30 junho 2006
Vá-se lá saber porquê, agradou-me o facto de só hoje me ter dado conta de que o Retórica e Persuasão já completou 3 anos no passado sábado. Creio, porém, que ainda vou a tempo de agradecer a quem me visita regularmente e, em especial, aos que me interpelam nos seus blogues ou via email (a que sempre respondo). Nos blogues, como na vida, a intervenção do "outro" é tão fundamental que faz todo o sentido perguntar com Vergílio Ferreira: "como imaginar a nossa individualização sem um ‘tu’ que a determine?"
28 junho 2006
A boa educação

Não se conhece ainda a posição do presidente da Fundação, Professor Arnaldo Saraiva (a propósito, porque não foi interpelado pela jornalista do Público?) mas Rui Rio já explicou o que o leva a impor a respectiva cláusula especial: “Se uma entidade recebe apoio financeiro do município, é uma regra de boa educação não denegrir a imagem desse município".
Talvez que Rui Rio tivesse alguma razão se fosse o “dono da quinta” e se estivesse distribuindo o seu próprio dinheiro, sem qualquer outro critério que não fosse o da generosidade social, caso em que seria até mais próprio falar de esmola em vez de subsídio. Mas nem Rui Rio é o “dono da quinta” nem o subsídio em causa vai sair do seu bolso. Logo, a atribuição de um subsídio à Fundação não lhe dá o direito de cercear a liberdade de crítica e de expressão da instituição subsidiada.
O “dinheiro dos subsídios”, sendo de todos, é para ser gerido e aplicado sabiamente, em função dos fins ou efeitos perseguidos (retorno) pelas entidades subsidiadas. Não é para ficar condicionado aos humores ou interesses deste ou daquele governante, muito menos, para calar a crítica e o descontentamento. O subsídio é um apoio financeiro à obra ou actividade que se espera da instituição apoiada, independentemente do juízo político que os responsáveis desta última possam fazer quanto à actividade da Câmara e à acção do seu presidente. Isto, claro está, num registo democrático.
Ao refugiar-se no argumento da boa educação, Rui Rio esquece que a boa regra de educação não é objecto de contrato, nem se impõe por decreto ou cláusula mais ou menos abusiva, tão pouco se “compra” com trinta dinheiros. Boa educação seria, aliás, não interferir na vida interna das instituições subsidiadas, nem limitar a liberdade crítica dos seus responsáveis. Lamentavelmente, foi o que faltou desta vez.
Jornalista pouco compreensivo
Sim, também acho que a nomeação da filha do ex-Presidente da Republica para adjunta do ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Pedro Silva Pereira, não terá passado de uma fantástica coincidência. Nada a ver com o ser filha de quem é, nem pensar. Teve sorte, muita sorte, foi o que foi. Apenas isso. E também concordo que não foi notícia. Notícia seria o ministro (este ou qualquer outro) ter nomeado adjunta a filha de um remediado e anónimo cidadão. Isto digo eu que sou muito compreensivo. O jornalista do Público é que não.
27 junho 2006
Excerto de um livro não anunciado (323)

25 junho 2006
Retórica da imagem
Hoje, ao final da manhã:
XXIII Regata de Barcos Rabelos
Ribeira de Gaia - Ribeira do Porto
Filme fotográfico:
A caminho da Ribeira de Gaia; Aproveitando a maré;
Manhã de neblina; A ponte ali tão perto; A espera; A regata;
Barco rabelo;Os vencedores;
O desfazer da festa;
Hoje à noite
Festejos da vitória de Portugal
Avenida dos Aliados - Porto
24 junho 2006
Cultura local
Resultados do 78.º Concurso de Quadras de S. João do Jornal de Notícias

1.º Prémio:
Eu sou a fonte vadia
Dum S. joão vagabundo
Que mata a sede à folia
Da maior noite do mundo
Eu sou a fonte vadia
Dum S. joão vagabundo
Que mata a sede à folia
Da maior noite do mundo
Resende

2.º Prémio:
Meu balão não é d'espanto!
Não tem vinda, só tem ida
Leva risos, leva pranto
Tudo faz parte da vida
Nana

3.º Prémio:
Com tua mão presa à minha
Fui à fonte e não bebi,
A estranha sede que tinha
Era só sede de ti!
Fingidor
22 junho 2006
Jornalismo de opinião: porque não?
É claro que a rapidez a dar notícias não é um trunfo do jornal. Os jornais têm de apostar na análise, no comentário, na multiplicidade de pontos de vista.
José Vitor Malheiros, Público, 16 Junho 2006
Ou seja, na opinião. Que perigo - dirão os que ainda relacionam a opinião com o reino do vale-tudo, da livre subjectividade, do "foi assim que eu vi" ou do "é o meu ponto de vista". Mas a questão é esta: como pode a opinião (da análise, comentário, crítica, etc.), aspirar à boa aceitação dos leitores se não se cingir à racionalidade de todo o pensar e dizer? Não haverá mais objectividade jornalística numa opinião devidamente justificada do que numa notícia com fonte anónima que retira ao leitor qualquer possibilidade de a confirmar?
José Vitor Malheiros, Público, 16 Junho 2006
Ou seja, na opinião. Que perigo - dirão os que ainda relacionam a opinião com o reino do vale-tudo, da livre subjectividade, do "foi assim que eu vi" ou do "é o meu ponto de vista". Mas a questão é esta: como pode a opinião (da análise, comentário, crítica, etc.), aspirar à boa aceitação dos leitores se não se cingir à racionalidade de todo o pensar e dizer? Não haverá mais objectividade jornalística numa opinião devidamente justificada do que numa notícia com fonte anónima que retira ao leitor qualquer possibilidade de a confirmar?
Ontem em Gaia
Vista da minha janela

A Romaria
O Coreto
Lugares sentados
Já começou
Bom... está ganho. Podemos ir...
21 junho 2006
Olha para o que eu digo
Eu defendo o direito à crítica (...) mas entendo que nas responsabilidades do exercício da opinião no espaço público é demasiado mesquinho usá-lo para ataques meramentes pessoais
Augusto M. Seabra, Público, 17 Junho 2006
Se é Bomba ou não, desconheço, mas em vez de inteligente é ignorante no exemplo
Augusto M. Seabra, Público, 17 Junho 2006
Às vezes parece que dizer mal, atacar, mesmo sem fundamento nem justiça, passou a ser condição de êxito mediático.
José Carlos Vasconcelos, Visão, 15 Junho 2006
Augusto M. Seabra, Público, 17 Junho 2006
Se é Bomba ou não, desconheço, mas em vez de inteligente é ignorante no exemplo
Augusto M. Seabra, Público, 17 Junho 2006
Às vezes parece que dizer mal, atacar, mesmo sem fundamento nem justiça, passou a ser condição de êxito mediático.
José Carlos Vasconcelos, Visão, 15 Junho 2006
20 junho 2006
Excerto de um livro não anunciado (322)

(*) Bitti, P. e Zani, B., (1997), A comunicação como processo social, Lisboa: Editorial Estampa, (2ª. ed.), p. 238
(**) Ibidem
(***) Petty, R. e Cacioppo, J., (1996), Attitudes and Persuasion: Classic and Contemporary Approaches, Oxford: Westview Press, p. XV
19 junho 2006
O maldito vício

Miguel Sousa Tavares, Expresso, 17 Junho 2006
Já fumei. Muito. Muitos cigarros e durante muito tempo. Mais de vinte anos consecutivos. Nunca menos de 40 cigarros por dia. Sei por isso o que é levar o cigarro para o carro, para o gabinete de trabalho, para o café, para o restaurante, para lugares públicos, para lugares privados, para locais fechados, para locais abertos. Sei o que é o desespero de ficar sem cigarros no bolso e não ter uma loja aberta nas redondezas onde os possa comprar. Sei até da melancolia que acompanha aquele último cigarro que se fuma à noite, imediatamente antes de ir para a cama, o último, disse bem, aquele que inexoravelmente irá interromper o ciclo de prazer iniciado pela manhã, logo após o café. Sei, para abreviar, o que é o vício. O maravilhoso/horrível vício de fumar. Só por isso me atrevo também a deixar o meu testemunho. Naturalmente que, como ex-fumador.
Depois de por três vezes ter experimentado deixar de fumar, sempre com sucesso passageiro (pois ao vício acabei por regressar, mais tarde ou mais cedo), percebi o essencial: que na falta do cigarro, o vício é realmente poderoso mas em nenhum caso mais forte do que a vontade. A essa conclusão empírica juntei então uma preciosidade analítica: a ideia de que para acabar com o vício basta não fumar nunca o primeiro cigarro. Parece brincadeira, mas funciona. Aliás, funcionou. Sempre. Claro que as reacções variam de pessoa para pessoa. Mas a menos que eu seja um perfeito anormal (ideia que estou a recusar) o que se passou comigo ocorrerá igualmente com muitos outros. Penso especialmente em todos aqueles que só não fizeram ainda qualquer tentativa de acabar com o tabaco porque receiam as (muito empoladas) dificuldades que regra geral são associadas ao largar do vício.
Volto, por isso, à minha experiência pessoal para dizer que difíceis, difíceis, são os três primeiros dias de abstinência. E, contrariamente ao que se possa pensar, o primeiro nem é dos piores. Os dois seguintes custam um pouco mais. Talvez porque o primeiro dependa mais da vontade, ao passo que o segundo e o terceiro já serão um verdadeiro teste de resistência à "dependência" orgânica. Mas uma coisa é certa: passada a primeira semana sem pegar num cigarro, só volta a fumar quem quer. Foi, pelo menos, a conclusão a que cheguei, de cada uma das vezes. Inclusive, na última, quando depois de uma ampla e exigente reflexão sobre o assunto, decidi que não voltaria a fumar. Foi há cinco anos atrás e continuo tão decidido como na altura. Mais: não sinto qualquer “saudade” do cigarro, nem me incomoda que fumem à minha volta. Quando alguém me pergunta se o seu cigarro me incomoda respondo invariavelmente: “não só não me incomoda como até prefiro que seja você a fumá-lo…”. Um gracejo, claro, mas por sinal, também a mais pura verdade.
Não vejo por isso qualquer razão para o fatalismo com que Miguel Sousa Tavares se refere à sua dependência do tabaco, ao dizer, por exemplo, “ sou ainda fumador e não sei se algum dia me conseguirei libertar deste vício” ou "lamento desesperadamente, que, sendo a liberdade e a independência as minhas condições de vivência e sobrevivência, haja este maldito vício a condicionar-me (...)". Em matéria de deixar de fumar, as coisas são bem menos dramáticas do que uma certa publicidade faz crer e do que igualmente transparece das versões algo fantasistas com que muitos procuram justificar a sua falta de vontade. Fumar ou não fumar é uma decisão pessoal e livre. O que não é possível é deixar de fumar sem querer. Talvez seja até desaconselhável. Daí que se Miguel Sousa Tavares continua a fumar é porque quer. Pode acreditar: no dia em que tomar (a sério) a decisão de acabar com o vício verificará que, afinal, nunca esteve tão “condicionado” pelo cigarro como chegou a pensar.
17 junho 2006
A retórica na advocacia

in Público, 15 Junho 2006
E ainda bem, dirão alguns, pelo menos, no que à retórica respeita. Mas esquecem-se que quando se trata de mostrar o justo e o injusto não chega estar do lado certo. É preciso também promover a melhor compreensão possível dos factos ou acontecimentos, dos interesses, do contexto e do isto e aquilo que faz a singularidade da situação particular. Não, não basta ter a razão do nosso lado. É ainda necessário persuadir quem nos escuta (ou quem nos lê) sobre a bondade do nosso ponto de vista. E precisamente porque a opinião dos outros conta, é que vale a pena investir no melhor argumento e na arte de o compor e bem dizer. É esse o contributo que a retórica pode dar a uma advocacia que, para além do seu estrito domínio técnico e previsível, ouse perseguir a afirmação de uma ideia de justiça.
16 junho 2006
Volto a repetir?
Volto a repetir - dizia o locutor da TSF, hoje, pouco antes das 11 h, quando o que realmente pretendia era voltar a dizer (ou repetir) uma frase que pronunciara, pela primeira vez, momentos antes. Mas como pode alguém voltar a repetir o que ainda não repetiu? Quem não se repete sou eu. Nem volto a repetir.
15 junho 2006
O senhor dos passos

10 passos atrás - segundo Costinha
20 passos atrás - segundo Figo
E ainda só foram inquiridos dois dos jogadores em quem Scolari mais "apostou". Pela mesma lógica, um terceiro dirá, muito provavelmente, que serão 40 passos atrás. Confirma-se. Scolari é um senhor. Neste caso, o senhor dos passos.
14 junho 2006
Excerto de um livro não anunciado (321)

(*) Cit. in M. L. De Fleur e S. J. Ball-Rokeach, (1993), Teorías de la comunicación de masas, Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, S. A., p. 352
12 junho 2006
Retórica do link
Ainda os Parabéns a Francisco Viegas: não me apetece ficar aqui a patrulhar a intenção última deste ou daquele link. Cada um que responda por si. Quem está de fora, tanto pode considerar a hipótese da pura cortesia como de uma premeditada jogada em benefício próprio. Daí a inferir e afirmar uma ou outra vai, porém, grande distância. Não será, por exemplo, um pouco estranho que quem diz saber que "Uns links do Francisco fazem mexer o Sitemeter" tenha começado precisamente por linkar o blogue "do Francisco"? Pois é. Mas nem isso autoriza a afirmar que o faz só para "mexer no Sitemeter". Mesmo que seja verdade.
11 junho 2006
Excerto de um livro não anunciado (320)

10 junho 2006
Retórica à mesa
O "Forno da Mimi" é o nome do restaurante de Viseu onde jantei ontem, no regresso de mais uma das minhas idas à Covilhã. Entrei na sala com aquela apreensão de uma primeira vez, mas rapidamente fiquei à vontade. Ambiente acolhedor, atendimento simpático, menu a condizer. O cabrito assado no forno a lenha, foi eleito à primeira volta. Ainda fiz a pergunta mais estúpida que se pode fazer num restaurante: "o cabrito está bom?". Que sim, que estava, que os clientes apreciam muito esse prato, blá, blá blá. Disfarçadamente, olhei as mesas mais próximas. Fiquei animado. Parecia tudo gente habituada a comer bem. Como será, por certo, o caso do Bastonário da Ordem dos Economistas, Dr. Murteira Nabo, que era quem se encontrava mais perto de mim.
Bom, não reparei no que o Sr. Bastonário comeu. Só lhe desejo melhor sorte do que a que tive. Nunca irei perceber as razões que levam um restaurante da gama média-alta a servir comida aquecida ao jantar (presumivelmente cozinhada ao almoço), fazendo-a passar por feita na hora. Tratando-se de prática de duvidosa aceitação, o mínimo que um restaurante de boa fé tem que fazer é anunciá-la ao seu cliente. Por maior que seja o risco de lhe desagradar, tudo é preferível ao engano que, uma vez detectado, custa muito a engolir. Além de que, regra geral, só enganará uma vez. Para mim, por exemplo, voltar ao restaurante "Forno da Mimi", de Viseu, é uma hipótese completamente posta de lado. Mau demais, para repetir. Uma grande decepção, quando comparado com o excelente "Restaurante Santa Luzia" que fica ali mesmo ao lado e que ontem, para meu azar, estava encerrado por motivo de férias. É bem verdade que um mal nunca vem só...
Bom, não reparei no que o Sr. Bastonário comeu. Só lhe desejo melhor sorte do que a que tive. Nunca irei perceber as razões que levam um restaurante da gama média-alta a servir comida aquecida ao jantar (presumivelmente cozinhada ao almoço), fazendo-a passar por feita na hora. Tratando-se de prática de duvidosa aceitação, o mínimo que um restaurante de boa fé tem que fazer é anunciá-la ao seu cliente. Por maior que seja o risco de lhe desagradar, tudo é preferível ao engano que, uma vez detectado, custa muito a engolir. Além de que, regra geral, só enganará uma vez. Para mim, por exemplo, voltar ao restaurante "Forno da Mimi", de Viseu, é uma hipótese completamente posta de lado. Mau demais, para repetir. Uma grande decepção, quando comparado com o excelente "Restaurante Santa Luzia" que fica ali mesmo ao lado e que ontem, para meu azar, estava encerrado por motivo de férias. É bem verdade que um mal nunca vem só...
08 junho 2006
06 junho 2006
Pior, muito pior
Saramago, a propósito do polémico Plano de Leitura:
"Mal vão as coisas quando é preciso estimular"
Não sei porquê. Pior, muito pior, é quando já nem o estímulo resulta...
"Mal vão as coisas quando é preciso estimular"
Não sei porquê. Pior, muito pior, é quando já nem o estímulo resulta...
05 junho 2006
Excerto de um livro não anunciado (319)

04 junho 2006
Primeiro-Ministro "desmente" Vital Moreira

Vital Moreira:
Não está evidentemente em causa a legitimidade constitucional do veto presidencial (…). Mas o tema do diploma vetado e as razões do veto mostram uma evidente clivagem entre Belém e a maioria parlamentar (…). Só os distraídos é que podiam pressupor candidamente uma convergência entre as posições de Cavaco Silva e as do PS (…). Afinal, não basta a "boa fé e a inteligência" para apagar conflitos entre Belém e São Bento (…)
(in Causa Nossa)
Primeiro-Ministro:
1. Lendo, com atenção, a mensagem do Senhor Presidente da República, saliento em primeiro lugar, com agrado, que o Senhor Presidente da República comunga das nossas preocupações (…) Este é o ponto que considero determinante.
2. O Senhor Presidente da República considera, todavia, excessiva a sanção de rejeição das candidaturas que não preencham os requisitos de paridade exigidos pela lei. Essa é uma questão instrumental que, não pondo em causa o objectivo central da Lei da Paridade, vem, na mensagem do Senhor Presidente da República, apoiada em argumentos que merecem a melhor atenção.
(Público, 03 Junho 2006)
Em que ficamos afinal?
Das razões invocadas no veto, deduz Vital Moreira que há uma evidente clivagem entre Belém e a maioria parlamentar. Vai daí, mostra-se muito preocupado com a actual falta de meios para “apagar” conflitos entre Belém e S. Bento (ao mesmo tempo que os continua a “atear”). Já o Primeiro-Ministro, depois de ler com atenção a mensagem, afirma: “o Senhor Presidente da República comunga das nossas preocupações” e “Este é o ponto que considero determinante”. Diz ainda que a recusa por parte do Presidente da República da sanção de rejeição das candidaturas vem “apoiada em argumentos que merecem a melhor atenção”.
Perante isto, que indescortinadas razões levarão Vital Moreira a querer ser mais papista do que o papa? Conhecerá melhor o rumo do Governo do que o próprio Primeiro-Ministro? Estará convencido que este só não vê a aludida clivagem porque anda distraído? Não se sabe. O que se sabe é que as declarações do Primeiro-Ministro vieram desmentí-lo, em toda a linha. E vai-se ficando a saber também que a notável erudição de Vital Moreira, nem sempre leva a melhor face às suas naturais inclinações ideológico-partidárias. Repare-se, por exemplo, nesta afirmação que faz no seu post e onde lhe "terá fugido a boca para a verdade":
Só os distraídos é que podiam pressupor candidamente uma convergência entre as posições de Cavaco Silva e as do PS”
“E as do PS”? Mas desde quando é que um Presidente da República deve convergir com um partido? - Por aqui se vê como a eleição de Cavaco foi, além do mais, uma forma de garantir a não partidarização da Presidência da República.
Nota: Bolds meus.
O falso directo radiofónico

Já nem me refiro àqueles casos em que o locutor que está a apresentar o noticiário chega ao destempero de saudar o dito correspondente como se ele estivesse, de facto, do outro lado da linha: "boa tarde fulano de tal. Diz-nos... o que é que conseguiste apurar até ao momento?" E tumba: cai-nos a gravação em cima.
É claro que quando o ouvinte leva com essa mesma peça em dois noticiários seguidos, não tem qualquer dificuldade em descobrir a tramóia. Mas em muitos casos, a coisa é feita com tanta "arte", que leva mesmo ao engano. Fica, por isso, a pergunta: haverá algum ouvinte que mereça um jornalismo radiofónico destes? Tem a palavra o Especialista.
03 junho 2006
A ultrapassada ministra da Cultura
A ministra da Cultura não mostrou particular agrado com a ideia, recentemente avançada pelo autarca Luís Filipe Menezes, de transferir para Gaia a Feira do Livro do Porto. "Não vejo que haja alguma vantagem de a feira do livro passar a ser em Gaia", disse ao JN. Ressalvando que o assunto a ultrapassa, a ministra sublinhou que a decisão caberá sempre à Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.
Pela boca morre o peixe, diz o ditado. É, por isso, suficiente ler o que vão dizendo alguns dos nossos ministros para perceber a sua impreparação (para não dizer outra coisa). A ministra da Cultura, por exemplo, vem agora afirmar, ao mesmo tempo, que "o assunto a ultrapassa" mas que não vê "alguma vantagem de a feira do livro passar para Gaia". Cabe perguntar:
1) se o assunto a ultrapassa porque não ficou calada?
2) Estará a sr.ª ministra satisfeita com a falta de condições do exíguo e asfixiante local onde a feira tem decorrido nos últimos anos?
3) Se ainda não são conhecidos os detalhes da proposta do presidente da Câmara de Gaia, como é que a sr.ª ministra já sabe que não haverá "alguma vantagem de a feira do livro passar a ser em Gaia"?
Evidentemente que não ponho a hipótese da sr.ª ministra ter mandado o "recado" à Associação Portuguesa de Editores e Livreiros com o propósito de a influenciar na decisão final. Mas não faltará quem o faça.
Pela boca morre o peixe, diz o ditado. É, por isso, suficiente ler o que vão dizendo alguns dos nossos ministros para perceber a sua impreparação (para não dizer outra coisa). A ministra da Cultura, por exemplo, vem agora afirmar, ao mesmo tempo, que "o assunto a ultrapassa" mas que não vê "alguma vantagem de a feira do livro passar para Gaia". Cabe perguntar:
1) se o assunto a ultrapassa porque não ficou calada?
2) Estará a sr.ª ministra satisfeita com a falta de condições do exíguo e asfixiante local onde a feira tem decorrido nos últimos anos?
3) Se ainda não são conhecidos os detalhes da proposta do presidente da Câmara de Gaia, como é que a sr.ª ministra já sabe que não haverá "alguma vantagem de a feira do livro passar a ser em Gaia"?
Evidentemente que não ponho a hipótese da sr.ª ministra ter mandado o "recado" à Associação Portuguesa de Editores e Livreiros com o propósito de a influenciar na decisão final. Mas não faltará quem o faça.
Os jornalistas e os assessores de imprensa
vistos por Eugénio Bucci, jornalista, presidente da Radiobrás e autor de Sobre ética e imprensa (Companhia das Letras, São Paulo, 2000):
"jornalistas trabalham para ir atrás das respostas a que o público tem direito, fazendo as perguntas mais incômodas; assessores trabalham para divulgar as respostas que seus clientes ou patrões querem ver disseminadas".
Assim seja.
"jornalistas trabalham para ir atrás das respostas a que o público tem direito, fazendo as perguntas mais incômodas; assessores trabalham para divulgar as respostas que seus clientes ou patrões querem ver disseminadas".
Assim seja.
01 junho 2006
Excerto de um livro não anunciado (318)

Parece que foi hoje
Nessa mesma conferência, observei novamente um dos horrores maiores da sociedade contemporânea: os telemóveis! São às centenas. Tocam sem parar. Nos corredores, nas escadas, na sala de conferências, nas galerias, no bar, no restaurante, em qualquer sítio, não faltam maluquinhos pendurados em aparelhos cada vez mais pequenos, com ar de quem dá ordens de compra para a Bolsa de Tóquio (...)
António Barreto, Público, 14 Abril 1996
Decididamente, há palavras que parecem resistir ao tempo.
António Barreto, Público, 14 Abril 1996
Decididamente, há palavras que parecem resistir ao tempo.