29 abril 2006
28 abril 2006
Assertividade ministerial
Os portugueses vão ter vergonha de fugir ao fisco.
Teixeira dos Santos, Vida Económica, 28 Abril 2006
Talvez não. Não acredito que Portugal seja um país de envergonhados.
Teixeira dos Santos, Vida Económica, 28 Abril 2006
Talvez não. Não acredito que Portugal seja um país de envergonhados.
27 abril 2006
Excerto de um livro não anunciado (308)

(*) Chaim Perelman, (1993), O império retórico, Porto: Edições ASA, p. 21
26 abril 2006
A vergonha do enriquecimento fácil

Impressão radiofónica

25 abril 2006
A carruagem anti-assédio

Ah...como me arrependo da cara de parvo que fiz nos Emirados Árabes Unidos, há cerca de 3 anos, quando por lá descobri uma praia só para mulheres (em Abu Dhabi). Porque reconheço hoje algum pioneirismo naquilo que, na altura, me surgiu como ultrapassado expediente discriminatório. Afinal, só três anos depois é que o Brasil resolveu isolar as mulheres dentro de uma carruagem de comboio. Será que também vão fazer o mesmo com a praia? Já não sei de nada. Faço até figas para que não acabem também com a escola mista. Ó tempo volta p'ra trás...
Excerto de um livro não anunciado (307)

24 abril 2006
Epistemologia jornalística
Disponibilizo aqui o texto integral da comunicação que levei ao VII Congresso Lusófono de Ciências da Comunicação, em Santiago de Compostela. Mas para quem queira apenas, ou antes de mais, ficar com uma ideia geral do que lá se trata, o melhor ainda será ler a breve apresentação que dela fiz no próprio evento:
A minha comunicação corresponde, em síntese, a uma reiterada afirmação do primado da objectividade jornalística e dos valores de isenção e rigor que lhe andam associados.
Trata-se aqui, naturalmente, da objectividade possível e não de uma objectividade absoluta, que é, como se sabe, inacessível aos humanos. Mas como digo no meu texto, o facto da própria ciência não ascender a verdades absolutas não lhe retira objectividade. Com as devidas diferenças, assim será também no jornalismo.
Não parece, contudo, ser este o pensamento dominante no actual campo jornalístico português, tantos são os que contestam os valores de isenção e de rigor no jornalismo, ainda que estes continuem a figurar como deveres básicos nos códigos deontológicos que regem a actividade.
Fui à procura de declarações de jornalistas portugueses que se posicionam num certo “subjectivismo jornalístico” e encontrei três grandes tipos de argumentos:
O argumento mitológico - a objectividade é apenas um mito criado para o jornalismo aparentar uma competência que não tem.
O argumento perspectívico - não há objectividade, porque os jornalistas olham para realidade a partir de uma determinada perspectiva (que pode não ser a dos outros).
E o argumento limitativo - a objectividade é impossível devido às limitações do próprio jornalista (percepção, influência do seu sistema de valores, particular relação com o mundo, etc.).
São estes três principais argumentos que procuro desqualificar no meu texto, ao mesmo tempo que chamo a atenção para o perigo de poderem funcionar como verdadeira almofada teórica para justificar todos os excessos, desde logo, o da recusa de qualquer pretensão de objectividade jornalística.
É que num jornalismo sem objectividade, sem imparcialidade, sem isenção e rigor o jornalista poderia passar a dizer o que lhe viesse à cabeça, escrever sobre assuntos da sua exclusiva preferência ou interesse pessoal, cingir-se à realidade ou misturar ficção. Seria indiferente. Porque o leitor não teria nada a ver com isso. A voz de comando seria a de um critério jornalístico verdadeiramente à solta e sempre sujeito às mais subjectivas invocações.
Ora o mínimo que se pode dizer deste subjectivismo é que é perfeitamente absurdo. Porque se do ponto de vista de uma vida partilhada, a reacção do outro fosse completamente imprevisível, a própria vivência comunitária estaria em risco. E não está. Pelo menos, por esse motivo.
Se o verdadeiro ou o falso, o certo ou incerto, o bom ou o mau dependessem apenas da subjectividade de cada um, como conseguiriam os homens comunicar entre si? O caso extremo das preferências pessoais é talvez o mais elucidativo. Elas são evidentemente subjectivas, naquele sentido banal de que se reportam a sujeitos. Mas já não cognitivamente subjectivas, porque podem ser justificadas, podem ser compreendidas. Não valem todas a mesma coisa, não são igualmente aceitáveis, não são aleatórias.
Uma pessoa pode gostar de fumar, e outra, não. Provavelmente, uma valoriza mais o prazer e a descontracção que o fumo lhe proporciona, do que o mal que lhe faz à saúde e que não ignora. A outra, o inverso. Mas a decisão ou comportamento de cada uma, tem uma explicação objectiva. Não é tudo subjectivo, não é tudo aleatório, não é tudo irracional.
Acresce que se tudo fosse muito subjectivo, a própria afirmação de que tudo é muito subjectivo seria também ela muito subjectiva, auto-refutante, logo, racionalmente inoponível a quem dela discordasse, já que a partir daí deixaria de haver qualquer razão ou fundamento para se poder considerar uma afirmação, qualquer afirmação, como melhor ou pior do que outra. E é para este beco sem saída que a recusa da objectividade acaba por nos lançar.
Por aqui se vê como o subjectivismo jornalístico assenta numa ideia tão errada como prejudicial. Num tempo em que, pela perversão mediática das tiragens ou das audiências, o jornalismo está sujeito a uma cada vez maior descaracterização, que estranha razão poderia levar o leitor a passar um cheque em branco a um jornalista que não respeitasse o princípio da objectividade, quando, precisamente por isso, a maior vigilância crítica o deveria submeter?
A recusa da objectividade jornalística não atenta, por isso, apenas contra os direitos do leitor mas também contra a sua boa-fé. E isso, convenhamos, não é coisa que se faça.
A minha comunicação corresponde, em síntese, a uma reiterada afirmação do primado da objectividade jornalística e dos valores de isenção e rigor que lhe andam associados.
Trata-se aqui, naturalmente, da objectividade possível e não de uma objectividade absoluta, que é, como se sabe, inacessível aos humanos. Mas como digo no meu texto, o facto da própria ciência não ascender a verdades absolutas não lhe retira objectividade. Com as devidas diferenças, assim será também no jornalismo.
Não parece, contudo, ser este o pensamento dominante no actual campo jornalístico português, tantos são os que contestam os valores de isenção e de rigor no jornalismo, ainda que estes continuem a figurar como deveres básicos nos códigos deontológicos que regem a actividade.
Fui à procura de declarações de jornalistas portugueses que se posicionam num certo “subjectivismo jornalístico” e encontrei três grandes tipos de argumentos:
O argumento mitológico - a objectividade é apenas um mito criado para o jornalismo aparentar uma competência que não tem.
O argumento perspectívico - não há objectividade, porque os jornalistas olham para realidade a partir de uma determinada perspectiva (que pode não ser a dos outros).
E o argumento limitativo - a objectividade é impossível devido às limitações do próprio jornalista (percepção, influência do seu sistema de valores, particular relação com o mundo, etc.).
São estes três principais argumentos que procuro desqualificar no meu texto, ao mesmo tempo que chamo a atenção para o perigo de poderem funcionar como verdadeira almofada teórica para justificar todos os excessos, desde logo, o da recusa de qualquer pretensão de objectividade jornalística.
É que num jornalismo sem objectividade, sem imparcialidade, sem isenção e rigor o jornalista poderia passar a dizer o que lhe viesse à cabeça, escrever sobre assuntos da sua exclusiva preferência ou interesse pessoal, cingir-se à realidade ou misturar ficção. Seria indiferente. Porque o leitor não teria nada a ver com isso. A voz de comando seria a de um critério jornalístico verdadeiramente à solta e sempre sujeito às mais subjectivas invocações.
Ora o mínimo que se pode dizer deste subjectivismo é que é perfeitamente absurdo. Porque se do ponto de vista de uma vida partilhada, a reacção do outro fosse completamente imprevisível, a própria vivência comunitária estaria em risco. E não está. Pelo menos, por esse motivo.
Se o verdadeiro ou o falso, o certo ou incerto, o bom ou o mau dependessem apenas da subjectividade de cada um, como conseguiriam os homens comunicar entre si? O caso extremo das preferências pessoais é talvez o mais elucidativo. Elas são evidentemente subjectivas, naquele sentido banal de que se reportam a sujeitos. Mas já não cognitivamente subjectivas, porque podem ser justificadas, podem ser compreendidas. Não valem todas a mesma coisa, não são igualmente aceitáveis, não são aleatórias.
Uma pessoa pode gostar de fumar, e outra, não. Provavelmente, uma valoriza mais o prazer e a descontracção que o fumo lhe proporciona, do que o mal que lhe faz à saúde e que não ignora. A outra, o inverso. Mas a decisão ou comportamento de cada uma, tem uma explicação objectiva. Não é tudo subjectivo, não é tudo aleatório, não é tudo irracional.
Acresce que se tudo fosse muito subjectivo, a própria afirmação de que tudo é muito subjectivo seria também ela muito subjectiva, auto-refutante, logo, racionalmente inoponível a quem dela discordasse, já que a partir daí deixaria de haver qualquer razão ou fundamento para se poder considerar uma afirmação, qualquer afirmação, como melhor ou pior do que outra. E é para este beco sem saída que a recusa da objectividade acaba por nos lançar.
Por aqui se vê como o subjectivismo jornalístico assenta numa ideia tão errada como prejudicial. Num tempo em que, pela perversão mediática das tiragens ou das audiências, o jornalismo está sujeito a uma cada vez maior descaracterização, que estranha razão poderia levar o leitor a passar um cheque em branco a um jornalista que não respeitasse o princípio da objectividade, quando, precisamente por isso, a maior vigilância crítica o deveria submeter?
A recusa da objectividade jornalística não atenta, por isso, apenas contra os direitos do leitor mas também contra a sua boa-fé. E isso, convenhamos, não é coisa que se faça.
23 abril 2006
Troca de palavras

Até onde pode levar uma simples troca de palavras entre o médico e a enfermeira? Leia isto e diga lá se não é caso para dizer: ou é anedota ou é coisa de doidos...
Ciências da Comunicação em Santiago de Compostela

Apesar de só ter podido estar presente no último dia e de ter permanecido quase sempre no interior da "Aula 4" - a sala onde apresentei a minha comunicação - fiquei com a ideia de que tudo correu pelo melhor, dentro dos condicionalismos a que um evento desta grandeza sempre está sujeito.
Como ponto menos positivo (mas não exclusivo desta edição do congresso) registe-se a escassez de tempo para cada investigador apresentar o seu trabalho e, principalmente, para o sujeitar à devida discussão. Dizia um conhecido colega da Universidade de Aveiro, já no final das sessões temáticas, que é chegada a hora de se reformular este modelo de congresso e de lhe conferir maior dimensão crítica, provavelmente, com o recurso mais intensivo às novas tecnologias. Assino por baixo.
Se é já uma rotina editar as actas de congresso em CD e distribuí-lo aos participantes logo na abertura do congresso, já agora, porque não enviá-las, via e-mail, com alguns dias de antecedência (pelo menos as respeitantes a cada mesa temática)? Desse modo, ao entrar na sala, cada investigador já conheceria as comunicações dos restantes colegas e, por isso mesmo, já se encontraria também apto à sua discussão sem ter que ficar horas a fio remetido à mais completa passividade para receber uma informação que já lhe poderia ter sido anteriormente transmitida, de forma muito mais cómoda e atraente. O congresso, esse resultaria menos descritivo e muito mais crítico, como convém à evolução do conhecimento científico. Fica a sugestão.
Como ponto mais positivo, a extraordinária adesão de investigadores/pesquisadores do mundo lusófono, com destaque para a excelente representação dos colegas brasileiros, sempre muito bem-vindos e a oportunidade, durante o cocktail final, de uma maior aproximação pessoal entre os participantes oriundos das diversas universidades e centros de investigação. Mas concerteza que a maior valia deste congresso só as actas a espelharão enquanto registo definitivo do labor científico de cada participante. Por isso se dirá que o CD onde foram cuidadosamente gravadas, passará a funcionar, para todos os efeitos, como um autêntico congresso virtual permanente.
Está de parabéns o Comité Organizador na pessoa da sua prestigiada coordenadora, Margarita Ledo Andión.
20 abril 2006
Excerto de um livro não anunciado (306)

(*) Philipe Breton, A argumentação na comunicação, Lisboa: Publicações D. Quixote, 1998, p. 13
(**) Idem
19 abril 2006
Problema da morte ou problema da vida?
Na entrevista concedida à revista Pública, n.º 516, de 16 Abril 2006:
(O problema da morte é um falso problema?)
Sim e esconde o âmago da questão: o amor. Quem ama Cristo segue-lhe incondicionalmente os passos, como única meta existencial. O homem que ama uma mulher salta por cima de tudo, joga fora grandes valores em favor da amada. Não é justo nem injusto. É superior.
J. Pinto da Costa
Catedrático de Medicina Legal e Ex-Director do Instituto de Medicina Legal do Porto
(O problema da morte é um falso problema?)
Sim e esconde o âmago da questão: o amor. Quem ama Cristo segue-lhe incondicionalmente os passos, como única meta existencial. O homem que ama uma mulher salta por cima de tudo, joga fora grandes valores em favor da amada. Não é justo nem injusto. É superior.
J. Pinto da Costa
Catedrático de Medicina Legal e Ex-Director do Instituto de Medicina Legal do Porto
18 abril 2006
Para que serve uma oposição?
Marques Mendes (PSD) e José Ribeiro e Castro (CDS-PP), “não estão a fazer uma oposição que possa levar a uma substituição do Governo”, diz Vasco Rato.
Bom. Que não estão a fazer oposição, até se percebe. Mas será que a responsabilidade primeira da oposição é a de substituir o Governo? Então e os tão apregoados superiores interesses do país? Não deveria esta (ou qualquer outra) oposição, antes de mais, levar o Governo a governar melhor?
Bom. Que não estão a fazer oposição, até se percebe. Mas será que a responsabilidade primeira da oposição é a de substituir o Governo? Então e os tão apregoados superiores interesses do país? Não deveria esta (ou qualquer outra) oposição, antes de mais, levar o Governo a governar melhor?
17 abril 2006
Pode o jornalismo ser isento e rigoroso?

16 abril 2006
Excerto de um livro não anunciado (305)

(*) Lionel Bellenger, (1996), La Persuasion, Paris: Presses Universitaires de France, p. 8
Cara a cara
Teve lugar, na China, o segundo transplante facial em todo o mundo. A foto é impressionante. E operações cara a cara, como esta, irão por certo tornar-se agora mais frequentes, para não dizer banais. O rosto perderá então a sua identidade original, passando a responder por outro nome, por outra forma de pensar e sentir, por outra maneira de ser. É ainda muito cedo para se ter uma ideia clara sobre o questionamento ético, filosófico, político, jurídico e social que esta nova tecnologia médica irá suscitar. Mas talvez seja melhor ir pensando nisso, porque, como já escrevi aqui e ali, o mundo não será mais o mesmo.
14 abril 2006
Valha-nos S. Bento
(Do Estatuto dos Deputados)
Artigo 14.º
Deveres dos Deputados
Capítulo III
Artigo 14.º
Deveres dos Deputados
- Constituem deveres dos Deputados:
a) Participar nos trabalhos parlamentares e designadamente comparecer às reuniões do Plenário e às das comissões a que pertençam;
b) Desempenhar os cargos na Assembleia e as funções para que sejam eleitos ou designados, sob proposta dos respectivos grupos parlamentares;
c) Participar nas votações;
d) Assegurar o indispensável contacto com os eleitores. - O exercício de quaisquer outras actividades, quando legalmente admissível, não pode pôr em causa o regular cumprimento dos deveres previstos no número anterior.
A gente lê este Estatuto dos Deputados e até fica com pena. Coitados: tantos deveres, tantas ocupações, tantas responsabilidades. Afinal, é tudo treta. Bendito seja o "apagão" na votação da passada 4.ª feira na Assembleia da República que nos veio abrir os olhos: os coitados somos nós que continuamos a sustentar representantes deste calibre. Uma vergonha. Valha-nos, S. Bento.
Excerto de um livro não anunciado (304)

(*) Murilo César Soares, "Retórica e Política", in Revista Comunicação & Política, Rio de Janeiro: Centro de Estudos Superiores Latino-Americanos, 1996, vol. III, nº. 2, nova série, Maio-Agosto.
(**) Michel Meyer, (1998), Questões de retórica: linguagem, razão e sedução, Lisboa: Edições 70, Ldª., p. 26
13 abril 2006
Prioridades animalescas

Um blogue de referência
Na pessoa do Prof. Manuel Pinto, parabéns ao Jornalismo e Comunicação por ter completado 4 anos na blogosfera, com a novidade, a competência e o brilho que todos lhe reconhecem.
A notar: o bom gosto do Luis Santos, responsável pelo novo grafismo.
A notar: o bom gosto do Luis Santos, responsável pelo novo grafismo.
Por onde andaste?

Andei por aqui. Por este sossego. Ora caminhando pelo passadiço, de livro ao colo, ora sentado naquele banco virado para o mar, lendo. E a cada voltar de página um novo olhar sobre o horizonte que ao livro parecia disputar minha atenção. Incapaz de optar, entreguei-me aos dois. E passei a "ler" tudo à minha volta. Foi aí que a paisagem se fez texto.
09 abril 2006
Pedro Mexia, o Sexo e a Cidália

Quem valoriza excessivamente a literatura como documento manifesta mais interesse pelo mundo do que pela literatura - sentencia Pedro Mexia, na revista NS, do JN. A (sua) ideia é a de que, na literatura, a correspondência da escrita com a realidade ou com o vivido, é apenas um caminho possível já que muita da grande literatura nasceu da imaginação ou da fantasia. E, lembra, a propósito, que muitos escritores, nomeadamente dos géneros mais radicais, não viveram nada do que escreveram. Sade, por exemplo, terá sido razoavelmente libertino, mas nada que se compare aos infernos sexuais que deixou associados ao seu nome.
Foi com este sugestivo exemplo ainda na memória que meia dúzia de páginas à frente me detive naquela croniqueta semanal “O Sexo e a Cidália”, onde anónima autora (ou autor, sabe-se lá…) nos vem apresentado o repertório das suas mais ou menos atribuladas “vivências” sexuais. Num estilo muito “terra-a-terra”, como convém, aí temos o relato de peripécias, devaneios e gozos vários, uma espécie de blogue íntimo no qual podemos espreitar as mil e uma experiências sexuais ou para-sexuais da sua autora (sem grandes excessos de linguagem, já se vê). Esta semana conta-nos que foi jantar com mais um sujeito – “um amigo de uma amiga” - e que, findo o repasto, os dois já bem bebidos, rumaram a casa dela. É aqui que reencontramos a “escritora” Cidália no seu melhor:
Sobe, disse-lhe eu. E ele de mãos nos bolsos de trás dos jeans, sorriu como se lhe tivesse dado uma guloseima.
Nunca saberemos para onde é que a Cidália queria que o desgraçado subisse nem quais as suas reais intenções. Mas também não importa porque, entretanto, a crónica chegou ao fim. O que parece interessante realçar é que, na linha do que Mexia defende, as pessoas não têm que limitar a sua escrita ao que conhecem e muito menos ao que vivem. A realidade é o que é e, como tal, não pode escapar à literatura. Mas esta ocupa-se também da realidade que já foi, assim como da que não é mas poderia ter sido e até da que ainda poderá vir a ser. Literatura (com L grande ou l pequeno, dá no mesmo) carece sempre de uma certa dose de fantasia. Daí que as mais loucas aventuras da Cidália possam muito bem não passar de puro exercício de imaginação. Desde logo porque a escrita não tem que ser o espelho da experiência. Mas, sobretudo porque, como diz Mexia, Escrever é uma modalidade de viagem, e é natural que queiramos viajar por sítios onde nunca fomos. Ora aí está: não sei porquê mas palpita-me que é esse o caso da Cidália…
07 abril 2006
Estudos de retórica

Sob o nosso enunciado geral, cabem contribuições muito diversificadas e, frequentemente, nos limites em que fazem a retórica confinar com a linguística, a teoria literária, a filosofia, o politico, ou que a interrogam nalgumas das suas aplicações, como é o caso da publicidade, ou
das suas interpelações, como se dá o caso com a de hipertexto.
Em suma, as contribuições que hoje aqui podemos ler acabam sempre ou lidar de maneira mais próxima e explícita ou, pelo contrario, de modo mais periférico ou implícito, com a disciplina retórica cuja centralidade se tem vindo a intensificar no modo de pensar contemporâneo.
Isso acontecerá, sem dúvida, por obra de diferentes factores. Desde logo pela sua inextricável relação à problemática da linguagem, uma vez que a põe em acção pela finalidade persuasiva, mas também, e de algum modo daí decorrente, pelo papel que a sua dimensão desempenha no acto comunicativo.
Comunicação. Social ou interpessoal, é certamente hoje um processo que levanta no seu cerne a questão retórica por excelência e que é aí incontornável. Por questão retórica entender-se-á toda a interrogação sobre a possibilidade de moção ou co-moção no espírito do outro. O reconhecimento do problema da consciência é, por exemplo, um dos pressupostos da abordagem da referida problemática.
Estas são contribuições para a progressão de um trabalho em curso. A sua diversidade é também índice da complexidade das questões, mas, de qualquer modo, espera-se que daqui resultem expectativas para futuros desenvolvimentos nesta área da discursividade humana.
Tito Cardoso e Cunha
05 abril 2006
Excerto de um livro não anunciado (303)

(*) Chaim Perelman, (1997), Retóricas, S. Paulo: Martins Fontes, p. 59
(**) Ibidem
Eventual aniversário
Parabéns especiais para o David Afonso e o Pedro Cardoso pelo aniversário do "eleito" Dolo Eventual.
04 abril 2006
Dialéctica do esclarecimento
Lê-se na caixa de comentários do Acidental:
Caríssimo PPM.
Define-me direita, para perceber se sou.
PPM said ... (8:43 PM) :
JCD, não me parece que precise de definir o que é ser de direita, ou preciso mesmo? Comecemos pelo óbvio: é não ser de esquerda.
De onde se conclui que ser de esquerda é... não ser de direita. Nunca pensei que a resposta fosse tão fácil. Nem tão esclarecedora...
jcd said ... (7:03 PM) :
Caríssimo PPM.
Define-me direita, para perceber se sou.
PPM said ... (8:43 PM) :
JCD, não me parece que precise de definir o que é ser de direita, ou preciso mesmo? Comecemos pelo óbvio: é não ser de esquerda.
De onde se conclui que ser de esquerda é... não ser de direita. Nunca pensei que a resposta fosse tão fácil. Nem tão esclarecedora...
Excerto de um livro não anunciado (302)

(*) Pedro Miguel Frade, "Comunicação", in Carrilho, M. (Org.), (1991), Dicionário do Pensamento Contemporâneo, Lisboa: Publicações D. Quixote, p. 52
Folhetim da PJ (3)

03 abril 2006
Folhetim da PJ (2)

"a adopção e exposição pública por parte de uma entidade dele dependente de posições tendentes a condicionar a liberdade do executivo punham em causa a relação de confiança necessária entre tutela e dirigente"
Mas que diabo: será assim tão difícil de aceitar que os responsáveis de um organismo público devem, por respeito e lealdade ao Governo de quem dependem, fazer chegar a sua reclamação de forma discreta e pelos canais que lhes são próprios? Que outro fim poderia ter este folhetim? Não foi a pública ameaça de demissão por parte dos directores da PJ uma ostensiva escolha pela via do confronto?
A divisionite ideológico-espacial

O PS que se cuide. Ou muito me engano ou mais uma reunião destas e os seus deputados ainda vão ter que se sentar à direita dos do CDS-PP.
02 abril 2006
Culpa dos jornalistas?

E tem toda a razão: os jornalistas foram muito mais contidos com Cavaco do que, por sistema, eram com Sampaio. Mas porque não lhe ocorreu que nisso pudesse haver mais mérito do novo Presidente do que demérito dos Jornalistas? Não será que cada Presidente tem aquilo que merece (ou com que pactua)?
Pelo buraco da fechadura

01 abril 2006
A desaustinada saga de Freitas

Excerto de um livro não anunciado (301)
