do homem de palha é um dos pecadilhos mais frequentes no domínio da interacção comunicativa e consiste, basicamente, em deturpar as idéias do oponente (enfraquecendo-as) para, de seguida, passar a atacá-las de forma demolidora. É uma técnica de argumentar para o "show" e para a confusão, fazendo erradamente crer que os verdadeiros argumentos do oponente foram rebatidos. Um artifício, ao fim e ao cabo, para ocultar ou fazer distrair da realidade e que, muito provavelmente, deve o seu nome a uma certa analogia funcional que mantém com os famosos espantalhos - bonecos de palha (e trapos) imitando pessoas reais - que eram colocados nos campos para afugentar as aves, das sementeiras, das árvores e das vinhas. Como tantas vezes terá acontecido em Macinhata de Seixo, pequena localidade de Oliveira de Azeméis outrora muito ligada ao cultivo da cereja e onde anualmente se repete a exposição “Macinhata Espanta”. Foi uma parte desta exposição, que valeu à freguesia a "entrada para o Livro Guinness World Records no ano de 2000, pelo total de 1113 espantalhos patentes em exposição" que, por mero acaso, encontrei há dias nas galerias do Centro Comercial Carrefour,
A persuadibilidade da fonte, porém, não se joga apenas ao nível das características estritamente pessoais do persuasor, antes vai depender também das estratégias a que este recorra. Uma dessas estratégias - de resto, muito estudada experimentalmente - é a da administração de recompensas ou punições. E, porque aqui nos ocupamos tão somente da persuasão discursiva, ficar-nos-emos pela investigação que mais directamente lhe diz respeito, ou seja, a que se subordina ao condicionamento verbal das atitudes. Segundo Petty e Cacioppo, um grande interesse teórico por este tipo de condicionamento operatório surgiu a partir do momento em que Greenspoon (1955) levou a efeito uma experiencia na qual usou recompensas verbais para mudar aquilo que as pessoas deveriam dizer. Ele foi assim capaz de aumentar a frequência com que a pessoa usava um substantivo plural pronunciando simplesmente um “mm-hmmm” cada vez que o sujeito usava um. Hildum e Brown (*) formularam então a hipótese da assunção de atitudes poder ser condicionada da mesma maneira e resolveram testá-la junto dos estudantes de Harvard aos quais foi perguntado, telefonicamente, que atitudes tinham perante o sistema educacional de Harvard. O inquérito processou-se da seguinte forma: a metade dos estudantes inquiridos, o experimentador dizia “good” ou “mm-hmmm” cada vez que um estudante elogiava o respectivo sistema; à outra metade dos estudantes o experimentador dizia “good” ou “mm-hmmm” cada vez que um estudante criticava o dito sistema educacional. Os dois investigadores concluiram assim que os estudantes que tinham sido recompensados por dizerem bem do sistema fizeram mais comentários positivos acerca do mesmo que os estudantes que tinham sido recompensados por dizerem mal.
de novo, com o Internet Explorer. Texto e fotos. O "sistema" deu sinal de si, aliás, muito educadamente.
A atractividade é um outro factor de influência na modificação das atitudes. Como dizem Petty e Cacciopo, dois comunicadores podem ambos ser reconhecidos especialistas numa dada questão, mas o facto de um ser mais simpático, mais apreciado ou fisicamente mais atractivo que o outro, confere-lhes diferentes graus de persuadibilidade. Foi isso mesmo que Chaiken (1979) procurou comprovar quando pediu a um grupo de estudantes - previamente seleccionado em função das suas características físicas e da aptidão para comunicar - que efectuassem uma comunicação persuasiva aos seus colegas. A tarefa consistia em obter destes a resposta a um questionário de opinião e a assinatura de uma petição. No final, Chaiken constatou que os estudantes fisicamente mais atractivos foram mais persuasivos do que os comunicadores fisicamente menos atractivos. Subsiste, porém, a dificuldade de estabelecer quais as características do persuasor que podem ser tomadas como índices de atractividade, quer no plano da sua aparência física quer no da simpatia pessoal. Em que medida a atracção entre as pessoas deriva do respectivo aspecto físico? O que é uma pessoa atraente? É dificil, se não impossível, encontrar as respostas certas, além do mais, porque não se pode ignorar que tanto a atracção que tem por base o aspecto físico como a que se fica a dever à irradiação de uma particular simpatia manifestam-se sempre numa concreta dimensão relacional, através da adequação ou ajustamento das respectivas subjectividades, o que, só por si, afastaria toda e qualquer tentativa de apressada generalização. No mesmo sentido crítico vão Bitti e Zani quando, depois de acolherem a ideia de que a atracção entre as pessoas e, portanto, entre a fonte e o receptor, conduz a semelhanças de atitude, vêm, porém, dizer que, apesar da evidência de tal fenómeno, a verdade é que ainda “não se conseguiu definir com exactidão qual o tipo de semelhança que deve existir (no plano ideológico, ou social, ou mesmo simplesmente superficial) para influenciar as atitudes de um sujeito” (*).
Hoje é dia de "DIA D", no Público. Não pude ainda deitar os olhos à edição desta segunda-feira mas tenho na minha frente o exemplar da semana passada de que aliás recortei dois artigos. Sou muito assim. Não gosto de me desfazer de textos que apresentam uma opinião bem argumentada e que, além do mais, abrem novos caminhos à compreensão crítica do mundo e da vida. Se o tempo é escasso, como tantas vezes sucede, recorto para ler mais tarde. E é tarde e a más horas que folheio o anterior DIA D para me deter sobre os dois textos que mais atenção e interesse me despertaram: "A lista dos devedores" de João Caetano Dias, do Blasfémias e "O mito dos custos de transição" de André Azevedo Alves, do Insurgente. Bom, só tenho a dizer que quem perde textos destes, nos blogues ou na revista "DIA D", não sabe o que perde.
Concerteza que não passou pela cabeça de ninguém, muito menos pela minha, que o Retórica e Persuasão estivesse a ser alvo de um específico ou propositado ataque por parte do Blogger. Haja dó. A questão é bem outra e passa pelo fundado receio de que procedimentos deste tipo se generalizem na blogosfera, privando os editores de publicarem com a liberdade temática, funcional e temporal de que têm desfrutado até aqui.
Há 15 dias atrás critiquei aqui o facto de uma jornalista ter aberto consultório de beleza nas páginas da Notícias Magazine, imediatamente a seguir a uma peça onde perorava sobre os diferentes métodos de depilação. Na altura, chamou-me igualmente a atenção que, depois de assinar a peça propriamente dita apenas com o seu nome, tenha optado por se intitular de Jornalista no espaço reservado ao "Consultório". Era evidente que, do ponto de vista jornalístico, algo não batia certo.






Segundo afirma o Público de hoje, Hermínio Loureiro, o recém-eleito presidente da Liga, vai manter-se como deputado, pelo menos, até que a profissionalização da respectiva Direcção lhe assegure um salário. Mas será que o exercício da Presidência da Liga (bem como a persistente campanha eleitoral em que Hermínio se envolveu), ainda pode ser classificado como "trabalho político"?

Assim, do ponto de vista da fonte, os investigadores têm procurado determinar quais são os principais factores ligados à figura do persuasor que concorrem para a modificação de atitude do auditório, que o mesmo é dizer, para o sucesso da respectiva argumentação. Em lugar de grande destaque surge desde logo, a credibilidade, que, na linha de Carl Hovland e seus seguidores, é geralmente associada à perícia ou competência na matéria em questão, mas também à posição de prestígio social do persuasor e a outras características pessoais, nomeadamente de cariz ético, reconhecidas pelos respectivos interlocutores. A experiência-tipo consiste em apresentar aos sujeitos experimentais determinadas declarações sobre um certo tema, quer insertas em artigos de jornais ou revistas quer em gravações de discursos e atribuí-las a pessoas com alto ou baixo grau de credibilidade. O exemplo de que nos falam Bitti e Zani, é o de um caso de uma palestra sobre a desvalorização da moeda cuja autoria, ora era associada a um prestigiado e imparcial professor de economia ora a um empresário que iria ficar muito prejudicado nos seus negócios com tal desvalorização. O que se verificou foi que o auditório era nitidamente mais influenciado no primeiro caso do que no segundo, ou seja, confirmou-se que “uma comunicação é julgada de um modo mais favorável quando apresentada por um sujeito de maior credibilidade que quando apresentada por outro de credibilidade menor” (*). Bitti e Zani assinalam porém três reservas a esta conclusão que afastam a possibilidade da sua aceitação incondicional. Em primeiro lugar, dizem, há modificações quando um perito produz comunicações de carácter instrumental mas não quando ele fala de valores. Em segundo lugar, situações existem em que, mesmo nas questões de foro técnico, é mais influente um líder de opinião local do que um perito de fora. Finalmente, apesar de ser de esperar que um auditório se deixe influenciar mais facilmente por uma fonte tida por imparcial, há contudo provas empíricas que indicam o contrário.
Notícias Magazine, de hoje, página 68, secção de "beleza corpo":
O texto intitula-se "Guia da depilação em casa" e é uma sucessão de conselhos quanto às diferentes maneiras de "acabar com os pêlos em casa, pelas suas próprias mãos". A prosa tem tudo a ver com o assunto. "A tradicional cera quente já não atinge as altas temperaturas de outrora, por isso hoje chama-se 'cera morna' ou de 'baixa temperatura'. Arranca os pêlos com mais suavidade do que a cera fria, sem os partir, e os resultados duram várias semanas. Aquece-se no microondas mas, mesmo assim, é preciso ter muito cuidado para evitar queimaduras (...)".
Segue-se um conjunto de "informações técnicas", de avisos e sugestões sobre os restantes métodos de depilação caseira:
"Cera fria
também conhecida por cera descartável, é a mais higiénica porque não pode ser reaproveitada. Tem as vantagens de não provocar queimaduras, de poder ser utilizada em pernas com má circulação e de remover pêlos muito curtos (aos quais a cera aquecida não adere)".
"Lâmina
é o método caseiro mais barato, prático e indolor. E tem uma vantagem extra: faz uma pequena exfoliação que deixa a pele macia e evita que os pêlos se encravem (...)"
"Cremes depilatórios
são produtos químicos que eliminam os pêlos apenas à superfície. Por isso, tal como no caso da lâmina os pêlos voltam a aparecer em dois ou três dias. São práticos e fáceis de utilizar (...)"
"Máquinas eléctricas
as actuais são bem mais confortáveis do que as primeiras, que eram autênticos instrumentos de tortura, mas mesmo assim, não são recomendadas para quem é muito sensível à dor(...)"
Evidentemente que nesta altura estou à espera que um texto destes, manifestamente assertivo e sem referência a qualquer fonte da especialidade, seja assinado por uma profissional de estética, uma consultora de beleza ou por aí. Mas para minha surpresa é subscrito por uma jornalista. E por uma jornalista que imediatamente a seguir ao texto da depilação, resolve "abrir consultório" agora para responder à pergunta da leitora MÓNICA BERNARDINO, do Porto, sobre desmaquilhantes. Vale a pena deixar aqui só um respigo:
Leitora: "Devo limpar o rosto com desmaquilhante todas as noites, mesmo nos dias em que não usei maquilhagem?"
Jornalista: "É aconselhável limpar o rosto todos os dias, de manhã e à noite, com um sabonete dermatológico ou com um leite de limpeza, antes de aplicar os restantes cremes e produtos de tratamento" (e continua...)
Haja dó: será assim tão difícil reconhecer que com peças destas quem mais depilado fica é o Jornalismo?

Act. em 11.08.2006
A compreensão dos mecanismos da persuasão passa, por isso, pelo reconhecimento da importância que a modificação das atitudes assume na mudança do comportamento. Essa tem sido, pelo menos, a ideia base que tem presidido à generalidade das pesquisas experimentais sobre a persuasão. Mas como dar conta de um tão heterogéneo conjunto de investigações em que sobressaem diferentes e por vezes contraditórias opções em termos de perspectivas teóricas, planos e variáveis do acto persuasivo? Dentro da linha de raciocínio que temos vindo a desenvolver e reconhecendo a centralidade do triângulo argumentativo, de que nos fala Breton (*), no processo de persuasão discursiva, recorreremos ao critério de análise já seguido por Bitti e Zani que é o de considerar o contributo das diferentes pesquisas em função dos três parâmetros presentes em todos os modelos de comunicação na modificação de atitudes: a fonte, a mensagem e o receptor.